São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Mais de 25 mil pessoas visitaram a mostra no Ibirapuera; áreas com instalações foram as mais concorridas

Público recorde abre a Bienal de São Paulo

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

GUSTAVO FIORATTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Apesar dos pequenos imprevistos -das obras interditadas e da pichação, com a palavra "não", sofrida pelo trabalho do cubano Jorge Pardo, uma estrutura de compensado de madeira que lembrava uma cabana-, o domingo de abertura da Bienal transcorreu sem maiores incidentes. Segundo a organização, até as 23h do domingo, um número recorde de 25.400 pessoas havia visitado a mostra.
Para um primeiro dia de Bienal gratuita e de casa cheia, foram as obras interativas que deram mais trabalho aos organizadores da exposição. Dos 135 trabalhos expostos, apenas dois foram fechados, anteontem, por problemas de manutenção: o do argentino Leandro Erlich e o do tailandês Navin Rawanchwaikul.
A instalação de Erlich, portas que parecem levar a um lugar iluminado, mas, em verdade, a luz vem por baixo da própria porta, estava fechada, pois já no dia da abertura oficial, no sábado, recebeu muitas visitações. Já a obra de Rawanchwaikul, "Por favor, doe suas idéias para um artista da Bienal", uma parede em branco feita para o público preencher, teve uma participação massiva, que se espalhou pelas paredes ao lado. "Tivemos que fechar a área, pois o público escreveu onde não devia. Vamos ter que pintar novamente essas paredes", disse um dos monitores da exposição, que pediu para não ser identificado.
Entre as obras que pediam interação, uma das mais visitadas era "Peca-Dor", de Ieda Oliveira, composta por um confessionário circundado por quilos de grãos de milho. A organização chegou a impedir que o público caminhasse no milho, mas a artista solicitou que a interação fosse garantida e sua proposta foi mantida.
"A idéia é que as pessoas se ajoelhem, mas cada um faz como quer. Cheguei a encontrar um senhor chorando, que contou que ele caminhava sobre milho quando criança, em Santo Antônio de Jesus, na Bahia, justo a cidade onde nasci. Foi muita coincidência", conta Ieda. De forma permanente, pessoas encarregadas da limpeza passaram o domingo reunindo o milho da instalação, para impedir que o grão se espalhasse pelo pavilhão da Bienal.

Pichação e boas surpresas
Se houve mais surpresas durante a abertura, elas foram positivas, tanto para a organização como para o público. Em nenhum momento houve formação de filas na entrada do pavilhão.
A quantidade de visitantes portando máquinas fotográficas foi o que mais deu trabalho ao serviço de segurança da Bienal. Mas a incidência foi tão grande que fez com que a fundação permitisse, a partir da tarde, que o público fizesse registros fotográficos dentro do pavilhão -decisão que será mantida até o final do evento, segundo a organização.
Pela manhã, a obra do britânico Mike Nelson provocou situações cômicas. Uma fila logo se formou na entrada do projeto -uma interferência na arquitetura do prédio de Oscar Niemeyer, constituída por uma estrutura de gesso estruturada com madeiras que, em seu interior, abrigava elementos do candomblé, vasilhas de alumínio, galhos e a miniatura de um crânio. Quem via a fila entrava sem saber por quê. "Nem sei por que estou aqui", disse o metalúrgico Izaias de Oliveira, 38. "Essa obra deveria chamar a fila dos curiosos. Quem entra não sabe o que vai ver. E quem sai não conta o que viu."

Circulação
A divisão da megamostra por suportes causou uma inusitada distribuição de público pelos três andares do edifício. No térreo e no primeiro andar, onde estavam a maior parte das esculturas e as principais obras interativas, houve maior circulação, principalmente de crianças, que ajoelhavam e mergulhavam nos milhos da instalação "Peca-Dor".
Outro sucesso entre os trabalhos interativos foi "O Realejo", da carioca Rosana Palazyan. Foi constante, durante todo o dia, a concentração de visitantes em torno do realejo, com um periquito que bicava bilhetes que narram histórias de pessoas abordadas pela artista nas ruas da cidade.
O curioso fusca pendurado por cabos de borracha coloridos também contribuiu para o clima de playground que prevalecia no espaço. "É muito divertido. Quando ele gira, a obra fica muito colorida", disse a estudante Ligia Colacique, 19.
Nos segundo e terceiro andares, que abrigavam pinturas, trabalhos fotográficos, vídeos e instalações sem cunho interativo, a visitação era menos festiva.
"Muita gente fica nas instalações, na parte interativa. Eu prefiro prestar atenção a tudo, às pinturas também. Pretendo ver pelo menos 90% das obras", disse o psicólogo Nilo Targina, 35, postado diante de uma série de quadros da dupla austríaca Muntean e Rosemblum, com imagens de skatistas em posições dramatizadas.
Sucesso de público nestes andares foi a projeção de cinco curtas dos americanos do Neistat Brothers, com imagens compostas pelo uso de objetos domésticos, como um fogão e bolinhas de naftalina. Em um dos filmes, os artistas erguem uma pequena torre de fósforos e ateiam fogo a ela, exibindo a combustão em câmera acelerada.

Performance
Para fechar a noite, a artista Vera Mantero apresentou, às 21h, sua performance, que já havia sido realizada ao meio-dia.
O número elaborado pela artista portuguesa consistia em uma série de cantos e ruídos vocais, que acompanhavam contorcionismos e outros movimentos corporais, realizados sobre uma imensa estrutura de ferro instalada entre as rampas e assinada pelo escultor Rui Chafes.
"Comer o Coração" -nome do conjunto formado por escultura e performance, acabou funcionando como obra vista em uma região de passagem. Para quem perdeu a apresentação, ela será exibida em uma tela de plasma instalada no pilar em torno do qual sobem as rampas do edifício.


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