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NINA HORTA
A comilança de outrora
Dizem que foi o tutano que nos tirou da posição de animais irracionais. De tanto chupar ossos, o cérebro ficou esperto
CONTINUO a falar sobre os novos puritanos americanos,
aqueles que não querem comida industrializada e tentam reverter a comilança para dias de antanho, quando o gado comia capim e a
galinha ciscava. Não estão sozinhos,
não pensam que tudo vai mudar de
um dia para o outro, mas fazem
lobby e se arriscam contra grandes
empresas alimentícias. Comparam
os grandes conglomerados de alimentação a nações, pois as receitas
da Nestlé, da Altria, são iguais ao
Produto Interno Bruto (PIB) dos
Emirados Unidos Árabes e Nigéria.
Como já comentamos, segundo
eles, temos que comer a carne dos
bois, beber o leite das vacas... que
pastam! Chegamos a imaginar, numa humilde contribuição, os parques dos condomínios transformados em pomares, galinha soltas,
goiabeiras. As crianças adoram subir
em goiabeiras, feitas de propósito
para elas, galhos espaçados, limpos,
abertos, a goiaba temporã, tacheada
de pretinho, fazendo a boca franzir
na sua acidez. E as ameixeiras? Repararam como as ameixeiras nascidas por acaso na cidade estão todas
carregadas de frutas e que as pitangas chegaram?
E o galo cantando vitorioso? E a
procura dos ninhos, dos ovos, os
pintinhos? Tudo muito mais interessante e pedagógico que o chão de
ladrilhos e cimento e os brinquedos
incrivelmente sem graça.
Continuando com as gorduras, dizem eles que foi o tutano que nos tirou da posição de animais irracionais. De tanto chupar os ossinhos,
nosso cérebro foi ficando esperto.
Distanciamos-nos dos que comiam
só folhas. Vamos a uma receita rápida de tutano: 12 pedaços de osso de
vitela com tutano (8 cm). Para uma
saladinha: um maço grande de salsa
bem fresca, finamente picada, duas
cebolas pequenas, em finas rodelas,
um punhado de alcaparras de ótima
qualidade, suco de limão e sal marinho, azeite extravirgem. Ponha os
ossos numa fôrma e deixe por cerca
de 20 minutos no forno. Sirva imediatamente os ossos, retire o tutano,
vá passando em torradas e comendo
com a salada de salsa temperada na
hora. Bom!
E peixes? O que dizem dos peixes?
O Homo habilis tinha instrumentos
para pescar, como arpões e redes, e
era onívoro. Sortudo aquele que vivia perto do mar com um estoque de
gordura ômega 3 ao seu dispor, essencial para as funções hormonais,
visuais, mentais, metabólicas. É essa
gordura que previne as doenças modernas, como obesidade, diabetes e
doenças do coração, regula os níveis
de açúcar no sangue e a queima de
gorduras. E adivinhem qual é a comida-remédio para os deprimidos?
Adivinhem. Sardinha e óleo de fígado de bacalhau.
Mas a má notícia é que os peixes
criados em cativeiro são vítimas de
parasitas, pesticidas, antibióticos,
excesso de excrementos, danos ambientais e, além de tudo, são menos
gostosos e menos nutritivos. E esses
peixes criados por nós precisam comer. E comem o quê? Os peixes chamados de segunda, como as sardinhas e o arenque, básicos para os
países em desenvolvimento.
(Os peixes que podemos criar são
os herbívoros. Por exemplo: a tilápia, a carpa, moluscos e ostras. Moluscos e ostras são peixes? Hum,
não, frutos do mar.)
Então, devemos comer peixe, e
pode ser gordo, de duas a três vezes
por semana. E podemos fritá-los em
azeite de oliva extravirgem. As gorduras saturadas aumentam o estoque corporal de ômega 3. Por isso, o
conselho é: coma lagosta e linguado
com bastante molho de manteiga.
E a boa notícia (se os salmões não
comerem todas as nossas sardinhas)
é que elas têm 500% mais de boas
gorduras do que o atum, por exemplo. É um peixinho extremamente
interessante para nós. Frito...
E peixe cru? Claro, os japoneses
comem sashimi, os espanhóis, ceviche, os escandinavos, gravlax.
E esta não foi a última, virá outra
logo depois...
ninahorta@uol.com.br
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