São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007

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Cavalo abandona Duque de Caxias e vinga história da Guerra do Paraguai

DA REPORTAGEM LOCAL

Num momento dramático da história do Brasil, o cavalo da famosa estátua de Duque de Caxias -obra de Victor Brecheret (1894-1955), na praça Princesa Isabel (SP)- resolve abandonar o herói nacional.
O intrépido quadrúpede, então, assiste a uma pelada que os imigrantes bolivianos costumam armar por ali todos os sábados de manhã. Depois, sai pelo mundo para vingar-se da versão da história da Guerra do Paraguai imortalizada nos manuais escolares.
Essa é a trama rocambolesca de "Caballeros Solitários Rumo ao Sol Poente", primeiro romance do jornalista e colunista da Folha Xico Sá, que acaba de chegar às livrarias.
Escrito no mais puro portunhol, o livro mistura influências que vão do Quixote de Cervantes ao som de Mundo Livre S.A., entre outras paradas. (SC)

 

FOLHA - Por que a idéia de dar vida a um "personagem histórico", como o cavalo de Duque de Caxias?
XICO SÁ -
O massacre da Guerra do Paraguai sempre me incomodou, desde que soube que tudo aquilo que havia estudado na escola era uma farsa. Então, comecei a olhar enviesado para todas as estátuas de Duque de Caxias que via pela frente. Depois, imaginei o cavalo gigante da estátua que está na praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, saltando lá do alto e salvando, na sarjeta, um cavaleiro delirante.
Somei isso às peladas que os imigrantes latinos, principalmente bolivianos, fazem todos os sábados no local, ali aos pés do suposto herói nacional brasileiro. Estava feita a desordem de surrealismo-histórico.

FOLHA - Você diria que é influenciado pelos escritores do Século de Ouro espanhol e por Cervantes?
XICO -
Sim, acho que tem um traço pesado do barroquismo espanhol, no meu caso muito tomado dos cubanos -Carpentier e outros labirínticos e maravilhosos- e principalmente dos picarescos todos de Espanha. Mas não adianta amar Quixote ou os pícaros e ser um romancista contemporâneo sem citar Iggy Pop e Goran Bregovic (das trilhas balcânicas e ciganas de Emir Kusturica), além do rock latino-americano de Wander Wildner, do Mundo Livre S/A, dos Aterciopelados... Quero ser o Cervantes do sample moderno!

FOLHA - Você acha que o portunhol pode virar uma espécie de "esperanto da América Latina"?
XICO -
Não. O portunhol selvagem -nunca o simples portunhol do turista idiota que morre de vergonha em Londres e em Nova York por não falar direito inglês e achar que tá enrolando os argentinos e os paraguayos amados- nunca vai cair nesse conto. O portunhol selvagem só vale se tiver a violência sacoleira e se for enriquecido. Acho que ele representa o desgosto de nós, brasileiros, de vivermos a solidão da isla encantada da língua portuguesa. Algo que pode soar como um certo banzo ao longe!


CABALLEROS SOLITÁRIOS RUMO AO SOL POENTE
Autor:
Xico Sá
Lançamento: Editora do Bispo
Quanto: 28 (143 págs.)


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