|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Babel fashion
Japoneses e belgas brilham na salada de nacionalidades da semana de Paris
A semana de moda de Paris é
uma verdadeira Babel. A ela
acorrem jornalistas de todo o
mundo -cerca de 2.000, de 50
países-, bem como estilistas
de várias nacionalidades, ansiosos para brilharem na maior
vitrine fashion do mundo.
Há poucas temporadas os estilistas chineses e russos começaram a aportar na cidade. Agora, chegou também o indiano
Rajesh Pratap Singh, que representa seu país ao lado da divertida grife Manish Arora.
Eles vieram se juntar a japoneses e belgas, que já têm uma
longa história na França e cujas
apresentações estão entre as
mais concorridas da temporada. Nesta estação, nenhum brasileiro desfila na cidade.
Entre os japoneses, Yohji Yamamoto é um dos mais endeusados. Por isso mesmo, os fashionistas se comprimiram por
mais de uma hora na entrada da
Bolsa de Valores de Paris.
A espera compensou. O estilista exibiu uma coleção sublime, com toques folk e hípicos,
em que o principal foi o sofisticado trabalho com couro, em
saias, vestidos e, sobretudo, nos
casacos de talhe masculino,
com barras de cortes irregulares que pareciam inacabadas,
ainda por fazer. Yohji sabe como poucos criar a perfeita imperfeição. Uma curiosidade: a
guitarra que soava com lamentos folks na gravação foi tocada
pelo próprio estilista.
Também chamou a atenção a
grife Issey Miyake, que continua a trabalhar na sua complexa pesquisa com novos tecidos,
que são plissados, repuxados e
dobrados de maneira muito
versátil e engenhosa.
O belga Martin Margiela,
considerado um dos gênios da
moda atual, entusiasmou menos do que de costume.
Mesmo assim a sua coleção é
impactante. Ele fez uma exploração exagerada da arquitetura
das roupas: as golas e lapelas
ganham tamanhos enormes e
aerodinâmicos, as echarpes e
os casacos viram formas cúbicas absurdas que quase cobrem
o rosto das modelos, e as calças
às vezes têm uma das pernas
recortadas, virando uma espécie de calça-short, revelando a
meia por baixo.
A dupla de holandeses Viktor
& Rolf veio bem mais comportada nesta temporada -e deixou a desejar do ponto de vista
do design das roupas.
Não dispensou, porém, o toque surrealista que costuma
dar à coleção, escrevendo nos
rostos das modelos e aplicando
em algumas peças enormes letras em relevo, onde se lia, entre outras palavras: "No" (não,
em inglês). Provocadores, os
estilistas declararam no backstage, após o final da apresentação, que atualmente é uma atitude sexy dizer "não".
Texto Anterior: Última Moda - Alcino Leite Neto: Paris entre o passado e o presente Próximo Texto: Fast fashion Índice
|