São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 2005

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Humor perde Golias, 76, o Bronco

Divulgação - 19.jan.1977/TV Globo
Ronald Golias, em cena de "A Praça da Alegria"


DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos maiores comediantes da história do Brasil, Ronald Golias morreu na madrugada de ontem, aos 76 anos, por insuficiência múltipla de órgãos. Ele estava internado desde o último dia 8, na UTI do hospital São Luiz, no Morumbi, na zona sul de São Paulo.
O velório seria realizado na tarde de ontem, no salão nobre da Assembléia Legislativa. Um cortejo com o corpo deverá sair hoje, às 9h30, em direção ao cemitério do Morumbi, onde será realizado o enterro, marcado para as 11h.
A saúde do humorista estava fragilizada desde maio do ano passado, quando foi submetido a uma cirurgia para implante de um marca-passo. Menos de dois meses depois, sofreu uma queda e teve de ser operado para a retirada de um coágulo no cérebro.
Golias deixa a mulher, Lúcia, 63, a filha Paula, 38, e uma infinidade de amigos conquistados ao longo dos mais de 50 anos de carreira em rádio, TV, teatro e cinema.
Paulista de São Carlos, foi alfaiate e funileiro na mocidade. Largou tesouras e funis tão logo descobriu a veia humorística como aqualouco do então glamouroso Clube de Regatas Tietê. Magricelo, fazia rir tanto com aquela roupa de banho listrada e máscara para mergulho que não tardou a virar notícia em cinejornais.
Ingressou no rádio na década de 50 e, na Nacional, foi descoberto pelo humorista e empresário Manoel de Nóbrega, o criador de "A Praça da Alegria" e pai de Carlos Alberto ("A Praça É Nossa").
Em 56, seguiu com o tutor para a TV e se tornou famoso ao sentar no banco da praça na pele de Bronco, Pacífico e Bartolomeu Guimarães. A consagração veio nos anos 60, quando protagonizou "Família Trapo", na Record, ao lado de Otelo Zeloni, Jô Soares, Renata Fronzi, Ricardo Côrte Real e Cidinha Campos. O humorístico de sucesso foi embrião do programa "Bronco", em 1986, "bons tempos" da Bandeirantes.
O bordão "ô, Cride", dito aos berros pelo personagem Pacífico, virou refrão-homenagem na música "Televisão", dos Titãs.
Com o beicinho e a gritaria inconfundíveis, circulou por emissoras e palcos fazendo arte e arte, nos dois sentidos. Foi moleque do primeiro até o último show.
No cinema, atuou em comédias como "Três Cangaceiros" (1961), "O Homem que Roubou a Copa do Mundo" (1963) e "O Dono da Bola" (1961), no qual dividiu a cena com Ankito, Grande Otelo e Jô Soares. Em 1971, estreou no teatro, com "Circuito Fechado", de corpo e alma. Mais de corpo do que de alma: em fotos da época, aparece completamente nu, com as partes "mais proibidas" tapadas pelas mãos de Ronald Boscoli, Miele e Carlos Manga.
Golias permanecia no ar em dois programas do SBT, "A Praça É Nossa" (sábado), como Pacífico e Profeta, e "Meu Cunhado" (domingo). Carlos Alberto de Nóbrega, do primeiro, e Moacyr Franco, do segundo, estavam ontem inconsoláveis com a notícia da morte do parceiro de longa data.
Os amigos riam com Golias também atrás das câmeras. Irreverente, apelidou Silvio Santos de "peru". Encerrou a carreira na TV do "peru" ignorando a idade que avançava. Em 2002, atuou no especial "Hotel do SBT" como um mensageiro atrapalhado que, em parceria com o gerente míope (Moacyr Franco), levava hóspedes à loucura. Em 2003, foi o Romeu apaixonado pela Julieta Hebe Camargo, outra amiga e companheira dos velhos tempos. (LAURA MATTOS, ADRIANA FERREIRA E BRUNO YUTAKA SAITO)


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