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Artigo/artes plásticas
"Zooprismas" ou o caleidoscópio poético de Arthur Omar
ADOLFO MONTEJO NAVAS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Não é freqüente encontrar-se com exposições cosmológicas, e
"Zooprismas" aponta para essa
diversidade contagiante, multiforme, caleidoscópica da poética da imagem de Arthur Omar,
para uma pluralidade prismática. De tal forma que a exposição, que ocupa todo o Centro
Cultural Telemar, no Rio, permite acessos vários.
Seus três andares funcionam
como verdadeiros estágios visuais, planos geodésico-espirituais de como a imagem é tratada, da modulação dos regimes
de leitura, já que a reflexão visual é consubstancial em todos
os trabalhos. De fato, a sua diversa genealogia responde ao
critério de acionar um "complexo sensorial e cognitivo como potência", segundo explicita o artista.
Trata-se, também, de um
partir do zero, ou de zerar nossa costumeira visualidade, tão
cansada de subprodutos, e assistir à produção de outra imagética, intensiva, latejante, que
procura novas configurações. E
não se deve ignorar nestas variações, poluições e abissalidades de registros, um hálito barroco, aqui resignificado num
"pathos" quase brutal, apesar
de seu rigor estrutural. Estaríamos falando sempre de uma
ecologia paradoxal da imagem,
pois é precisamente alimentada pela energia rítmica, cinética (da qual o aspecto sonoro entra substantivamente), que
opera um excesso vibrante de
diversas figuras/recursos/pulsações que atingem nossa percepção de várias formas.
Rostos que são corporeidades, iluminações que são retratos, geometrias que são corpos
e vice-versa, luz que é corpo,
matéria, movimento que se espessa, que se volatiliza. Balé de
imagens ralentizado, ou dis-curso acelerado onde o tempo
da imagem se infinita, ou salta
como faísca, ou se curva ante
uma afinidade transcultural (o
encontro com a pintura de Vermeer.) Ou luz protagonista que
joga com seu negativo no registro de nosso obscuro ou luz primogênita esculpida no vídeo
-homenagem ao cinema.
Nesta floresta de imagens
que intercambiam seus signos
e semânticas, inscrevem-se diversas experiências que trabalham a explosão imagética, na
qual o ato de ver tem característica inaugural -a violência
de ver. Daí os ápices psicodélicos na fulguração de formas-cores-velocidade, que coloca a
geometria sonhadora à deriva,
não em remake ("Zooprismas"), ou as acentuações cromáticas pop-cibernéticas com
direito a desvios, anamorfoses
("Pele Mecânica"), e rompimento de referentes visuais anteriores. Sempre Babel de imagens, porque estamos no reino
das transmutações.
Mola cósmica
"Zooprismas" acaba sendo
uma exposição histórica, complexa em sua articulação dentro do campo do videoarte/fotografia/cinema, que exige uma
sintonização com as diversas
estratégias em jogo da imagem-tempo-movimento e de como
esta se espacializa em diversas
dicções. Não em vão na entrada
do prédio há um alfabeto visual
de inscrições-desenhos ("Mola
Cósmica") que serve para
adiantar que ainda vivemos a
condição primogênita de entrar na linguagem, nessa sismografia.
ADOLFO MONTEJO NAVAS é jornalista e escritor madrilenho, radicado no Rio de Janeiro
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