|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Californication"
Astro de "Arquivo X" vira galã em série à base de sexo e drogas
Programa da Warner apresenta David Duchovny como um garanhão em crise de identidade na costa Oeste dos EUA
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
"Sex and the City" na
Costa Oeste com um
garanhão no lugar
das quatro amigas. A inversão
da fórmula de sucesso da HBO
é a estratégia da produtora
Showtime com "Californication", em mais um passo para
desbancar a concorrente. A série, que começa a ser exibida no
Brasil no próximo dia 6, às 22h,
é um dos carros-chefe da nova
programação do Warner.
Criada por Tom Kapinos, cujo currículo até agora só registrava roteiros de "Dawson's
Creek", "Californication"
anuncia desde o piloto a intenção de ir além dos limites considerados respeitáveis da TV.
Centrada no personagem de
Hank Moody (que marca o retorno de David Duchovny, o
agente Fox Mulder de "Arquivo
X", depois de um longo hiato
em papéis sem destaque), a série narra o cotidiano de um escritor nova-iorquino que parte
para Los Angeles em busca de
novas chances no território
hollywoodiano, mas passa por
um bloqueio criativo. Em torno
dele, gravitam a ex-namorada
Karen e Becka, filha do casal.
O que distingue este da interminável lista de dramas familiares é que "Californication",
em definitivo, não é uma produção para famílias assistirem.
Logo na primeira cena do piloto, Hank entra numa igreja,
conversa com uma imagem de
Cristo em tom jocoso e é abordado por uma freira, que lhe
diz: "Na maioria dos casos eu
recomendaria cinco ave-marias e dez pai-nossos, mas acho
que o que você está precisando
é de um boquete".
O que vem a seguir é uma sucessão de cenas de transas, nudez e um tratamento sem pudor do sexo recreativo.
A questão familiar, contudo,
centrada no problema dos papéis e dos exemplos morais volta à tona nas situações de cotidiano entre Hank e a filha de 12 anos, e os problemas de relacionamento ocupam o centro da
trama depois dos três primeiros episódios mais quentes.
Com essa mistura, "Californication" se afasta relativamente de "Sex and the City", já
que seu foco em crônica de costumes recorre ao sexo num viés
mais moralista do que aparenta
à primeira vista, graças ao comportamento em permanente
crise de seu protagonista.
Hank mergulha em sexo, cigarros, álcool e drogas, mas a
combinação só serve para acentuar sua sensação de estar perdido no mundo.
A ambigüidade do personagem de Duchovny, de fato,
aproxima "Californication" de
"Nip/Tuck", em particular nas
ironias recorrentes sobre a obsessão física (uma garota lhe
pergunta o que acha de seu rejuvenescimento vaginal, uma
parceira quarentona quer saber se ainda é gostosa).
A série também traz uma
aparente novidade na mistura
de gêneros e formato. É anunciada como comédia, mas de fato trata-se de uma farsa dramática. Por outro lado, preserva da
sitcom a duração dos episódios:
30 minutos, em vez dos mais de
50 minutos estabelecidos como
padrão pela HBO em suas produções dramáticas.
CALIFORNICATION
Quando: estréia 6/11, às 22h, no Warner Channel
Avaliação: bom
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: 1ª temporada de "XXX-Files" acaba nos EUA Índice
|