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28ª MOSTRA DE CINEMA
Cineasta iraniano tem retrospectiva, exposição de fotos e lançamento de livro
São Paulo vira vitrine de Kiarostami
CLAUDIO SZYNKIER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
São Paulo, por alguns dias, será
a principal vitrine da arte de Abbas Kiarostami. Haverá exposição
de fotos, workshop -ministrado
pelo cineasta, que irá orientar a
confecção de um trabalho filmado-, exibição de filmes raros na
Mostra (entre eles "O Passageiro", "O Relatório", "First Graders" e "Lição de Casa") e lançamento de livro com sessão de autógrafos a ser realizada na noite
do dia 29, no Conjunto Nacional.
Em entrevista coletiva ontem, o
grande tema foi a metodologia de
Kiarostami diante da imagem e
dos dispositivos.
"Ninguém pode dizer qual método será utilizado antes de começar a fazer o filme. O importante é
a experiência e a originalidade de
cada método", ressaltou Kiarostami, após ser perguntado sobre a
essência de sua postura como
"provocador de imprevistos e improvisos" nos filmes.
"Quando descobri a câmera digital, isto foi algo muito grande,
era um novo caminho para a criação. Fiquei tão excitado, recomendei tanto a câmera digital da
Sony quando conheci o sistema,
que muitas pessoas achavam que
eu estava sendo pago para fazer
propaganda do produto", relatou
o diretor, antes de admitir: "Depois de oito anos, no entanto, cheguei à conclusão de que a câmera
digital não funciona nas mãos de
quem não tem um compromisso
limpo, uma consciência exata de
como usá-la".
Para ilustrar essa idéia, o iraniano contou uma história. "No ano
passado, eu e um amigo saímos
para fotografar a natureza. Eu,
com uma câmera normal, ele,
com uma digital. Eu cliquei nove
fotos, das quais duas prestavam.
Já o meu amigo tirou 190, das
quais nenhuma prestava, porque
ele apertava o botão sem olhar. E
isso se aplica ao conceito de câmera digital no cinema. Antes de
pensar o quadro, o sujeito já começa a filmá-lo, pela facilidade do
dispositivo. O cinema digital é como uma faca, na mão de um cirurgião ou de um assassino. O importante é quem pega a câmera."
A obra do iraniano também foi
abordada. "Em "Close Up", Ali
Hossein Sabdzian sabia que havia
a câmera, sabia que estava sendo
filmado, pois havia um contrato.
Era para não saber, entretanto.
Mas na cena final, com ele e o cineasta Moshen Makhmalbaf, o
encontro que ocorreu entre os
dois foi algo tão real que Sabdzian
esqueceu câmera, diretor e todos
os que lá estavam perto. Ficou, no
filme, a impressão de que ele não
sabia que havia um aparato de filmagem", contou o diretor, ao ser
questionado sobre a questão de
verdade e encenação em "Close
Up", um de seus grandes filmes.
Sobre o cinema norte-americano, Kiarostami disparou: "O cinema digital é mal distribuído e esta
é uma arma para o cinema industrial americano, que quer que o
digital não seja considerado "cinema autêntico". Atrás disso, estão
grandes capitais americanos e a
crença de que este cinema autêntico seria um cinema de vultuosidade e luxo".
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