São Paulo, terça-feira, 29 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Artilharia pesada

Globo prepara maior estratégia de sua história na disputa por audiência com "Big Brother Brasil", que começa hoje

Divulgação
Cinegrafista ajusta uma das câmeras que registrarão o cotidiano dos 13 participantes do "reality show" "Big Brother Brasil", que começa hoje na Globo



LAURA MATTOS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Quando "Big Brother" estrear hoje, a Globo não estará apenas testando o consagrado formato de "reality show". Colocará em jogo a maior estratégia de sua história na disputa pela audiência.
Trata-se do mais alto investimento financeiro da emissora em um único produto. Só para comprar os direitos do programa da produtora holandesa Endemol, a Globo gastou algo em torno de US$ 5 milhões (R$ 12 milhões). Na construção da casa, dos estúdios, compra de equipamento e tudo o que envolve a realização da gincana, a emissora gastou pelos menos outros R$ 12 milhões.
A aposta, no entanto, não é só monetária. "Big Brother" estréia também uma nova concepção comercial da Globo. É a primeira vez que a emissora organiza o que os publicitários chamam de "cross media". Todos os veículos das Organizações Globo estarão trabalhando com o produto "Big Brother", e a venda de patrocínio cruza os vários meios. Ou seja, quem paga uma das quatro cotas de R$ 4,8 milhões tem direito a anúncio em rádio, internet, revistas, jornais, além da televisão.
Ousado, o projeto prevê iniciativas no mínimo controversas. O plano de mídia enviado aos anunciantes, por exemplo, garantia cobertura "jornalística" do programa no "Jornal Nacional", "Fantástico" e "Vídeo Show".
Além disso, haverá colunas diária sobre "Big Brother Brasil" em jornais das Organizações Globo (o carioca "Extra" e "Diário de São Paulo"). Na última sexta, a Globo convidou alguns jornalistas para conhecer o local da gincana. Repórteres dos jornais da casa, após a visita, reuniram-se com Luís Gleiser, diretor da multiplataforma "Big Brother", para combinar a produção da coluna.
Além disso, os familiares dos 12 participantes receberam a "recomendação" de não dar entrevista, a não ser quando procurados pelas Organizações Globo.
Ao redor da casa construída no Projac (central de estúdios da Globo no Rio), há salas que abrigarão equipes da Net/Sky (operadoras de TV paga da Globo que venderão "pay-per-view" do programa), do Multishow (canal da Globosat que transmitirá a atração), do portal Globo.com e do Sistema Globo de Rádio. Os jornais e a revista "Quem", da Globo, também devem ter acesso privilegiado ao local de gravação.
Ao todo, a área "Big Brother" tem 2.300 m2, sendo que 1.650 são da casa onde irão morar os concorrentes, e 650, da área de produção. Cerca de 500 funcionários estão envolvidos no projeto. Alguns deles contratados pela Globo especialmente para o programa.
Com esse esquema, a cúpula da emissora nem cogita a possibilidade de "BBB" fracassar. Uma das grandes preocupações é com uma eventual estréia surpresa de "Casa dos Artistas", do SBT.
Se houver embate direto entre os dois programas, a Globo sabe que tem de vencer. Associar a imagem do maior projeto global a uma derrota em audiência e repercussão para o "reality show" de Silvio Santos traria à emissora prejuízos incalculáveis.
A equipe de "BBB" prepara-se para enfrentar a tensão dos próximos 54 dias, tempo que deve durar o programa. O diretor, J.B. de Oliveira, Boninho, acredita que deva passar 18 horas por dia na emissora até o final da atração, provavelmente dia 24 de março.
A partir de hoje, o telespectador enfrenta a maratona "Big Brother" diariamente. O principal dia da gincana será terça-feira. "BBB" entra no ar depois da novela "O Clone" e dura 45 minutos. É na terça que acontece o principal evento da gincana: a eliminação de um dos candidatos.
"BBB" será apresentado pela atriz Marisa Orth e pelo jornalista Pedro Bial. Hoje, o programa mostra os concorrentes deixando o hotel onde estavam isolados desde quinta passada. Os candidatos serão apresentados e devem conversar com os apresentadores.
Às quartas, "BBB" terá dez minutos, também depois de "O Clone". Às quintas, com a mesma duração, vai ao ar depois de "O Quinto dos Infernos" e, às sextas, também após a minissérie, terá 15 minutos. No sábado, será exibido por 15 minutos depois de "Zorra Total". A edição de domingo é a segunda mais importante. Depois do "Fantástico", com meia hora, "Big Brother" mostra a votação dos candidatos nas duas pessoas que poderão ser eliminadas pelo público na terça. Na segunda, o programa, com 15 minutos, vai ao ar após "O Clone".
Os telespectadores votam por telefone, provavelmente pelo 0800. Os números devem ser abertos após a edição dominical.
Tudo isso sem falar dos programas no rádio, da votação pela internet, dos debates nas atrações da Globo, da repercussão em outros canais de TV, imprensa... Resumindo, quem não quiser ouvir falar de "Big Brother" nos próximos dois meses terá de se submeter a uma experiência parecida com a que os candidatos do programa irão viver: passar o dia em casa, sem TV, rádio, internet ou qualquer contato com o mundo.

A jornalista Laura Mattos viajou a convite da TV Globo

Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Boninho não vê semelhança entre "BBB" e "Casa"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.