São Paulo, sábado, 29 de março de 2008

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É Tudo Verdade traz brasileiros "veteranos"

Eduardo Escorel e José Joffily apresentam seus filmes recentes no festival

Agricultor é personagem de "O Tempo e o Lugar", de Escorel; "A Paixão Segundo Callado", de Joffily, revisita utopia do escritor brasileiro

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Ao ser reunido com Eduardo Escorel para a produção da foto que acompanha esta reportagem, José Joffily diz que ficou encafifado. "Por que nós dois?", teria perguntado ao colega, com quem fez o documentário "Vocação do Poder" (2005).
Mais tarde, "descobriu".
"Agora, nós somos os veteranos do cinema brasileiro", brinca.
"Preciso fazer como mulher que esconde a idade e começar a tirar coisas do currículo."
De fato, a trajetória de ambos é bem anterior à mudança de conceito do documentário, acompanhada - e ao mesmo tempo incentivada - pelas 13 edições do É Tudo Verdade.
Escorel, 62, estreou no gênero como produtor, diretor (com Julio Bressane) e montador de "Bethânia Bem de Perto - A Propósito de um Show" (1966). Joffily, também 62, como diretor de "Praça Tiradentes" (1977).
No festival deste ano, Escorel promove a estréia de "O Tempo e o Lugar", que disputa a mostra competitiva nacional de longas. Joffily exibe "A Paixão Segundo Callado" na mostra especial Vidas Brasileiras.

Desencanto com a política
Embora os dois tratem de personagens cujas trajetórias iluminam aspectos importantes da sociedade nas últimas décadas, os caminhos percorridos para a realização dos longas foram bem distintos.
Escorel conheceu o agricultor Genivaldo da Silva, de Inhapi (AL), em 1996, quando realizou com ele um episódio da série institucional "Gente que Faz", patrocinada por um banco e exibida na TV. Quis reencontrá-lo porque, entre outros motivos, se interessou em investigar "o desencanto com a política tradicional de uma pessoa com vocação de liderança política".
"Suas rupturas com o MST e com o PT me chamaram a atenção para uma espécie de liderança que não consegue ser exercida dentro das instituições e para a fidelidade de Genivaldo a parâmetros que estabeleceu para si mesmo", afirma Escorel. "Ele criou as condições para exercer a sua vocação."
O paralelismo do personagem com o presidente Lula também atraiu o cineasta. "Genivaldo começou a atuar na Pastoral da Terra no final dos anos 70, simultaneamente à ascensão de Lula no movimento sindical do ABC, mas cumpriu trajetória bem diferente. Hoje, se coloca na oposição ao governo federal e ao PT."

"Convite irrecusável"
Já "A Paixão Segundo Callado" resultou, segundo Joffily, de um "convite irrecusável" da produtora Nina Luz.
"Foi a primeira vez em que trabalhei como diretor contratado", diz. Por quatro meses, dedicou-se "com o maior prazer" a leituras e releituras da obra de Antonio Callado (1917-1997) enquanto buscava, principalmente no encontro com os netos do escritor, a herança do projeto revolucionário de toda uma geração.
"Pensei que os netos revelariam melhor do que os filhos o que significava a utopia de Callado", afirma Joffily. "E eles mostram que aquela revolução se transfere hoje para o mundo interior. Como um deles diz no filme: "Tá tudo dominado, o que resta é você se modificar"."


O TEMPO E O LUGAR
Direção:
Eduardo Escorel
Produção: Brasil, 2008
Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 13h; no Cinesesc
Avaliação: bom

A PAIXÃO SEGUNDO CALLADO
Direção:
José Joffily
Produção: Brasil, 2007
Quando: dia 3, às 19h, no Cinesesc
Avaliação: bom


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