São Paulo, terça-feira, 29 de janeiro de 2002

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NET CETERA

A decadência do império americano

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

"A relação entre pensamento e ação; a dificuldade de alcançar a verdade moral num mundo espiritualmente ambíguo; a virtude da vingança e da justiça punitiva; a conexão entre o bem-estar de uma nação e a legitimidade moral de seu líder; a virtude do suicídio num mundo de dor insuportável; as relações familiares."

"Os suspeitos habituais do antigo drama grego são os protagonistas nessas famosas peças: Electra, Orestes e Agamenon. Essas tragédias formarão a base do teatro dos próximos mil anos."

As duas definições acima foram tiradas dos dois sites mais populares entre os estudantes norte-americanos do que seria o equivalente ao brasileiro segundo grau. A primeira é uma lista de como pode ser definido "Hamlet", de Shakespeare. A segunda, um resumo breve das peças "Agamenon", "Coéforas" e "Eumênides", a "Oréstia", de Ésquilo.
Os serviços são o SparkNotes (www.sparknotes.com) e seu concorrente direto, Cliffs Notes (www.cliffsnotes.com), nada mais que a institucionalização daquele amigo inteligente e mais pobre que fazia por dinheiro os trabalhos de fim de ano para os estudantes preguiçosos.
E que amigo: em ambos os sites, os resumos, as análises e as dicas são preparados por formandos da prestigiosa Universidade Harvard, que pegam o bico para ajudar nas caras mensalidades. Na Spark, pelo menos 20 dos quase 300 colaboradores vêm de lá e escrevem sobre temas que vão do fim do Império Romano à explicação de "Esperando Godot" em 20 palavras ou menos.
Nada é de graça, claro: na Cliff Notes, você tem de comprar o livro (entregue pela gigante Barnes & Noble, que acabou de adquirir o site) ou pagar o download; na Spark, depois de um número de consultas, cobra-se uma mensalidade. Mas os serviços só crescem.
A busca pelo conhecimento (dos outros) fácil e mastigado lembra a definição que um professor de literatura dá para uma classe de filhos da elite californiana na curiosa comédia "Orange County", filme inédito no Brasil: "Quando a gente pensa em Shakespeare, pensa logo em Leonardo DiCaprio, Kenneth Brannagh... Mas não podemos esquecer que o bardo inglês é autor de outros livros importantes, como "Chocolate", "Gladiador"...".

E-mail: sergiodavila@uol.com.br
Internet: www.uol.com.br/sergiodavila

MAIS TRÊS COISAS

1. A Bolsa imita a arte
Começou na década de 90 a atual mania dos americanos de acompanharem as bilheterias do fim de semana das estréias de cinema como se fossem ações da Bolsa. Pois um site foi mais longe e criou a Hollywood Stock Exchange (Bolsa de Valores de Hollywood). Em www.hsx.com, dá para comprar ações de estúdios, apostar em concorrentes do Oscar e ficar rico -tudo com o H$, o dólar hollywoodiano, de mentirinha.

2. Pornô engajado
A idéia é original. Cada vez que alguém usa um site de procura atrás de endereços pornôs, encontra o Get (Some) Real ("Se Dê Bem de Verdade", em inglês). O endereço www.getsomereal.com, criado pela sueca Marie Birde, da revista "Darling", tenta conscientizar o internauta e a internauta taradões de que a pornografia também pode ser exploração. Há ainda a opção de se criar um site pornô falso, para que as pessoas acabem nele e sejam também conscientizadas.

3. O site da semana
www.mostra.org
O maior festival de cinema do Brasil, a Mostra de SP, ganha um periódico interessante, com notícias e resenhas. Vale se cadastrar.



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