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HQ reúne o Demolidor de Kevin Smith
Histórias com o herói cego da Marvel feitas pelo cineasta destoam do tom ousado do diretor de "Dogma"
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O cineasta Kevin Smith é conhecido por filmes com diálogos bem-humorados e que
abordam temas tabus (como
"Pagando Bem, que Mal Tem?",
sobre filmes pornôs, e "Dogma", que tira onda da religião).
Também se sabe que ele é um
nerd fã de HQs, fixação visível
em "Procura-se Amy", que trata de dois quadrinistas.
Há um pouco disso tudo em
sua estreia como roteirista de
HQs por uma editora grande,
em 1999. "Demolidor - Diabo
da Guarda" reúne as nove histórias que Smith escreveu
quando esteve à frente do título
mensal do Demolidor, herói da
Marvel.
O personagem é um prato
cheio para abordar questões religiosas. Católico, o paradoxal
Demolidor se veste como um
demônio -todo de vermelho,
com chifres e as letras "DD" estampadas em seu uniforme.
Além disso, sua mãe converteu-se freira.
Esse contexto serve de premissa a "Diabo da Guarda": um
bebê é deixado com Matt Murdock (a identidade secreta do
Demolidor). Há duas histórias
sobre a criança: uma, de que ela
seria o "redentor", aquele que
trará a paz ao mundo; outra, de
que se trata do "anticristo", o
profeta do apocalipse.
Ao mesmo tempo, coisas estranhas acontecem ao redor de
Murdock: seu melhor amigo é
preso, acusado de assassinato, e
o grande amor da sua vida reaparece -mas ela contraiu Aids.
Como ficam esses acontecimentos na mente de um super-herói que não é exatamente
equilibrado -a ponto de se vestir como um demônio para fazer ações heroicas?
"Diabo da Guarda" destoa
das obras cinematográficas de
Kevin Smith. Há o humor, os
diálogos engraçadinhos e algumas menções sensuais, mas
distantes das ousadias de seus
filmes. Também não há a rebeldia, aquela vontade de chocar
ou de transgredir. Pelo contrário: há respeito.
De todas as facetas mais conhecidas de Kevin Smith, a que
mais transparece em sua passagem pelo Demolidor é o lado
nerd e fã. Mais do que respeitar
a cronologia criada pelos autores que vieram antes dele, ele
presta homenagens: a história
parte do que Frank Miller estabeleceu para o personagem; há
participações de personagens
coadjuvantes criados por escritores anteriores; e até Stan Lee,
criador do Demolidor, dá o ar
de sua graça (assim como o próprio Kevin Smith).
Ao fim da leitura, "Diabo da
Guarda" figura mais como uma
bem contada história de super-heróis do que como uma obra
irreverente e criativa da carreira de Kevin Smith.
DIABO DA GUARDA
Autores: Kevin Smith, Joe Quesada e
Jimmy Palmiotti
Editora: Panini
Quanto: R$ 28,90 (200 págs.)
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