São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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Bienal do Mercosul quer romper regionalismos

Curador espanhol elimina representações nacionais, como a Bienal de SP

O título da mostra "A Terceira Margem do Rio" foi emprestado do conto de Guimarães Rosa, mas não será propriamente um tema


FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Apesar de ser identificada já no nome como uma exposição que carrega marcas geopolíticas, a 6ª Bienal do Mercosul, programada para ser inaugurada em setembro de 2007, deixa de lado a idéia de representações nacionais, assim como ocorreu neste ano com a Bienal de São Paulo.
Graças ao projeto do curador espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, os países que compõem o Mercosul não terão mais uma presença cativa na mostra. O título, "A Terceira Margem do Rio", foi emprestado do conto de mesmo nome de Guimarães Rosa. "Sou crítico de bienais temáticas, por isso o título é apenas uma metáfora para representar tudo que acaba com binômios do tipo figuração-abstração ou local-global, por exemplo", disse Pérez-Barreiro, 36, à Folha, na última segunda-feira, alguns minutos após desembarcar da viagem de Austin, nos Estados Unidos, onde é curador do Blanton Museum of Art, que pertence à Universidade do Texas.
A idéia de romper com as fronteiras regionais não está inspirada na bienal paulista, mas em sua própria experiência à frente do museu universitário: "Recentemente decidimos que deixaríamos de classificar a coleção até então denominada de "latino-americana" incorporando-a à coleção de arte moderna e contemporânea, e isso foi fruto de uma grande discussão", conta o curador, que também já trabalhou na Americas Society, de Nova York, onde organizou mostras de Lygia Pape, Rivane Neuenschwander e Iran do Espírito Santo, entre outros.

Conversas
Pérez-Barreiro, entretanto, irá utilizar o Mercosul como ponto de partida para os cinco eixos da mostra. "Ao mesmo tempo em que acho necessária a internacionalização da Bienal do Mercosul, como ela ocorre em Porto Alegre, é a partir daqui que ela está sendo concebida", diz o curador, que exemplifica o método a partir da seção "Conversas".
Lá, oito artistas que tenham vínculo com o Mercosul, de residência ou trabalho, serão convidados a convidar outros dois artistas, de qualquer lugar, para participarem da mesma sala. Mais nomes serão adicionados por Pérez-Barreiro e o outro curador desse módulo, o uruguaio Alejandro Cesarco.
Já na seção "Zona Franca", quatro curadores irão selecionar cerca de seis projetos "significativos" de arte contemporânea cada um. Além do próprio curador-geral, participam dessa seção o brasileiro Moacir dos Anjos, a argentina Inês Katzenstein, do Malba, em Buenos Aires, e o venezuelano Luis Enrique Perez Oramas, do MoMA, em Nova York.

Monografias
A Bienal terá três exposições monográficas, que substituem os artistas homenageados das edições anteriores. Selecionados pelo curador-geral, três artistas estarão presentes com um conjunto significativo de obras. São eles o argentino Jorge Macchi, autor do cartaz da Bienal de São Paulo e dos mais presentes artistas estrangeiros em mostras internacionais no Brasil, o brasileiro-sueco Öyvind Fahlström (1929-1976), cuja produção mais reconhecida está inserida no movimento pop dos anos 60, e o uruguaio modernista Francisco Matto (1911-1995); um time bastante heterogêneo.
Completa a mostra um programa de residência artística, também a exemplo do que ocorreu na Bienal de São Paulo, que levará quatro artistas a viverem em Foz do Iguaçu, na fronteira do Brasil, Argentina e Paraguai, e está sendo organizado pelo curador paraguaio Ticio Escobar. "Vejo essa ação ainda como um projeto piloto, mas não sei como ninguém ainda havia pensado nisso, é uma região que envolve várias questões, partindo do mais local para o mais internacional", defende o curador-geral. No total, a 6ª Bienal terá, então, um número mais enxuto de obras que as edições anteriores, serão no máximo 60 artistas.
Finalmente, a mostra tem ainda um curador responsável pelo projeto pedagógico, o artista conceitual Luis Camnitzer, nascido na Alemanha, naturalizado uruguaio e residente em Nova York. "Nossa idéia é de fato interferir no sistema público de ensino, queremos discutir temas que serão abordados pelos artistas; queremos permitir a colação de problemas e não apenas olhar a aula ou a visita à mostra como um produto", conta Pérez-Barreiro, revelando sua vertente mais acadêmica, baseada, segundo ele mesmo, nas propostas do brasileiro Paulo Freire.


O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a convite da Fundação Bienal do Mercosul

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