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Roberto Gómez Bolaños, criador e protagonista da série mexicana, fala à Folha
Os segredos de Chaves
Divulgação/SBT
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Chaves, o famoso personagem do ator Roberto Bolaños |
LAURA MATTOS
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
Chaves é casado com dona Florinda, que foi namorada de Quico, que brigou com Chaves, assim
como Chiquinha. De tanto fumar,
Seu Madruga e a Bruxa do 71
morreram de câncer do pulmão.
Parece enredo de novela mexicana, mas são histórias verídicas
do elenco da série "Chaves", sucesso em mais de 90 países, com
cerca de 300 milhões de espectadores.
Aos 77 anos, Roberto Gómez
Bolaños, criador do programa e
intérprete do protagonista, falou
com exclusividade à Folha, por
telefone, da Cidade do México,
sobre essas intrigas da série, o lançamento do livro
"Diário do Chaves" e mais.
Folha - Em sua
opinião, por que
seus programas
até hoje fazem sucesso no Brasil e
América Latina?
Roberto Gómez
Bolaños - Não imagino por quê. E isso não é falsa modéstia. Já passou
muito tempo, os
programas seguem com o cenário antigo, e as
pessoas de muitos
lugares continuam gostando.
Agradeço a Deus
por isso, mas não
sei o motivo. Acho que os programas são bem-feitos, pelo menos
foram feitos com muito carinho e
honestidade. Espero que tenha influído, mas não tenho certeza.
Folha - Chaves foi inspirado em
algum garoto em especial?
Bolaños - Não houve um, porque me dei conta de que esse garoto pobre existia em muitos lugares, não só na América Latina.
Todos eles têm a esperança que
queria comunicar com Chaves,
que, apesar de não ter brinquedos, café da manhã e muitos amigos, brincava com entusiasmo, e o
futuro o acompanhava. Espero
que tenhamos isso na América.
Folha - Há a intenção de fazer novos programas ou talvez um filme?
Bolaños - Queremos fazer um
programa, mas o problema são os
bons horários, que não existem
hoje na grade da televisão. Qualquer coisa eu não aceito. Seria outra série, porque "Chaves" já
cumpriu seu propósito, já teve seu
ciclo, e seria como enganar o público estando eu já tão velho. Mas
posso fazer outras coisas, sobretudo tenho personagens como o
Chompiras e a Chimoltrúfia, com
quem me divirto muito ainda.
Folha - Seu filho está fazendo um
desenho animado do Chaves, não?
Bolaños - Sim, mas não sei muito
como anda o projeto, porque eu
disse para ele fazer o que quisesse,
e não pergunto mais até ir ao ar.
Folha - Como foi a briga com Carlos Villagrán [Quico] e Maria Antonieta de las Nieves
[Chiquinha]?
Bolaños - O caso
de Villagrán faz
mais de 30 anos,
isso separou o
grupo. O programa continuou por
muito tempo sem
ele. Entrei com
uma ação e ganhei
facilmente. O problema, nos dois
casos, foi que eles
disseram ser os
criadores dos personagens, mas o
criador sou eu,
que lhes permiti
trabalharem fazendo esses papéis sem cobrar
um centavo de comissão. Aqui, no
México, ninguém
mais os contrata.
Isso me dói, não
me irrita, porque gosto deles, foram amigos. Não me atrapalha
porque não me prejudica. Ao
contrário, fui eu quem lhes dei tudo o que eles têm. Mas não me
importa, não tiraram nada de
mim, então façam o que queiram.
Folha - Chaves começou numa
época em que não se investia muito em licenciamento de produtos
infantis, como hoje...
Bolaños - Chaves fez muito licenciamento, mas em sua maioria
era pirata. Minha mulher diz que,
se eu pudesse cobrar algo disso,
assim como a Xuxa tem uma ilha,
eu teria todo um continente. Sou
admirador de Xuxa, acho uma excelente cantora. Uma vez me pediram para escrever programas
para ela -eu os faria em espanhol e alguém os traduziria-,
mas não tive tempo. O convite foi
feito em Buenos Aires, faz tempo.
