São Paulo, sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica

Filme é um dos mais caretas de Eastwood

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Clint Eastwood tem quase 80 anos. Um ícone, prestes a iniciar sua sétima década no cinema. Como cineasta, é um nostálgico: gosta do cinemão tradicional hollywoodiano, narrativo e formal, com histórias fortes e personagens marcantes. Seus filmes são dirigidos com eficiência, porém da maneira mais convencional possível. "Invictus" periga ser um de seus filmes mais caretas e datados.
O filme começa no dia da libertação de Mandela, após quase 30 anos de prisão pelo apartheid. Eleito presidente, Mandela (Freeman) vê no rúgbi um instrumento para ajudar a unir uma nação racialmente dividida. Mandela declara seu apoio à desacreditada seleção da África do Sul, prestes a sediar o campeonato mundial. O apoio causa críticas da maioria negra da população, que vê o rúgbi como domínio da minoria branca.
Na sequência de abertura do filme, vemos um lindo gramado, onde meninos brancos, bem nutridos e trajando belos uniformes, treinam rúgbi. Uma estrada de terra separa o lugar de um terreno baldio esburacado, onde crianças negras e maltrapilhas jogam futebol. Que Eastwood tenha escolhido uma cena tão óbvia para abrir o filme diz muito sobre seu cinema.
"Invictus" é uma sequência infindável de fórmulas gastas. Como acontece em 99% dos filmes sobre esporte, o azarão, no caso a seleção sul-africana, passa de timeco a grande potência, movido por paixão e garra. O Nelson Mandela de Morgan Freeman é feito de cartolina, um personagem caricato que só fala frases de efeito como "o perdão liberta a alma" e "tenho uma grande família de 42 milhões de pessoas". O capitão da seleção sul-africana (Damon) não fica atrás: "Ouçam essa torcida", diz para seus companheiros durante um jogo, "Ouçam o seu país!".
As cenas de jogo parecem ter saído de algum filme de esporte de 50 anos atrás, com "closes" nas expressões de angústia do público, som de piano nos momentos mais introspectivos e até o inevitável fim da partida em câmera lenta. Já deu.


INVICTUS

Avaliação: regular




Texto Anterior: Jogada Ensaiada
Próximo Texto: Crítica: Diretor é único no cinema americano
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.