|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NET CETERA
A decadência do império americano
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
"A relação entre pensamento e ação; a dificuldade de alcançar a verdade moral num mundo espiritualmente ambíguo; a virtude da vingança e da justiça punitiva; a conexão entre o bem-estar de uma
nação e a legitimidade moral de
seu líder; a virtude do suicídio
num mundo de dor insuportável; as relações familiares."
"Os suspeitos habituais do antigo drama grego são os protagonistas nessas famosas peças:
Electra, Orestes e Agamenon.
Essas tragédias formarão a base
do teatro dos próximos mil
anos."
As duas definições acima foram
tiradas dos dois sites mais populares entre os estudantes norte-americanos do que seria o
equivalente ao brasileiro segundo grau. A primeira é uma lista
de como pode ser definido
"Hamlet", de Shakespeare. A
segunda, um resumo breve das
peças "Agamenon", "Coéforas"
e "Eumênides", a "Oréstia", de
Ésquilo.
Os serviços são o SparkNotes
(www.sparknotes.com) e seu
concorrente direto, Cliffs Notes
(www.cliffsnotes.com), nada
mais que a institucionalização
daquele amigo inteligente e
mais pobre que fazia por dinheiro os trabalhos de fim de
ano para os estudantes preguiçosos.
E que amigo: em ambos os sites, os resumos, as análises e as
dicas são preparados por formandos da prestigiosa Universidade Harvard, que pegam o
bico para ajudar nas caras mensalidades. Na Spark, pelo menos
20 dos quase 300 colaboradores
vêm de lá e escrevem sobre temas que vão do fim do Império
Romano à explicação de "Esperando Godot" em 20 palavras
ou menos.
Nada é de graça, claro: na Cliff
Notes, você tem de comprar o livro (entregue pela gigante Barnes & Noble, que acabou de adquirir o site) ou pagar o download; na Spark, depois de um
número de consultas, cobra-se
uma mensalidade. Mas os serviços só crescem.
A busca pelo conhecimento
(dos outros) fácil e mastigado
lembra a definição que um professor de literatura dá para uma
classe de filhos da elite californiana na curiosa comédia
"Orange County", filme inédito
no Brasil: "Quando a gente pensa em Shakespeare, pensa logo
em Leonardo DiCaprio, Kenneth Brannagh... Mas não podemos esquecer que o bardo inglês é autor de outros livros importantes, como "Chocolate",
"Gladiador"...".
E-mail: sergiodavila@uol.com.br
Internet: www.uol.com.br/sergiodavila
MAIS TRÊS COISAS
1. A Bolsa imita a arte
Começou na década de 90 a atual mania dos americanos de
acompanharem as bilheterias do fim de semana das estréias de
cinema como se fossem ações da Bolsa. Pois um site foi mais
longe e criou a Hollywood Stock Exchange (Bolsa de Valores de
Hollywood). Em www.hsx.com, dá para comprar ações de
estúdios, apostar em concorrentes do Oscar e ficar rico -tudo
com o H$, o dólar hollywoodiano, de mentirinha.
2. Pornô engajado
A idéia é original. Cada vez que alguém usa um site de procura
atrás de endereços pornôs, encontra o Get (Some) Real ("Se Dê
Bem de Verdade", em inglês). O endereço
www.getsomereal.com, criado pela sueca Marie Birde, da
revista "Darling", tenta conscientizar o internauta e a internauta
taradões de que a pornografia também pode ser exploração. Há
ainda a opção de se criar um site pornô falso, para que as pessoas
acabem nele e sejam também conscientizadas.
3. O site da semana
www.mostra.org
O maior festival de cinema do Brasil, a Mostra de SP, ganha um
periódico interessante, com notícias e resenhas. Vale se
cadastrar.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Dança: Centro Paulista abrigará Cisne Negro e Stagium Índice
|