São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2007

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Crítica/"Gal Costa Live at the Blue Note"

Com standards, Gal Costa reafirma condição de diva

Repertório de CD ao vivo se concentra em Tom Jobim com arranjo renovador

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Gal Costa vem se equilibrando entre dois pólos: renovar o repertório de vez em quando, como fez no disco de inéditas "Hoje" (2005), e reafirmar seu posto de diva, interpretando clássicos da música brasileira. É neste segundo pólo que se encaixa "Gal Costa Live at the Blue Note", que chega aqui depois de ser lançado nos EUA.
Para os norte-americanos e brasileiros que estavam em 19 de maio do ano passado na mais famosa casa de jazz nova-iorquina, deve ter sido prazeroso reencontrar em voz tão perfeita as jobinianas "Desafinado", "Chega de Saudade", "Corcovado" e "Wave" -não faltou nem "Garota de Ipanema".
Já para ouvidos nacionais que vivem no Brasil, o repertório é mais do mesmo, no sentido de que só tem standards gravados e regravados à mancheia. O que soa mais renovador é a formação intimista que acompanha a cantora: violão (Marcus Teixeira), baixo (Adriano Giffoni), bateria (Jurim Moreira), sax e flauta (Zé Canuto).
É muito bom ouvir Gal sem que ela tenha por trás uma orquestra ou vários instrumentos elétricos e percussões. Sua voz esquece os extremos -o agudo final de "Ave Maria do Morro" (Herivelto Martins) é uma exceção- e as interpretações cobrem as músicas de um veludo muito agradável. É claro que também contribui para isso a grande intimidade de Gal com o repertório.

"Triste" com suingue
Das 19 músicas, nove são de Tom Jobim, de quem ela é uma antiga e exímia intérprete. Vale destacar "Fotografia", que abre o show indicando o clima que ele terá, e "Triste", que ganha uma versão mais sacudida do que as habituais, com muito suingue.
Entre as de Ary Barroso, a seqüência de "Camisa Amarela" -com intervalos muito bem marcados pelo sax- e "Pra Machucar o Coração" ("devastadora", segundo o texto do crítico Ben Ratliff, do "New York Times", que consta do encarte), forma o melhor momento da apresentação. Já o encerramento com "Aquarela do Brasil" é um pouco para-gringo-ver, com um arranjo não muito inventivo.
Outro grande momento é "Nada Além", o fox de Custódio Mesquita e Mário Lago que é cantado por Gal com o acompanhamento apenas do baixo e de estalos de dedos.
Antes da moça de Ipanema, ela reverencia com adequada suavidade o outro bairro carioca conhecido internacionalmente em "Sábado em Copacabana", de Dorival Caymmi, e "Copacabana" (João de Barro/ Alberto Ribeiro).
Gal ainda se lança em standards norte-americanos: muito bem em "I Fall in Love Too Easily", reverência a seu ídolo Chet Baker, e sem injetar muita vida nova em "As Time Goes By", o tema de "Casablanca". O CD confirma que, embora não precise ser seu único, o papel de diva cai bem na Gal de hoje.


GAL COSTA LIVE AT THE BLUE NOTE
Gravadora: LGK
Quanto: R$ 27, em média
Avaliação: bom



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