São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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Crítica/"Californication"

Astro de "Arquivo X" vira galã em série à base de sexo e drogas

Programa da Warner apresenta David Duchovny como um garanhão em crise de identidade na costa Oeste dos EUA

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

"Sex and the City" na Costa Oeste com um garanhão no lugar das quatro amigas. A inversão da fórmula de sucesso da HBO é a estratégia da produtora Showtime com "Californication", em mais um passo para desbancar a concorrente. A série, que começa a ser exibida no Brasil no próximo dia 6, às 22h, é um dos carros-chefe da nova programação do Warner. Criada por Tom Kapinos, cujo currículo até agora só registrava roteiros de "Dawson's Creek", "Californication" anuncia desde o piloto a intenção de ir além dos limites considerados respeitáveis da TV.
Centrada no personagem de Hank Moody (que marca o retorno de David Duchovny, o agente Fox Mulder de "Arquivo X", depois de um longo hiato em papéis sem destaque), a série narra o cotidiano de um escritor nova-iorquino que parte para Los Angeles em busca de novas chances no território hollywoodiano, mas passa por um bloqueio criativo. Em torno dele, gravitam a ex-namorada Karen e Becka, filha do casal. O que distingue este da interminável lista de dramas familiares é que "Californication", em definitivo, não é uma produção para famílias assistirem.
Logo na primeira cena do piloto, Hank entra numa igreja, conversa com uma imagem de Cristo em tom jocoso e é abordado por uma freira, que lhe diz: "Na maioria dos casos eu recomendaria cinco ave-marias e dez pai-nossos, mas acho que o que você está precisando é de um boquete". O que vem a seguir é uma sucessão de cenas de transas, nudez e um tratamento sem pudor do sexo recreativo.
A questão familiar, contudo, centrada no problema dos papéis e dos exemplos morais volta à tona nas situações de cotidiano entre Hank e a filha de 12 anos, e os problemas de relacionamento ocupam o centro da trama depois dos três primeiros episódios mais quentes.
Com essa mistura, "Californication" se afasta relativamente de "Sex and the City", já que seu foco em crônica de costumes recorre ao sexo num viés mais moralista do que aparenta à primeira vista, graças ao comportamento em permanente crise de seu protagonista. Hank mergulha em sexo, cigarros, álcool e drogas, mas a combinação só serve para acentuar sua sensação de estar perdido no mundo.
A ambigüidade do personagem de Duchovny, de fato, aproxima "Californication" de "Nip/Tuck", em particular nas ironias recorrentes sobre a obsessão física (uma garota lhe pergunta o que acha de seu rejuvenescimento vaginal, uma parceira quarentona quer saber se ainda é gostosa).
A série também traz uma aparente novidade na mistura de gêneros e formato. É anunciada como comédia, mas de fato trata-se de uma farsa dramática. Por outro lado, preserva da sitcom a duração dos episódios: 30 minutos, em vez dos mais de 50 minutos estabelecidos como padrão pela HBO em suas produções dramáticas.


CALIFORNICATION
Quando:
estréia 6/11, às 22h, no Warner Channel
Avaliação: bom


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