|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bienal do Mercosul quer romper regionalismos
Curador espanhol elimina representações nacionais, como a Bienal de SP
O título da mostra "A Terceira Margem do Rio" foi emprestado do conto de Guimarães Rosa, mas não será propriamente um tema
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Apesar de ser identificada já
no nome como uma exposição
que carrega marcas geopolíticas, a 6ª Bienal do Mercosul,
programada para ser inaugurada em setembro de 2007, deixa
de lado a idéia de representações nacionais, assim como
ocorreu neste ano com a Bienal
de São Paulo.
Graças ao projeto do curador
espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, os países que compõem o
Mercosul não terão mais uma
presença cativa na mostra. O título, "A Terceira Margem do
Rio", foi emprestado do conto
de mesmo nome de Guimarães
Rosa. "Sou crítico de bienais temáticas, por isso o título é apenas uma metáfora para representar tudo que acaba com binômios do tipo figuração-abstração ou local-global, por
exemplo", disse Pérez-Barreiro, 36, à Folha, na última segunda-feira, alguns minutos
após desembarcar da viagem
de Austin, nos Estados Unidos,
onde é curador do Blanton Museum of Art, que pertence à
Universidade do Texas.
A idéia de romper com as
fronteiras regionais não está
inspirada na bienal paulista,
mas em sua própria experiência à frente do museu universitário: "Recentemente decidimos que deixaríamos de classificar a coleção até então denominada de "latino-americana"
incorporando-a à coleção de
arte moderna e contemporânea, e isso foi fruto de uma
grande discussão", conta o curador, que também já trabalhou na Americas Society, de
Nova York, onde organizou
mostras de Lygia Pape, Rivane
Neuenschwander e Iran do Espírito Santo, entre outros.
Conversas
Pérez-Barreiro, entretanto,
irá utilizar o Mercosul como
ponto de partida para os cinco
eixos da mostra. "Ao mesmo
tempo em que acho necessária
a internacionalização da Bienal
do Mercosul, como ela ocorre
em Porto Alegre, é a partir daqui que ela está sendo concebida", diz o curador, que exemplifica o método a partir da seção
"Conversas".
Lá, oito artistas que tenham
vínculo com o Mercosul, de residência ou trabalho, serão
convidados a convidar outros
dois artistas, de qualquer lugar,
para participarem da mesma
sala. Mais nomes serão adicionados por Pérez-Barreiro e o
outro curador desse módulo, o
uruguaio Alejandro Cesarco.
Já na seção "Zona Franca",
quatro curadores irão selecionar cerca de seis projetos "significativos" de arte contemporânea cada um. Além do próprio curador-geral, participam
dessa seção o brasileiro Moacir
dos Anjos, a argentina Inês
Katzenstein, do Malba, em
Buenos Aires, e o venezuelano
Luis Enrique Perez Oramas, do
MoMA, em Nova York.
Monografias
A Bienal terá três exposições
monográficas, que substituem
os artistas homenageados das
edições anteriores. Selecionados pelo curador-geral, três artistas estarão presentes com
um conjunto significativo de
obras. São eles o argentino Jorge Macchi, autor do cartaz da
Bienal de São Paulo e dos mais
presentes artistas estrangeiros
em mostras internacionais no
Brasil, o brasileiro-sueco Öyvind Fahlström (1929-1976),
cuja produção mais reconhecida está inserida no movimento
pop dos anos 60, e o uruguaio
modernista Francisco Matto
(1911-1995); um time bastante
heterogêneo.
Completa a mostra um programa de residência artística,
também a exemplo do que
ocorreu na Bienal de São Paulo,
que levará quatro artistas a viverem em Foz do Iguaçu, na
fronteira do Brasil, Argentina e
Paraguai, e está sendo organizado pelo curador paraguaio
Ticio Escobar. "Vejo essa ação
ainda como um projeto piloto,
mas não sei como ninguém ainda havia pensado nisso, é uma
região que envolve várias questões, partindo do mais local para o mais internacional", defende o curador-geral. No total, a
6ª Bienal terá, então, um número mais enxuto de obras que
as edições anteriores, serão no
máximo 60 artistas.
Finalmente, a mostra tem
ainda um curador responsável
pelo projeto pedagógico, o artista conceitual Luis Camnitzer, nascido na Alemanha, naturalizado uruguaio e residente
em Nova York. "Nossa idéia é
de fato interferir no sistema
público de ensino, queremos
discutir temas que serão abordados pelos artistas; queremos
permitir a colação de problemas e não apenas olhar a aula
ou a visita à mostra como um
produto", conta Pérez-Barreiro, revelando sua vertente mais
acadêmica, baseada, segundo
ele mesmo, nas propostas do
brasileiro Paulo Freire.
O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a convite
da Fundação Bienal do Mercosul
Texto Anterior: Mostra pode ser vista até amanhã no Rio Próximo Texto: Celebridade 1: Rapper Snoop Dogg é preso em aeroporto Índice
|