São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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ANIMAÇÃO

"Gone Nutty", do animador carioca Carlos Saldanha, concorre na categoria curta-metragem com filme de Dalí

Brasileiro enfrenta Walt Disney no Oscar

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

De um lado, Walt Disney e Salvador Dalí, num projeto histórico abortado na década de 40 e só finalizado em 2003 pelas mãos dos estúdios Disney na França. Do outro, Carlos Saldanha e Scrat, o esquilinho desastrado que roubou a cena em "A Era do Gelo", da Blue Sky Studios, e que ganha agora seu espaço.
Pode parecer quixotesca, mas a briga pela estatueta de melhor curta-metragem de animação, que será entregue hoje na cerimônia oficial do Oscar, é acirrada.
Além de "Destino", o curta da Disney, e "Gone Nutty", o do brasileiro, concorrem ao prêmio "Boundin'", do veterano da Pixar Bud Luckey, "Nibbles", dos estúdios Acme, e "Harvie Krumpet" do australiano Adam Elliot.
Um é animação clássica ("Destino"), dois ("Gone Nutty" e "Boundin'") são feitos em computador, outro ("Nibbles"), na ponta do lápis, e o último ("Harvie Krumpet") usa a boa e velha técnica de massa de modelar.
"Este ano está bom. Todos os curtas têm seu charme individual e, em animação, o gosto de cada um [dos jurados] varia muito. A briga vai ser de igual para igual", adianta o animador carioca Carlos Saldanha, 35, que, em 2003, concorreu ao Oscar de melhor longa de animação como co-diretor em "A Era do Gelo". Perdeu para o japonês "A Viagem de Chihiro", mas, ainda assim, a indicação não foi exatamente "sua": foi do diretor principal e dono da Blue Sky, Chris Wedge.
E agora, com um "filho legítimo" na disputa, dá para arriscar um favorito? "Gostei muito do "Harvie Krumpet". É um pouco longo, mas adorei o humor negro", desconversa ele, que só pôde dar uma espiadinha na concorrência quando a Academia mostrou as produções para seus membros e um seleto grupo de convidados, na semana passada.
É, vida de animador não é moleza: "Estou correndo para cima e para baixo com dois novos projetos ["A Era do Gelo 2" e "Robots", previsto para estrear em 2005]. Cada dia que perco conta muito".
Como cerimônia de Oscar não é exatamente uma "perda de tempo", Saldanha resolveu tirar dois dias de folga -sexta e segunda- e estará lá hoje com a mulher e a mãe para aguardar o resultado.
Com a agenda igualmente cheia, Baker Bloodworth, 41, produtor do curta da Disney, também separou um tempinho para assistir à cerimônia da platéia. Afinal de contas, precisa honrar a memória de John Hench, desenhista que criou os storyboards de "Destino" com Dalí e Disney.
"Todo mês a gente levava os trabalhos para o Hench dizer se estavam próximos do conceito original. Ele estava muito orgulhoso, mas, infelizmente, morreu três semanas atrás. Soubemos da indicação ao Oscar na terça-feira, e ele morreu na quarta. Foi só o tempo de avisá-lo", afirma Bloodworth.
Iniciado em 1945, "Destino" consumiu cerca de nove meses de trabalho da dupla até que, ao final da guerra, Disney se viu falido e precisou cancelar o projeto. Sobraram a canção-tema -uma bela balada espanhola na voz de Dora Luz-, os rascunhos da história e uma série de 15 pinturas originais de Dalí. Lançado no Festival de Annecy, em 2003, o curta arranca gritos de "já ganhou" por onde passa. "Favorito? Não posso falar isso. Dá azar! Gosto dos outros também. "Gone Nutty" me fez rir muito, é histérico e a animação, excelente. Seu brasileiro fez um trabalho maravilhoso".
E então, Saldanha, "Gone Nutty" leva? "Ai, meu Deus, isso vou deixar o destino traçar."



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