São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2000

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RELÂMPAGOS
Aurora de risco

JOÃO GILBERTO NOLL

Se dependesse de sua vontade não parava mais, firme pela estrada de terra. Ia extraindo os passos de um vazamento de energia, ou que nome tivesse a coisa que a levava a saltar da cama a cada despertar com ímpeto extravagante, mesmo que precisasse então drenar duramente toda a profusão para a sequência sem fim. Era o seu estado agora, essa marcha reta ao amanhecer pela estrada de terra -com outras crianças rumo àquela escola de goteira abrindo valas em ouvidos frios. Passando a língua na rachadura do lábio, olhava o atraso do irmão menor. "Moleque", ela esbravejou, e não parou mais de trotar, até se saber sozinha... Entrava numa claridade antecipada, irreal talvez. Sentiu que, naqueles ares, era uma clandestina. Viu uma toca. Feito tatu, ali se meteu. No escuro, esperou...


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