São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Babel fashion

Japoneses e belgas brilham na salada de nacionalidades da semana de Paris

A semana de moda de Paris é uma verdadeira Babel. A ela acorrem jornalistas de todo o mundo -cerca de 2.000, de 50 países-, bem como estilistas de várias nacionalidades, ansiosos para brilharem na maior vitrine fashion do mundo.
Há poucas temporadas os estilistas chineses e russos começaram a aportar na cidade. Agora, chegou também o indiano Rajesh Pratap Singh, que representa seu país ao lado da divertida grife Manish Arora.
Eles vieram se juntar a japoneses e belgas, que já têm uma longa história na França e cujas apresentações estão entre as mais concorridas da temporada. Nesta estação, nenhum brasileiro desfila na cidade.
Entre os japoneses, Yohji Yamamoto é um dos mais endeusados. Por isso mesmo, os fashionistas se comprimiram por mais de uma hora na entrada da Bolsa de Valores de Paris.
A espera compensou. O estilista exibiu uma coleção sublime, com toques folk e hípicos, em que o principal foi o sofisticado trabalho com couro, em saias, vestidos e, sobretudo, nos casacos de talhe masculino, com barras de cortes irregulares que pareciam inacabadas, ainda por fazer. Yohji sabe como poucos criar a perfeita imperfeição. Uma curiosidade: a guitarra que soava com lamentos folks na gravação foi tocada pelo próprio estilista.
Também chamou a atenção a grife Issey Miyake, que continua a trabalhar na sua complexa pesquisa com novos tecidos, que são plissados, repuxados e dobrados de maneira muito versátil e engenhosa.
O belga Martin Margiela, considerado um dos gênios da moda atual, entusiasmou menos do que de costume.
Mesmo assim a sua coleção é impactante. Ele fez uma exploração exagerada da arquitetura das roupas: as golas e lapelas ganham tamanhos enormes e aerodinâmicos, as echarpes e os casacos viram formas cúbicas absurdas que quase cobrem o rosto das modelos, e as calças às vezes têm uma das pernas recortadas, virando uma espécie de calça-short, revelando a meia por baixo.
A dupla de holandeses Viktor & Rolf veio bem mais comportada nesta temporada -e deixou a desejar do ponto de vista do design das roupas.
Não dispensou, porém, o toque surrealista que costuma dar à coleção, escrevendo nos rostos das modelos e aplicando em algumas peças enormes letras em relevo, onde se lia, entre outras palavras: "No" (não, em inglês). Provocadores, os estilistas declararam no backstage, após o final da apresentação, que atualmente é uma atitude sexy dizer "não".


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