São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2007

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"Não há nada de político em "300"

O ator Rodrigo Santoro e o diretor Zack Snider dizem que não quiseram ofender os iranianos, que baniram o filme do país

Intérprete brasileiro avalia que queda de audiência de "Lost" é normal e conta que pode atuar em produção sobre o cantor Carlos Gardel


Divulgação
Rodrigo Santoro faz o rei Xerxes, em "300"


TEREZA NOVAES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Muitas cabeças rolam em "300". E há sangue e flechas para todo lado. Transposição do quadrinho de Frank Miller para o cinema, o filme, que tem Rodrigo Santoro no papel do vilão, o rei-deus Xerxes, estréia amanhã no Brasil, depois de ter atingido o topo da bilheteria nos EUA. As filmagens foram realizadas em estúdio, em fundo azul, sobre o qual foram posteriormente colocados os cenários. Segundo o ator, cuja voz foi alterada para ficar mais grave, foi uma experiência "única".
O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, não viu, não gostou e baniu "300" do país. O filme mostra o ataque de um exército persa, liderado por Xerxes, contra 300 espartanos, que defendem sua liberdade. A maior parte dos iranianos descende dos persas.
Santoro e o diretor Zack Snider dizem que não há nada de político no longa, nenhuma referência aos atuais conflitos atuais da região, nem a intenção de ofender os iranianos.
O ator brasileiro, Gerard Butler (Leônidas), Lena Headey (Gorgo) e Zack Snider participaram, na semana passada, no Rio, de um evento de lançamento do filme, com 60 jornalistas da América Latina. Leia a seguir a entrevista que Santoro concedeu à Folha.
 

FOLHA - O que você achou da proibição do filme no Irã? Você recebeu alguma agressão pessoal?
RODRIGO SANTORO -
Não recebemos nada. Estávamos em Londres e ficamos sabendo pelo noticiário. O filme é 100% em cima da HQ. O universo era uma fantasia. Não pude usar nem a pesquisa histórica que fiz sobre o personagem. Ele é uma visão do Frank Miller, um arquétipo, não é realismo. No set, nunca houve a menor intenção, nenhuma metáfora. De novo, respeitamos. A arte é isso: você expõe e está aberto aos comentários. Mas o filme é sobre a HQ, uma obra de fantasia.

FOLHA - Você rodou sua participação no filme em duas semanas e está há mais de um mês divulgando. O que dá mais trabalho?
SANTORO -
Os dois. São trabalhos diferentes, a experiência de fazer o filme foi única. O processo de filmagem: o fundo azul, o trabalho virtual, com a imaginação. E o próprio personagem, um ser sobrenatural, uma criatura, mistura com uma humanidade, um arquétipo.

FOLHA - "300" e "Lost" são dois projetos diferentes do que você se acostumou a fazer no Brasil. Como é sair do independente brasileiro para o "mainstream" de Hollywood?
SANTORO -
A Globo também é "mainstream", né? E, no começo, fiz muita novela. Para falar a verdade, o "Lost", por mais que seja TV, é muito diferente.

FOLHA - Por quê?
SANTORO -
Porque você não tem como construir um personagem, não tem informação. Não tem a sinopse, que é o mínimo que você recebe quando vai fazer uma novela. No "Lost", não tem. Você recebe um roteiro alguns dias antes e é toda a informação que você tem. Para os atores que estão no seriado há dois anos, as informações que eles têm são dos episódios que já gravaram.

FOLHA - Você assistiria a série se não estivesse nela?
SANTORO -
Sim. Eu assisti a alguns episódios antes. Não podia acompanhar, mesmo porque não dava para acompanhar nada. Mas acho interessante a série. Ela te faz curioso.

FOLHA - Você tem alguma tese para os mistérios?
SANTORO -
Não. Já ouvi algumas, mas nenhuma me convenceu completamente. Tem tanto mistério no ar que nada é sólido o suficiente para falar que é isso ou é aquilo. O que eu acho é que pode ser mais simples do que se teoriza. Esse é o instinto que eu tenho, mas também não sei. Quem sabe são eles.

FOLHA - Por que acha que a terceira temporada de "Lost", justamente a que tem a sua participação, teve uma queda de audiência?
SANTORO -
Como qualquer trabalho, tem os altos e baixos. Este é o terceiro ano da série. E é uma série baseada em mistério, em perguntas, e o público quer ter as repostas. Tinha muita pergunta. Mas vou te falar que a audiência ainda é bem boa.

FOLHA - Mas não tão boa quanto na segunda temporada...
SANTORO -
Acontece. Não é só com o "Lost". A audiência também varia aqui. O que eu vejo viajando é que o "Lost" é muito popular no mundo.

FOLHA - Restam três meses de contrato com a Globo. Faria novela?
SANTORO -
Novela, pela duração, é difícil. Estou procurando trabalhos mais curtos. Minisséries talvez. Por um bom tempo, fiquei fazendo novelas e agora estou tendo a oportunidade de fazer outros trabalhos. Então, estou priorizando esses trabalhos. Mas não descarto.

FOLHA - Com qual diretor você gostaria de trabalhar fora do Brasil?
SANTORO -
Tem um diretor interessante, o Guillermo del Toro, que fez o último filme que eu vi, "O Labirinto do Fauno". Gosto também do [Alejandro González] Iñárritu.

FOLHA - Você só citou latinos...
SANTORO -
Pelo trabalho, não por serem latinos. Agora, tem outros diretores, [Bernardo] Bertolucci, eu gostaria. Mas o que eu gostaria mesmo é o Fellini, mas ele não está mais aí. Acho que seria uma delícia.

FOLHA - Você tem recebido roteiros para novos trabalhos?
SANTORO -
Recebo roteiros de vez em quando. Tem o roteiro sobre um filme sobre Carlos Gardel, que estou cogitando.

FOLHA - A imprensa internacional é melhor ou pior do que a nacional?
SANTORO -
Não faço essa comparação. Me sinto muito bem recebido. Nas entrevistas, em Los Angeles, que foram para todo os EUA, Nova York, Berlim e Londres nunca tive o menor problema em nada. As pessoas também não me conhecem, né? Não há uma pré-idéia, um conceito sobre minha pessoa.

FOLHA - Isso é uma vantagem?
SANTORO -
Não sei se isso é uma vantagem. Por exemplo, esta entrevista que eu estou fazendo com você é parecida com uma que eu fiz há pouco tempo lá. Estou falando sobre meu trabalho, minha vida. A única diferença é sobre minha vida pessoal porque aqui há um interesse maior por esse assunto.

FOLHA - O que você pretende fazer daqui para frente? Quer se mudar para os EUA?
SANTORO -
Estou equilibrando as coisas. Tenho viajado, passado um tempo lá fora e vindo para cá. Tenho alguns projetos aqui que eu quero fazer e dois filmes para lançar: "Não por Acaso", dirigido pelo Philippe Barcinski, filmado no ano passado e que vamos lançar em junho; e o "Desafinados", que fiz já tem um tempo e que, por falta de recursos, a gente ainda não terminou a pós-produção, mas acredito que no segundo semestre será lançado.


A jornalista TEREZA NOVAES viajou à convite da Warner Bros. Pictures

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