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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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INIMIGOS NA REDE

Divulgação
O grupo norte-americano Public Enemy, que toca no Rio e em São Paulo


THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

O alvo e o campo de batalha agora são outros.
Se nos anos 80/90 a luta do Public Enemy limitava-se a seus shows e discos, hoje ela é travada maciçamente pela internet. O objetivo anterior, de derrubar toda e qualquer barreira social -seja de cor, seja de religião-, ainda está de pé, mas quem está na mira dos discursos do grupo hoje são as grandes corporações de música.
Formado há mais de 20 anos pelo vocalista Chuck D, o Public Enemy continua na ponta da produção mundial de hip hop muito por culpa da internet. Além dos serviços comuns de um website normal, a banda utiliza a rede como uma nova forma de comercialização de seus produtos -principalmente músicas.
O Public Enemy disponibilizou as canções de seus dois últimos álbuns ("There's a Poison Going On", 1999, "Revolverlution", 2002) em MP3 bem antes do que no formato usual, em CD.
O grupo veio ao Brasil em 1991, em show histórico no ginásio do Ibirapuera (SP). Chuck D e turma estavam no auge, após os lançamentos dos essenciais "It Takes a Nation of Millions to Hold us Back" (88) e "Fear of a Black Planet" (90). Eles retornam para o Tim Festival (tocam no dia 1º/11), no Rio, e no Via Funchal (7/11), em São Paulo.
Para falar sobre os shows no Brasil e os planos do Public Enemy para a internet, a Folha conversou por telefone com o líder do grupo, Chuck D.
 

Folha - Esta é a segunda vez que vocês vêm ao Brasil. O que você achou do show de 1991?
Chuck D -
Gostei muito da apresentação e do clima das pessoas daí. O público realmente conhece e aprecia hip hop. E a luta dos negros no Brasil é parecida com a dos negros nos EUA, embora praticada de formas diferentes. Mas aí ainda há mais mistura do que nos Estados Unidos.

Folha - Quando você começaram, Ronald Reagan era o presidente dos EUA. Hoje, é George W. Bush quem está no poder. As coisas avançaram ou regrediram?
Chuck D -
George W. Bush não tem medo de afirmar ao mundo que é ele quem está no comando de todo o mundo. Nesse ponto até mesmo Reagan tinha um certo cuidado. Nós do Public Enemy sempre dissemos que a América precisava olhar mais para o planeta, deixar a arrogância de lado. Não é isso o que acontece hoje.

Folha - O Public Enemy é um dos artistas mais envolvidos com as possibilidades da internet. Como você avalia essa disputa entre as grandes gravadoras e as pessoas que baixam músicas na rede?
Chuck D -
As corporações têm de entender que o público descobriu e começou a usar essa tecnologia antes deles. Agora eles têm de fazer ajustes. Hoje em dia as pessoas vão às lojas e compram apenas o que acham bom. Então o down- nload só vai afetar aqueles que não são realmente artistas. Porque os fãs querem ajudar e dar um suporte para seus ídolos. Por exemplo, quando você vê um show do Public Enemy, você assiste a um dos maiores shows do mundo. A indústria não se dá conta disso. Eles estão interessados apenas em vender discos, não se importam como são as apresentações de seus artistas.

Folha - Dá para saber como será a indústria da música em dez anos?
Chuck D -
Acho que em três anos a indústria se dará conta de que essa nova forma de distribuição chegou para ficar. Você terá artistas "da internet", gravadoras independentes e artistas das majors, e eles participarão de forma diferente na distribuição. Não acho que a forma convencional de venda de discos será extinta, mas acho que a internet veio para somar. E terá resultados bem realísticos. Acho que estamos entrando num tempo em que o artista voltará a ser mais importante do que o CD que ele está lançando.

Folha - Você diz não acreditar mais no formato de álbum que nós conhecemos hoje. Por quê?
Chuck D -
Eu acredito em álbuns feitos a partir de um conceito; e não acredito que muitos artistas estejam fazendo isso. Eles estão fazendo singles e preenchendo discos com músicas que estão ali só para preencher espaço. E isso faz com que as pessoas passem a colecionar, pela internet, apenas os singles. As pessoas estão ficando acostumadas a singles.

Folha - A tecnologia ajuda os artistas a terem mais controle?
Chuck D -
Sim, ela permite fazer música, a conseguir um contrato, o marketing, a distribuição...

Folha - Você acha que as gravadoras, e os artistas, conseguirão lucrar com a internet?
Chuck D -
Acho que eles podem expor seu material e vendê-lo através de pedidos por e-mail, por exemplo. As gravadoras podem lucrar até com a imagem do artista, negociando merchandising pelos sites.

Folha - O Public Enemy, e o hip hop, sempre foram vistos como música com forte conteúdo político e social, como uma batalha contra o sistema. Você acha que essa luta pode ser ganha algum dia?
Chuck D -
Acho que a batalha de fazer as pessoas serem menos influenciadas pela TV e pelo rádio pode ser ganha; ou de o público ter acesso a informações de outros modos.

Folha - O Public Enemy ajudou a moldar o hip hop como o conhecemos hoje. Você está gostando do que ajudou a criar?
Chuck D -
No começo, os rappers cantavam pela arte do hip hop, pelas pessoas. Hoje eles cantam por "business".


TIM FESTIVAL. Onde: MAM-RJ (av. Infante Dom Henrique, 85, Rio). Quando: de 30/10 a 1º/11. Quanto: de R$ 30 a R$ 80. Como comprar: tel. 0300-789-3350.

PUBLIC ENEMY. Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, SP, tel. 0/xx/11/3846-2300). Quando: 7/11. Quanto: a definir.



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