São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 2011

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CRÍTICA BIOGRAFIA

Ligeiro e pouco profundo, livro serve de introdução a Glauber


TRATA-SE DE RECONTAR OS PASSOS DA ASCENSÃO DE GLAUBER ROCHA AO PANTEÃO POR MEIO DE UMA SUCESSÃO DE ANEDOTAS



"A PRIMAVERA DO DRAGÃO" NÃO AGREGA (NEM PRETENDE) DADOS NOVOS QUE SIRVAM PARA DESVENDAR OS ENIGMAS DA ESFINGE. SUA AMBIÇÃO É MENOR


CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

O projeto de Nelson Motta em "A Primavera do Dragão" consiste em suprimir o aparato de interpretações que isolaram Glauber Rocha numa nuvem acessível apenas a iniciados e trazê-lo de volta à Terra para reativar seus encantos e contradições.
Como o título sugere, trata-se de reconstituir a juventude do cineasta e pensador baiano, do nascimento aos 25 anos, de Vitória da Conquista (BA) à repercussão internacional obtida com "Deus e o Diabo na Terra do Sol" no Festival de Cannes de 1964. O recorte justifica-se por corresponder ao limiar a partir do qual o artista confunde-se com o mito. Isso traz também a vantagem de encerrar o texto no período logo em seguida ao golpe militar, evitando ter de avançar num momento histórico já saturado de bons estudos.
Mas, fora o oportunismo da efeméride dos 30 anos da morte, o que a ótica adotada por Motta traz de relevante? O corte cronológico corresponde ao que Ayêska Paulafreitas e Júlio César Lobo já haviam reconstituído, em 1995, com abundância de detalhes, em "Glauber, a Conquista de um Sonho" (resultado de ótima pesquisa à qual faltou uma edição rigorosa).
No sentido da amplitude biográfica e da articulação aprofundada entre vida e obra, o "Glauber Rocha, Esse Vulcão", de João Carlos Teixeira Gomes, mantém-se como a melhor referência.
Sem contar os reveladores trabalhos de companheiros de geração e as análises históricas e teóricas sobre o aporte cultural e estético de Glauber realizadas por Jean-Claude Bernardet, Ismail Xavier, José Carlos Avellar e Raquel Gerber, entre tantos. "A Primavera do Dragão" não agrega (nem pretende) dados novos ou fornece chaves que sirvam para desvendar os enigmas da esfinge. Sua ambição é menor e, por isso, bem-sucedida.
Trata-se de recontar os passos da ascensão de Glauber ao panteão por meio de uma sucessão de anedotas narradas como numa conversa de gente da mesma turma.
Desse modo, o livro consegue evidenciar o despudor de seu personagem, a mistura de inteligência e desvario que deram numa personalidade sem equivalente.
A recusa de análises e a preferência pela superficialidade dos fatos serão interpretadas como fajutagem intelectual por centenas de especialistas na obra e nas ideias do cineasta baiano.
A ligeireza, porém, pode funcionar como vantagem se a pretensão resume-se a conquistar quem nem tem noção de quem é Glauber Rocha.

A PRIMAVERA DO DRAGÃO
AUTOR Nelson Motta
EDITORA Objetiva
QUANTO R$ 56,90 (368 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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