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PATRIMÔNIO
Inauguração de biblioteca e lançamento de livros marcam aniversário da sede de curso de arquitetura da USP
FAU celebra 100 anos da Vila Penteado
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Pode, hoje em dia, um único arquiteto ser o responsável pela totalidade de um projeto, desde a
estrutura de um edifício até os jardins à sua volta? O programa de
pós-graduação da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo (FAU)
da USP, para comemorar seus 30
anos, reúne-se em um seminário,
a partir de hoje, para debater tal
questão utilizando sua própria sede, a Vila Penteado, que faz cem
anos, como chave de discussão.
A Vila Penteado, nome dado à
sede da chácara da família do
Conde Antônio Álvares Penteado, construída em 1902, no então
pacato bairro de Higienópolis, em
São Paulo, foi projeto do arquiteto
sueco Carlos Ekman.
Cedida à FAU, pelos filhos do
conde Penteado, em 1946, a casa é
um dos únicos exemplares do estilo art-noveau que resistem na cidade. Atualmente, a mansão, que
tinha sua fachada com vista para a
avenida Higienópolis, está cercada de edifícios, e sua entrada tornou-se a antiga porta dos fundos,
à rua Maranhão.
"O Ekman é um modelo, assim
como a Bauhaus, que inspirou a
própria FAU, um arquiteto-demiurgo, capaz de pensar em todos os detalhes. Por isso, a casa é
simbólica nas discussões que organizamos", diz Ermínia Maricato, diretora da pós-graduação em
arquitetura da USP.
Há mais de dez anos, um grupo
de pesquisadores da Universidade de São Paulo realiza um trabalho de "caráter arqueológico" nos
60 cômodos da Vila Penteado. Liderados pela arquiteta Regina Tirello, coordenadora do Canteiro
Escola de Restauração de Pinturas
Murais da Comissão de Patrimônio Cultural da USP, eles chegaram até as cores originais da residência, após passarem por sete
camadas de pinturas.
Os pesquisadores descobriram
que as pinturas originais eram cores fortes, que estão ressurgindo
na mansão com uma reforma em
curso. Já estão prontas apenas a
monumental sala central da residência e a nova biblioteca, que será inaugurada no dia 8, projeto de
José Armênio de Brito Cruz, que
altera, em parte, o projeto original
de Ekman e que gerou polêmicas
na FAU. "Esta casa não é um museu, as mudanças foram feitas para um melhor aproveitamento do
espaço", diz Maricato.
Como parte das comemorações
dos 30 anos da pós-graduação e
da importância da Vila Penteado
na arquitetura paulistana, serão
lançadas, no próximo dia 8, duas
publicações: "Vila Penteado: Registros", de Benedito Lima de Toledo, e "Vila Penteado: 100 anos",
uma coletânea de vários artigos,
entre eles um manuscrito inédito
de Ekman.
Nascido em Estocolmo, em
1866, o arquiteto fixou residência
na crescente São Paulo de 1895, e
foi também responsável pela Escola de Comércio, em estilo art-noveau, outra encomenda do
conde Penteado, no largo São
Francisco. "O Ekman tinha um
contrato de exclusividade com o
conde Penteado, segundo o qual
ele só poderia construir prédios
em estilo art-noveau para ele",
afirma Tirello.
Segundo Maria Ruth Amaral de
Sampaio, diretora da FAU, na introdução de "Vila Penteado: Registros", o fascínio do conde Penteado pelo estilo ocorreu em 1900,
ao visitar "a Grande Exposição Internacional de Paris, onde o art-noveau se consagrava". Cem anos
depois, tal encanto se mantém.
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