São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 2006

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Donato e Bud Shank se reencontram no palco

Pianista expoente da bossa nova e saxofonista americano tocam juntos em SP

Músicos se conheceram nos anos 60, fizeram parcerias na época e jam no Chivas Jazz, em 2004; Biscoito Fino deve lançar CD inédito


RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Foram mais de 30 anos de espera para o show que acontece hoje e amanhã no Sesc Pinheiros, reunindo o saxofonista americano Bud Shank e o pianista João Donato. A história da relação entre os dois músicos começa ainda nos anos 50, quando Donato era um jovem fã de música e Shank já era saxofonista da orquestra do bandleader Stan Kenton.
"Eu acordei para a música com a minha primeira insônia", lembra Donato. "E ela aconteceu quando eu ouvi pela primeira vez a orquestra de Stan Kenton, em um 78 rotações que dizia "destacando o solista Bud Shank". Fiquei tão impressionado com aquela música que não consegui dormir. O Bud Shank tem só oito anos a mais que eu, mas naquela época ele já tocava, e eu estava apenas acordando."
Mas Donato acordou rápido, e poucos anos depois veio o segundo capítulo da história. Após tocar na noite, gravar alguns discos e ser considerado um dos pilares da bossa nova, o pianista se mudou para a Califórnia no começo dos anos 60.
Lá, entre visitas a clubes e gravadoras, conheceu Shank.
"Eu sabia quem ele era porque lia o nome dele nos selos dos discos, mas ele não me conhecia", lembra Donato. "Mas ele gostou da minha música e mostrou pro Richard Bock, diretor da gravadora dele, a Pacific Jazz. Ele também gostou do meu disco, lançou por lá e ainda combinou de fazermos um disco juntos, o "Bud Shank and His Brazilian Friends"."
Esse mesmo disco, lançado originalmente pela Pacific -mesma gravadora de gente como Gerry Mulligan e Chet Baker-, ganhou também edição nacional pela cultuada Elenco. E assim começou a carreira de Donato nos EUA. Em pouco tempo, se apresentava em clubes com Shank e músicos como Chet Baker, gravava discos solo e participava de apresentações e gravações de nomes do jazz latino, como Cal Tjader e Mongo Santamaría.
Por alguns anos, Donato e Shank continuaram se encontrando, em inúmeras apresentações juntos e na gravação de discos de Donato como "A Bad Donato", de 1970. Mas logo depois Donato voltou de vez ao Brasil e os dois músicos nunca mais se falaram. Poderia ser o fim, mas agora cortamos para o presente, 34 anos depois.
Em 2004, Bud Shank foi um dos convidados da quinta edição do extinto Chivas Jazz Festival. Quando subiu ao palco, lembrou-se do velho amigo e convidou Donato para sentar-se ao piano. O reencontro empolgou os dois, que correram para um estúdio no Rio e, em duas tardes, gravaram nove músicas, algumas delas em que tocavam por mais de 20 minutos -gravação que promete ver a luz do sol no ano que vem, pela gravadora Biscoito Fino.
Agora, novembro de 2006, Bud Shank volta ao Brasil e os dois músicos finalmente se reencontram no palco para um show inteiramente dedicado às suas parcerias. Pode-se esperar músicas como "Minha Saudade", de Donato, e "Lotus Bud", do trompetista Shorty Rogers.
"Nós não sabemos o repertório do show até a hora em que tocamos", conta Donato. "A gente olha um para o outro e decide o que fazer."


JOÃO DONATO E BUD SHANK
Quando:
hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
Quanto: R$ 20


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