São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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Queda de preço de ingressos é incerta

Produtores das diversas áreas culturais divergem sobre os efeitos da proposta de limitar em 40% a meia-entrada

Representantes das áreas de teatro e show acenam com redução no valor dos ingressos, mas setor cinematográfico discorda


AUDREY FURLANETO
LAURA MATTOS
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

O projeto que limita em 40% a cota para meia-entrada em eventos culturais e esportivos motivou a inevitável pergunta: o preço dos ingressos vai cair com a iniciativa? A resposta: depende. Em shows e peças teatrais, produtores afirmam que sim, o preço deve baixar. Já o representante do circuito exibidor cinematográfica diz que não sabe se haverá diminuição do valor cobrado.
A Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado aprovou o projeto da meia-entrada, que será votado novamente na próxima semana e, depois, irá para a Câmara dos Deputados.
Se aprovada, a cota de 40% será comemorada por produtores culturais. Já entidades que representam estudantes, como UNE (União Nacional dos Estudantes) e Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), são contra o limite.
Para Luiz Oscar Niemeyer, da Plan Music (produtora de shows de Rolling Stones, Elton John e Radiohead), o limite de 40% de meia-entrada levará a uma redução no preço dos ingressos. "O preço deve baixar, sim. Hoje, quando fazemos o planejamento de um show, não sabemos o quanto teremos de meia-entrada, então a tendência é subir um pouco o preço dos ingressos. Se houver uma regra estabelecida, você pode buscar um preço médio que seja bom para o consumidor e que cubra os custos operacionais."
Alguns produtores ouvidos pela Folha afirmam que, no preço de um ingresso, entram cerca de 14% de impostos, entre 20% e 30% são lucro do produtor, e o restante cobre custos da casa de shows e despesas com o artista (cachê, passagem, alimentação etc.).
William Crunfli, da Mondo (Bob Dylan, Coldplay, High School Musical), também avalia que com a cota de 40% o preço dos ingressos "vai ficar mais barato".
"Poderemos fazer uma planilha de custos melhor. É a partir disso que sai o valor das propostas que fazemos aos artistas internacionais. Do jeito que está hoje, temos que chutar um valor", diz Crunfli.
Segundo Crunfli, em um show de um artista pop em São Paulo "cerca de 80% dos ingressos vendidos são de meia-entrada. No Rio, chega a 90%".

Teatro
A opinião dos produtores teatrais vai na mesma linha da dos de shows. Segundo Paulo Pélico, diretor-secretário da Apetesp (Associação dos Produtores Teatrais do Estado de São Paulo), "não há, de fato, compromisso formal em baixar os preços, mas é o que fatalmente vai acontecer, porque a meia-entrada pesa demais no balanço final do produto".
Eduardo Barata, da APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio), diz que "a tendência, com a cota, é baixar os preços, o que hoje é inviável, tendo entre 70% e 90% de meia-entrada".
Ele usa como exemplo o espetáculo teatral "Brincando em Cima Daquilo". "Em Brasília, dos 1.100 pagantes, apenas 106 compraram ingresso inteiro", afirma. "Isso fez com que eu tivesse de cobrar R$ 100, R$ 120 por ingresso, tornando a peça inacessível para mais pessoas", argumenta Barata.
Representando uma tendência atual de atores que também são produtores (e portanto fazem lobby contra a meia-entrada ou pela redução da cota para estudantes), Odilon Wagner, presidente da APTI (Associação dos Produtores Teatrais Independentes), diz que "não tem dúvidas sobre a redução dos preços". Ele estima que a queda do valor dos ingressos poderá atingir entre 20% e 30%.

Cinema
A mesma perspectiva, no entanto, não é vista pela área de cinema. Marcelo Bertini, presidente da Abraplex (Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex), diz: "Ainda não podemos dizer se é certo que haverá redução do preço do ingresso. É preciso primeiro avaliar o impacto. Nos últimos dois anos, a maioria dos cinemas não aumentou o preço do ingresso nem repassou o valor da inflação". Para ele, o projeto "é um grande avanço, mesmo não sendo completo".


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