São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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Artigo/artes plásticas

"Zooprismas" ou o caleidoscópio poético de Arthur Omar

ADOLFO MONTEJO NAVAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não é freqüente encontrar-se com exposições cosmológicas, e "Zooprismas" aponta para essa diversidade contagiante, multiforme, caleidoscópica da poética da imagem de Arthur Omar, para uma pluralidade prismática. De tal forma que a exposição, que ocupa todo o Centro Cultural Telemar, no Rio, permite acessos vários.
Seus três andares funcionam como verdadeiros estágios visuais, planos geodésico-espirituais de como a imagem é tratada, da modulação dos regimes de leitura, já que a reflexão visual é consubstancial em todos os trabalhos. De fato, a sua diversa genealogia responde ao critério de acionar um "complexo sensorial e cognitivo como potência", segundo explicita o artista.
Trata-se, também, de um partir do zero, ou de zerar nossa costumeira visualidade, tão cansada de subprodutos, e assistir à produção de outra imagética, intensiva, latejante, que procura novas configurações. E não se deve ignorar nestas variações, poluições e abissalidades de registros, um hálito barroco, aqui resignificado num "pathos" quase brutal, apesar de seu rigor estrutural. Estaríamos falando sempre de uma ecologia paradoxal da imagem, pois é precisamente alimentada pela energia rítmica, cinética (da qual o aspecto sonoro entra substantivamente), que opera um excesso vibrante de diversas figuras/recursos/pulsações que atingem nossa percepção de várias formas.
Rostos que são corporeidades, iluminações que são retratos, geometrias que são corpos e vice-versa, luz que é corpo, matéria, movimento que se espessa, que se volatiliza. Balé de imagens ralentizado, ou dis-curso acelerado onde o tempo da imagem se infinita, ou salta como faísca, ou se curva ante uma afinidade transcultural (o encontro com a pintura de Vermeer.) Ou luz protagonista que joga com seu negativo no registro de nosso obscuro ou luz primogênita esculpida no vídeo -homenagem ao cinema.
Nesta floresta de imagens que intercambiam seus signos e semânticas, inscrevem-se diversas experiências que trabalham a explosão imagética, na qual o ato de ver tem característica inaugural -a violência de ver. Daí os ápices psicodélicos na fulguração de formas-cores-velocidade, que coloca a geometria sonhadora à deriva, não em remake ("Zooprismas"), ou as acentuações cromáticas pop-cibernéticas com direito a desvios, anamorfoses ("Pele Mecânica"), e rompimento de referentes visuais anteriores. Sempre Babel de imagens, porque estamos no reino das transmutações.

Mola cósmica
"Zooprismas" acaba sendo uma exposição histórica, complexa em sua articulação dentro do campo do videoarte/fotografia/cinema, que exige uma sintonização com as diversas estratégias em jogo da imagem-tempo-movimento e de como esta se espacializa em diversas dicções. Não em vão na entrada do prédio há um alfabeto visual de inscrições-desenhos ("Mola Cósmica") que serve para adiantar que ainda vivemos a condição primogênita de entrar na linguagem, nessa sismografia.


ADOLFO MONTEJO NAVAS é jornalista e escritor madrilenho, radicado no Rio de Janeiro

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