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É Tudo Verdade traz brasileiros "veteranos"
Eduardo Escorel e José Joffily apresentam seus filmes recentes no festival
Agricultor é personagem de "O Tempo e o Lugar", de Escorel; "A Paixão Segundo Callado", de Joffily, revisita utopia do escritor brasileiro
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Ao ser reunido com Eduardo
Escorel para a produção da foto
que acompanha esta reportagem, José Joffily diz que ficou
encafifado. "Por que nós dois?",
teria perguntado ao colega,
com quem fez o documentário
"Vocação do Poder" (2005).
Mais tarde, "descobriu".
"Agora, nós somos os veteranos
do cinema brasileiro", brinca.
"Preciso fazer como mulher
que esconde a idade e começar
a tirar coisas do currículo."
De fato, a trajetória de ambos
é bem anterior à mudança de
conceito do documentário,
acompanhada - e ao mesmo
tempo incentivada - pelas 13
edições do É Tudo Verdade.
Escorel, 62, estreou no gênero como produtor, diretor (com
Julio Bressane) e montador de
"Bethânia Bem de Perto - A
Propósito de um Show" (1966).
Joffily, também 62, como diretor de "Praça Tiradentes"
(1977).
No festival deste ano, Escorel
promove a estréia de "O Tempo
e o Lugar", que disputa a mostra competitiva nacional de
longas. Joffily exibe "A Paixão
Segundo Callado" na mostra
especial Vidas Brasileiras.
Desencanto com a política
Embora os dois tratem de
personagens cujas trajetórias
iluminam aspectos importantes da sociedade nas últimas
décadas, os caminhos percorridos para a realização dos longas
foram bem distintos.
Escorel conheceu o agricultor Genivaldo da Silva, de Inhapi (AL), em 1996, quando realizou com ele um episódio da série institucional "Gente que
Faz", patrocinada por um banco e exibida na TV.
Quis reencontrá-lo porque,
entre outros motivos, se interessou em investigar "o desencanto com a política tradicional
de uma pessoa com vocação de
liderança política".
"Suas rupturas com o MST e
com o PT me chamaram a atenção para uma espécie de liderança que não consegue ser
exercida dentro das instituições e para a fidelidade de Genivaldo a parâmetros que estabeleceu para si mesmo", afirma
Escorel. "Ele criou as condições
para exercer a sua vocação."
O paralelismo do personagem com o presidente Lula
também atraiu o cineasta.
"Genivaldo começou a atuar
na Pastoral da Terra no final
dos anos 70, simultaneamente
à ascensão de Lula no movimento sindical do ABC, mas
cumpriu trajetória bem diferente. Hoje, se coloca na oposição ao governo federal e ao PT."
"Convite irrecusável"
Já "A Paixão Segundo Callado" resultou, segundo Joffily,
de um "convite irrecusável" da
produtora Nina Luz.
"Foi a primeira vez em que
trabalhei como diretor contratado", diz. Por quatro meses,
dedicou-se "com o maior prazer" a leituras e releituras da
obra de Antonio Callado (1917-1997) enquanto buscava, principalmente no encontro com os
netos do escritor, a herança do
projeto revolucionário de toda
uma geração.
"Pensei que os netos revelariam melhor do que os filhos o
que significava a utopia de Callado", afirma Joffily.
"E eles mostram que aquela
revolução se transfere hoje para o mundo interior. Como um
deles diz no filme: "Tá tudo dominado, o que resta é você se
modificar"."
O TEMPO E O LUGAR
Direção: Eduardo Escorel
Produção: Brasil, 2008
Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 13h;
no Cinesesc
Avaliação: bom
A PAIXÃO SEGUNDO CALLADO
Direção: José Joffily
Produção: Brasil, 2007
Quando: dia 3, às 19h, no Cinesesc
Avaliação: bom
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