Folha - Os personagens são cercados de lendas, como um acidente
aéreo em que todos morreram etc.
Bolaños - Isso acontece com várias
pessoas conhecidas. Matam os
que estão vivos e ressuscitam os
mortos, como Emiliano Zapata,
Carlos Gardel. A mim já mataram
umas quatro ou cinco vezes. Não
sei por quê. Embora isso hoje
aconteça um pouco menos, porque os meios de comunicação aumentaram sua capacidade e velocidade de desmentir esse tipo de
boato quando aparece.
Folha - No livro, o sr. faz referências à história do Brasil. Por quê?
Bolaños - Sempre me interessei
pela história latino-americana.
Creio que o Brasil
é o país com o melhor futuro em todo o mundo.
Folha - Por que
não visitou o país?
Bolaños - Tínhamos contrato para
apresentações
com nosso grupo
de teatro. Até
aprendi coisas em
português. Mas
houve um problema político no
Brasil. Ocuparam
alguns lugares em
protesto, entre
eles onde íamos
nos apresentar. O
problema foi com
Collor [manifestações pró-impeachment]. As pessoas que haviam nos contratado cancelaram
a apresentação por causa disso.
Iríamos a São Paulo e talvez ao
Rio. Se fosse hoje, não iria caracterizado como Chaves nem Chapolim, porque sou muito velho e as
pessoas ficariam desiludidas. Iria
como alguém normal, porque tenho vontade de conhecer o país e
agradecer a boa acolhida que tiveram meus programas.
Folha - O livro tem conotação política. O sr. fala da invasão espanhola no México, da briga com os
EUA. Por que essa opção?
Bolaños - Nosso passado foi
muito complicado. Mas aqui os
enfrentamentos são de mexicanos contra mexicanos. Além disso, temos um vizinho muito difícil... Procuro não ter preconceitos.
Não gosto do rancor nem da vingança. Isso disse muitas vezes no
programa: "Temos de preparar o
futuro". Para mim, não resta muito tempo, mas tenho filhos, netos
e logo haverá bisnetos. Quero que
eles e todos os habitantes deste
planeta tenham uma vida melhor.
A política é inevitável. Ninguém
consegue ficar fora dela.
Folha - No seriado "Friends", os
atores ganhavam até US$ 1 milhão
por episódio. E em "Chaves"?
Bolaños - [risos] Pode soar falsa
modéstia, mas ganhava muito
menos. Hoje, quando vejo quanto
recebe um ator coadjuvante só
porque ganhou o Oscar... É um
disparate. Ganhávamos bem menos. Quando fazíamos turnê, ficava com 20%, e
os demais com o
resto. Mas ficávamos felizes. O dinheiro nunca deve ser um objetivo. Se for conseqüência, é bom.
Folha - O sr. conhece algo da televisão brasileira? Os
"Trapalhões"?
Bolaños - Algumas coisas, mas
minha diversão
favorita é futebol.
Folha - Quem vai
ganhar a Copa?
Bolaños - Brasil.
E digo isso com
sinceridade. Com
gente como Ronaldinho, não haverá para mais
ninguém. Deve
ser algo entre Brasil e Argentina,
talvez algum europeu entre na
disputa. Não estou gostando nada
do México. Estamos fora.
Folha - Que mensagem o sr. deixaria para seus fãs no Brasil?
Bolaños - Vou deixar uma mensagem que não tem nada a ver
com o que faço. Quando me perguntam qual foi meu maior êxito,
respondo que foi deixar de fumar.
Recomendo à juventude e a todo
mundo que não fumem. Larguei
o cigarro há 11 anos, depois de fumar por 40. Há coisas de que já
não consigo me desvencilhar: catarros, um pequeno enfisema pulmonar que não diminui, pigarros,
problemas na garganta. Fumar é a
estupidez maior do mundo.
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