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Donato e Bud Shank se reencontram no palco
Pianista expoente da bossa nova e saxofonista americano tocam juntos em SP
Músicos se conheceram nos anos 60, fizeram parcerias na época e jam no Chivas Jazz, em 2004; Biscoito Fino deve lançar CD inédito
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Foram mais de 30 anos de espera para o show que acontece
hoje e amanhã no Sesc Pinheiros, reunindo o saxofonista
americano Bud Shank e o pianista João Donato. A história
da relação entre os dois músicos começa ainda nos anos 50,
quando Donato era um jovem
fã de música e Shank já era saxofonista da orquestra do bandleader Stan Kenton.
"Eu acordei para a música
com a minha primeira insônia",
lembra Donato. "E ela aconteceu quando eu ouvi pela primeira vez a orquestra de Stan
Kenton, em um 78 rotações que
dizia "destacando o solista Bud
Shank". Fiquei tão impressionado com aquela música que
não consegui dormir. O Bud
Shank tem só oito anos a mais
que eu, mas naquela época ele
já tocava, e eu estava apenas
acordando."
Mas Donato acordou rápido,
e poucos anos depois veio o segundo capítulo da história.
Após tocar na noite, gravar alguns discos e ser considerado
um dos pilares da bossa nova, o
pianista se mudou para a Califórnia no começo dos anos 60.
Lá, entre visitas a clubes e gravadoras, conheceu Shank.
"Eu sabia quem ele era porque lia o nome dele nos selos
dos discos, mas ele não me conhecia", lembra Donato. "Mas
ele gostou da minha música e
mostrou pro Richard Bock, diretor da gravadora dele, a Pacific Jazz. Ele também gostou do
meu disco, lançou por lá e ainda
combinou de fazermos um disco juntos, o "Bud Shank and His
Brazilian Friends"."
Esse mesmo disco, lançado
originalmente pela Pacific
-mesma gravadora de gente
como Gerry Mulligan e Chet
Baker-, ganhou também edição nacional pela cultuada
Elenco. E assim começou a carreira de Donato nos EUA. Em
pouco tempo, se apresentava
em clubes com Shank e músicos como Chet Baker, gravava
discos solo e participava de
apresentações e gravações de
nomes do jazz latino, como Cal
Tjader e Mongo Santamaría.
Por alguns anos, Donato e
Shank continuaram se encontrando, em inúmeras apresentações juntos e na gravação de
discos de Donato como "A Bad
Donato", de 1970. Mas logo depois Donato voltou de vez ao
Brasil e os dois músicos nunca
mais se falaram. Poderia ser o
fim, mas agora cortamos para o
presente, 34 anos depois.
Em 2004, Bud Shank foi um
dos convidados da quinta edição do extinto Chivas Jazz Festival. Quando subiu ao palco,
lembrou-se do velho amigo e
convidou Donato para sentar-se ao piano. O reencontro empolgou os dois, que correram
para um estúdio no Rio e, em
duas tardes, gravaram nove
músicas, algumas delas em que
tocavam por mais de 20 minutos -gravação que promete ver
a luz do sol no ano que vem, pela gravadora Biscoito Fino.
Agora, novembro de 2006,
Bud Shank volta ao Brasil e os
dois músicos finalmente se
reencontram no palco para um
show inteiramente dedicado às
suas parcerias. Pode-se esperar
músicas como "Minha Saudade", de Donato, e "Lotus Bud",
do trompetista Shorty Rogers.
"Nós não sabemos o repertório do show até a hora em que
tocamos", conta Donato. "A
gente olha um para o outro e
decide o que fazer."
JOÃO DONATO E BUD SHANK
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quanto: R$ 20
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