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Ele achou a batida perfeita
Um dos maiores sucessos de James Brown, "Funky Drummer", de 1969, é uma das músicas mais sampleadas do mundo
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde a última segunda, James Brown não está mais aqui
para sapatear, rodopiar e pedir
"one more time", mas ele deixou para trás, entre inúmeros
clássicos, uma das duas canções mais influentes do pop.
"Tomorrow Never Knows",
dos Beatles, que encerra "Revolver" (1966), e "Funky Drummer", gravada por Brown em
1969, são as faixas que mais deixaram rastros na música jovem
contemporânea -motivaram
novas idéias, abriram caminhos e estão incrustadas no que
vem sendo produzido até hoje.
"É a música que está no subconsciente do pop", diz DJ
Hum sobre "Funky Drummer".
Não é exagero. Não há como
apontar com precisão, mas, se
não for a primeira, "Funky
Drummer" está entre as três
canções mais sampleadas da
história. Praticamente todo
rapper já utilizou pedaços de
sua batidas; até artistas díspares como Prince, New Order,
Sinnead O'Connor, Depeche
Mode e 808 State têm músicas
que incorporam elementos da
criação de James Brown (veja
quadro nesta página).
"Se não fosse "Funk Drummer", não existiria drum'n'bass
e breakbeat. Essa é que é a verdade", afirma o DJ Marky.
(Dá para dizer que "Funky
Drummer" é a mãe do d'n'b -o
pai é "Amen, Brother", música
gravada pelos Winstons.)
Apesar de sua importância, a
canção nunca foi colocada em
disco -Brown preferiu lançá-la
em formato single em 1970. Em
1986, ela apareceu na coletânea
"In the Jungle".
Mas o que "Funky Drummer" tem de tão especial?
"Ela tem um "break" no meio,
a quebrada, em que abre-se espaço para a bateria. Essa quebrada foi sampleada milhões de
vezes. É a principal batida dos
anos 90", explica Hum.
"Além disso, há o timbre e o
desenho da música, sua estrutura. Antes dessa canção, não
investia-se em batidas quebradas, as músicas eram mantidas
numa melodia linear. Com
"Funky Drummer", o ritmo tornou-se o mais importante."
É o que todo mundo conhece
por groove.
"A bateria é incrível", diz
Marky. "Ninguém fazia aquele
break. Nunca vi um baterista
tocar daquele jeito, nem computador consegue fazer. É o
maior clássico dele, pena que
muitas pessoas não saibam."
Semi-instrumental
"Funky Drummer" é semi-instrumental -semi porque
não há letra, mas intervenções
vocais de James Brown.
No meio da música, Brown
ordena que todos os instrumentos parem, fica apenas a
bateria tocada por Clyde Stubblefield. Não é um solo de bateria -Brown instrui o baterista
a seguir a linha das batidas.
Hoje, soa simples. Na virada
dos 60 para os 70, era como a
descoberta da roda.
"Ele era um cantor de blues
que teve a idéia de colocar beat
por trás", afirma Ed Motta. "As
melodias são todas de blues,
com aqueles gritos que depois
influenciaram até os vocalistas
de heavy metal. Ninguém dava
gritos daquela maneira."
A importância de James
Brown para o pop é enorme por
causa de "Funky Drummer",
mas não fica apenas nisso.
"Ele criou a história de tocar
no primeiro tempo. Ninguém
fazia aquilo, colocar o baixo na
frente, a bateria em primeiro
plano. Hoje isso é normal",
aponta Hum. "Muitas vezes, a
guitarra do Brown está em
loop, com o mesmo acorde em
repetição. Era um sample antes
do sample existir."
Para Motta, Brown teve um
retorno nos 80. ""Sledgehammer", do Peter Gabriel, por
exemplo, utiliza os fundamentos do James Brown. E até mesmo a atitude "sex symbol" dele."
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