São Paulo, sábado, 29 de abril de 2000


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"Encurto o caminho do teatro"

da Reportagem Local

Na noite de quarta-feira, a Folha acompanhou parte do ensaio de "Mil Operários em Construção", espetáculo dirigido por Ivan Antonio. É inequívoco o respeito que ele adquiriu junto à comunidade (pais, filhos e estudantes de todas as classes, menores e moradores de rua).
O casal Paulo Tikuna, 48, e Célia, 47, não se lembra de ter ido ao teatro na vida, mas faz questão de levar a filha Paula, 11, ao ensaio. Eles acompanham com olhos atentos de espectador maravilhado.
Para Roberto Góes, 53, que viaja 35 km de São Bernardo do Campo até o Espaço Canta Brasil, a "mensagem humanista" é o que o mantém ligado ao projeto desde a primeira apresentação, em 1999.
Filho de atores aposentados, pai de uma atriz mirim, Antonio assume o tom messiânico. Acredita no teatro como possibilidade de redenção para os socialmente excluídos. "Cansei de ouvir não."
Autodidata, ele tem o dramaturgo alemão Bertolt Brecht e o encenador Antônio Araújo ("Apocalipse 1,11") como referências marcantes. A seguir, principais trechos da entrevista. (VS)

SOLIDÃO SOLIDÁRIA -
"Em dez anos de trabalho, criei um método chamado Teatro da Solidão Solidária. Vou a campo pesquisar o gesto e a expressão corporal de mendigos, prostitutas, pivetes, velhos abandonados em asilos etc. Chego a dormir na rua com essa gente para perceber como volta a mão de um mendigo quando ele pede R$ 0,10 e recebe um "não" ou R$ 10."

BAMBUS -
"Quando iniciei meu curso na Febem, a direção não queria permitir o uso de bambus nos exercícios de grupo. Eles temiam que o material virasse arma. Só concordaram depois que assinei um termo de responsabilidade. Ocorreram várias rebeliões em um ano de trabalho e os internos quebram tudo, mas não tocam nos bambus."

NAU VERSUS NÃO -
"Eu tento encurtar o caminho das artes cênicas para as pessoas comuns, sem a hipocrisia de dissociar o diretor do ator. Estamos no mesmo barco. Se todo mundo se ajudar, essa nau não vai afundar. Todos têm consciência do seu valor, que não é maior do que o do pedreiro ou do gari. Faço a minha parte, como o (Sebastião) Salgado e o (Ivaldo) Bertazzo fazem a deles."


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