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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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OUTRA FREQUÊNCIA

PF fecha cerco contra rádios; padre é "missão número 1"

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto o governo Lula não decide o que fazer com as polêmicas rádios comunitárias, a Polícia Federal já deu uma determinação a seus agentes: fechar o cerco contra AMs e FMs sem autorização para operar.
A ação da PF de São Paulo é uma clara demonstração dessa política. O GCrac (Grupo de Combate às Rádio Clandestinas), antes formado por policiais "emprestados" de outras áreas por tempo determinado, contará com uma equipe fixa e especializada.
O escritório do grupo passará por reforma, com melhorias tecnológicas e a implementação de um banco de dados sobre as rádios. "A ordem é agilizar processos e fazer uma fiscalização mais rígida", diz Gladson Rogério, um dos delegados-titulares do GCrac.
O atual "inimigo número 1" do grupo é Francisco Silva, que se auto-intitula padre vidente e usa a pirata Planeta 90 FM (90,1 MHz, em SP) para fazer propaganda de suas consultas na igreja no Brás.
Em dezembro, a PF apreendeu no local uma submetralhadora com silenciador, uma espingarda e munição, entre outras coisas. Lacrou a antena que emitia sinais da rádio, em Mairiporã, e instaurou inquérito contra Silva. Além de dono de rádio clandestina, ele também poderá ser indiciado por porte ilegal de arma, lavagem de dinheiro e crimes contra a ordem tributária, segundo a PF.
A Folha tentou falar com o padre por dois dias na igreja, mas atendentes sempre informavam que ele não estava e que não poderiam comentar as acusações.
O mais interessante de toda essa história: poucos dias depois de a antena ter sido lacrada, a Planeta 90 FM já estava no ar novamente, podendo ser sintonizada em toda a região metropolitana de São Paulo (vale a pena escutar uns minutos, só por curiosidade...).
Essa não foi a primeira vez que uma operação da PF não conseguiu, de fato, fechar a rádio. Desde 1998, quando a emissora foi criada, Silva (que já chegou a ser preso) resiste no ar, escancarando os problemas de fiscalização. Agora, na operação "linha dura", a PF garante que o caso é "questão de honra" e que o fechamento dessa FM será só um exemplo do que se fará com as estações sem autorização do governo.
E, ao mesmo tempo em que a PF endurece, defensores das comunitárias decidiram, no Fórum Social Mundial, enviar a Lula documento pedindo um "posicionamento imediato do governo" sobre a questão. Um dos que se destacaram no apoio à idéia foi justo um membro da PF, Armando Coelho Neto, presidente da Federação Nacional dos Delegados de PF de SP. Curioso, no mínimo.

laura@folhasp.com.br


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