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"Encurto o caminho do teatro"
da Reportagem Local
Na noite de quarta-feira, a Folha acompanhou parte do ensaio
de "Mil Operários em Construção", espetáculo dirigido por Ivan
Antonio. É inequívoco o respeito
que ele adquiriu junto à comunidade (pais, filhos e estudantes de
todas as classes, menores e moradores de rua).
O casal Paulo Tikuna, 48, e Célia, 47, não se lembra de ter ido ao
teatro na vida, mas faz questão de
levar a filha Paula, 11, ao ensaio.
Eles acompanham com olhos
atentos de espectador maravilhado.
Para Roberto Góes, 53, que viaja
35 km de São Bernardo do Campo até o Espaço Canta Brasil, a
"mensagem humanista" é o que o
mantém ligado ao projeto desde a
primeira apresentação, em 1999.
Filho de atores aposentados, pai
de uma atriz mirim, Antonio assume o tom messiânico. Acredita
no teatro como possibilidade de
redenção para os socialmente excluídos. "Cansei de ouvir não."
Autodidata, ele tem o dramaturgo alemão Bertolt Brecht e o
encenador Antônio Araújo
("Apocalipse 1,11") como referências marcantes. A seguir, principais trechos da entrevista.
(VS)
SOLIDÃO SOLIDÁRIA - "Em
dez anos de trabalho, criei um
método chamado Teatro da Solidão Solidária. Vou a campo pesquisar o gesto e a expressão corporal de mendigos, prostitutas,
pivetes, velhos abandonados em
asilos etc. Chego a dormir na rua
com essa gente para perceber como volta a mão de um mendigo
quando ele pede R$ 0,10 e recebe
um "não" ou R$ 10."
BAMBUS - "Quando iniciei
meu curso na Febem, a direção
não queria permitir o uso de
bambus nos exercícios de grupo.
Eles temiam que o material virasse arma. Só concordaram depois
que assinei um termo de responsabilidade. Ocorreram várias rebeliões em um ano de trabalho e
os internos quebram tudo, mas
não tocam nos bambus."
NAU VERSUS NÃO - "Eu tento
encurtar o caminho das artes cênicas para as pessoas comuns,
sem a hipocrisia de dissociar o diretor do ator. Estamos no mesmo
barco. Se todo mundo se ajudar,
essa nau não vai afundar. Todos
têm consciência do seu valor, que
não é maior do que o do pedreiro
ou do gari. Faço a minha parte,
como o (Sebastião) Salgado e o
(Ivaldo) Bertazzo fazem a deles."
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