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ARTES PLÁSTICAS
Mais de 25 mil pessoas visitaram a mostra no Ibirapuera; áreas com instalações foram as mais concorridas
Público recorde abre a Bienal de São Paulo
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
GUSTAVO FIORATTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Apesar dos pequenos imprevistos -das obras interditadas e da
pichação, com a palavra "não",
sofrida pelo trabalho do cubano
Jorge Pardo, uma estrutura de
compensado de madeira que lembrava uma cabana-, o domingo
de abertura da Bienal transcorreu
sem maiores incidentes. Segundo
a organização, até as 23h do domingo, um número recorde de
25.400 pessoas havia visitado a
mostra.
Para um primeiro dia de Bienal
gratuita e de casa cheia, foram as
obras interativas que deram mais
trabalho aos organizadores da exposição. Dos 135 trabalhos expostos, apenas dois foram fechados,
anteontem, por problemas de
manutenção: o do argentino
Leandro Erlich e o do tailandês
Navin Rawanchwaikul.
A instalação de Erlich, portas
que parecem levar a um lugar iluminado, mas, em verdade, a luz
vem por baixo da própria porta,
estava fechada, pois já no dia da
abertura oficial, no sábado, recebeu muitas visitações. Já a obra de
Rawanchwaikul, "Por favor, doe
suas idéias para um artista da Bienal", uma parede em branco feita
para o público preencher, teve
uma participação massiva, que se
espalhou pelas paredes ao lado.
"Tivemos que fechar a área, pois o
público escreveu onde não devia.
Vamos ter que pintar novamente
essas paredes", disse um dos monitores da exposição, que pediu
para não ser identificado.
Entre as obras que pediam interação, uma das mais visitadas era
"Peca-Dor", de Ieda Oliveira,
composta por um confessionário
circundado por quilos de grãos de
milho. A organização chegou a
impedir que o público caminhasse no milho, mas a artista solicitou
que a interação fosse garantida e
sua proposta foi mantida.
"A idéia é que as pessoas se ajoelhem, mas cada um faz como
quer. Cheguei a encontrar um senhor chorando, que contou que
ele caminhava sobre milho quando criança, em Santo Antônio de
Jesus, na Bahia, justo a cidade onde nasci. Foi muita coincidência",
conta Ieda. De forma permanente, pessoas encarregadas da limpeza passaram o domingo reunindo o milho da instalação, para
impedir que o grão se espalhasse
pelo pavilhão da Bienal.
Pichação e boas surpresas
Se houve mais surpresas durante a abertura, elas foram positivas,
tanto para a organização como
para o público. Em nenhum momento houve formação de filas na
entrada do pavilhão.
A quantidade de visitantes portando máquinas fotográficas foi o
que mais deu trabalho ao serviço
de segurança da Bienal. Mas a incidência foi tão grande que fez
com que a fundação permitisse, a
partir da tarde, que o público fizesse registros fotográficos dentro
do pavilhão -decisão que será
mantida até o final do evento, segundo a organização.
Pela manhã, a obra do britânico
Mike Nelson provocou situações
cômicas. Uma fila logo se formou
na entrada do projeto -uma interferência na arquitetura do prédio de Oscar Niemeyer, constituída por uma estrutura de gesso estruturada com madeiras que, em
seu interior, abrigava elementos
do candomblé, vasilhas de alumínio, galhos e a miniatura de um
crânio. Quem via a fila entrava
sem saber por quê. "Nem sei por
que estou aqui", disse o metalúrgico Izaias de Oliveira, 38. "Essa
obra deveria chamar a fila dos curiosos. Quem entra não sabe o
que vai ver. E quem sai não conta
o que viu."
Circulação
A divisão da megamostra por
suportes causou uma inusitada
distribuição de público pelos três
andares do edifício. No térreo e
no primeiro andar, onde estavam
a maior parte das esculturas e as
principais obras interativas, houve maior circulação, principalmente de crianças, que ajoelhavam e mergulhavam nos milhos
da instalação "Peca-Dor".
Outro sucesso entre os trabalhos interativos foi "O Realejo",
da carioca Rosana Palazyan. Foi
constante, durante todo o dia, a
concentração de visitantes em
torno do realejo, com um periquito que bicava bilhetes que narram
histórias de pessoas abordadas
pela artista nas ruas da cidade.
O curioso fusca pendurado por
cabos de borracha coloridos também contribuiu para o clima de
playground que prevalecia no espaço. "É muito divertido. Quando
ele gira, a obra fica muito colorida", disse a estudante Ligia Colacique, 19.
Nos segundo e terceiro andares,
que abrigavam pinturas, trabalhos fotográficos, vídeos e instalações sem cunho interativo, a visitação era menos festiva.
"Muita gente fica nas instalações, na parte interativa. Eu prefiro prestar atenção a tudo, às pinturas também. Pretendo ver pelo
menos 90% das obras", disse o
psicólogo Nilo Targina, 35, postado diante de uma série de quadros
da dupla austríaca Muntean e Rosemblum, com imagens de skatistas em posições dramatizadas.
Sucesso de público nestes andares foi a projeção de cinco curtas
dos americanos do Neistat Brothers, com imagens compostas
pelo uso de objetos domésticos,
como um fogão e bolinhas de naftalina. Em um dos filmes, os artistas erguem uma pequena torre de
fósforos e ateiam fogo a ela, exibindo a combustão em câmera
acelerada.
Performance
Para fechar a noite, a artista Vera Mantero apresentou, às 21h,
sua performance, que já havia sido realizada ao meio-dia.
O número elaborado pela artista portuguesa consistia em uma
série de cantos e ruídos vocais,
que acompanhavam contorcionismos e outros movimentos corporais, realizados sobre uma
imensa estrutura de ferro instalada entre as rampas e assinada pelo
escultor Rui Chafes.
"Comer o Coração" -nome do
conjunto formado por escultura e
performance, acabou funcionando como obra vista em uma região de passagem. Para quem perdeu a apresentação, ela será exibida em uma tela de plasma instalada no pilar em torno do qual sobem as rampas do edifício.
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