São Paulo, quarta, 29 de janeiro de 1997.

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GRAMMY
O carioca Moogie Canazio disputa o prêmio de melhor engenheiro de som com ``Oceano'', de Sérgio Mendes
Indicado ao Grammy já foi boy de estúdio

LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Reportagem Local

Quem não trabalha com música nem imagina quem seja Moogie Canazio.
Pois esse desconhecido carioca de 41 anos, que já foi office-boy de estúdio nos EUA, está concorrendo ao Grammy de melhor engenheiro de som por seu trabalho em "Oceano", de Sérgio Mendes.
É a segunda vez que ele tem seu nome indicado ao prêmio -em 1993, foi designado por "Brasileiro", também de Sérgio Mendes.
Moogie é o único brasileiro a conseguir tal distinção nessa categoria do Grammy -o prêmio da indústria fonográfica equivalente ao Oscar.
``E é o único disco que não tem uma equipe de trabalho de engenharia de som'', diz Moogie, que tem entre os concorrentes as equipes de ``Q's Jook Joint'' (Quincy Jones), ``Stardust'' (Natalie Cole) e ``Tambu'' (Toto).
Moogie é um dos brasileiros que pode levar o Grammy neste ano. Ivan Lins concorre em parceria com o trompetista Terence Blanchard na categoria jazz instrumental com ``The Hearts Speaks''.
Morto há dois anos, Tom Jobim disputa o prêmio de melhor caixa de CDs com ``The Man from Ipanema'' e, indiretamente, na categoria jazz instrumental, por ``Antonio Carlos Jobim and Friends'', do pianista Gonzalo Rubalcabia.
Gata Borralheira
A história de Moogie tem um pouco de um conto de fadas do estilo "Gata Borralheira".
Ele sempre gostou de música. Antes de ser um dos pioneiros da discotecagem no Brasil, chegou a ser um baterista frustrado.
``Como discotecário passei a querer mexer na música'', diz.
Sonhava ser engenheiro de som no principal estúdio do mundo. Descobriu que o Kendun Records ficava em Los Angeles e se mandou para lá com o pé-de-meia que juntara.
Chegou no final de 1978, logo após o início da crise da discoteca, quando vários estúdios começaram a fechar pelo país a fora.
Moogie fez cursos de engenharia de som, mas acabou entrando no estúdio como office-boy.
``Estava faminto para entrar no meio e disse que trabalhava até de graça'', conta.
Em dez dias de trabalho ele foi aceito como segundo engenheiro de um disco que estava sendo gravado por Barry McGuire.
"Em uma semana ele demitiu o primeiro engenheiro e eu fui contratado", lembra.
Ele ficou até 1981 nos EUA. Voltou ao Brasil trazendo no currículo trabalhos com Rufus e Chaka Khan, George Benson, Chicago, Reo Speedwagon e outros. Foi contratado pela Som Livre.
``Quando entrou na minha sala para pedir emprego como engenheiro de som, ele me disse que seria o melhor. Eu nunca havia feito isso, mas resolvi acreditar'', conta o produtor Guto Graça Melo, na época diretor da Som Livre.
Hoje, Graça Melo afirma que Moogie é o único engenheiro que ele sente confiança para deixar sozinho pilotando a mesa de som sem estar por perto.
Depois de trabalhar com quase toda a MPB, Moogie voltou para os EUA, onde vive há sete anos.
Fez trabalhos com Diana Ross, Burt Bacharach e Oleta Adams antes de ser indicado ao Grammy.
Atualmente está envolvido na gravação do projeto ``Two Faces of East'', que reúne os irmãos East -o renomado baixista Nathan e o tecladista Marcel. Na banda estão o baterista Phil Collins e o guitarrista Eric Clapton.
Em São Paulo, onde esteve na semana passada, Moogie participou de um disco bem diferente. Trabalhou no próximo CD da ``rainha dos caminhoneiros'', a cantora Roberta Miranda. Foi contratado para gravar a voz e mixar o disco.
``Para mim não faz a menor diferença entrar no estúdio para gravar com Diana Ross, Joni Mitchell ou Roberta Miranda'', diz. ``Eu sou um coadjuvante.''
Moogie também não vê diferença entre trabalhar com artistas nacionais ou estrangeiros.
``Há diferença entre o artista que é estrela e aquele que sofre de estrelismo'', diz, sem citar nomes.

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