São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2005

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ERUDITO

Com duração de três horas, montagem da adaptação de Verdi, baseada na peça de Shakespeare, estréia no Municipal carioca

Rio vê versão integral de "Macbeth" em ópera

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Foi o cenógrafo Hélio Eichbauer quem alertou Sérgio Britto: "Você sabe o que estamos fazendo? Uma ópera expressionista". O diretor já intuía isso, mas ainda não tinha aplicado o adjetivo às suas idéias sobre "Macbeth", a ópera de Giuseppe Verdi, baseada na peça de Shakespeare, que estréia hoje no Teatro Municipal do Rio.
"A minha encenação é escura, soturna, só com um farol sobre os cantores, porque "Macbeth" é o nosso lado tenebroso, aquele que precisamos esconder. Nada na montagem é realista. Tudo é estranho", afirma ele.
Depois do alerta de Eichbauer, Britto, 81, foi encontrar em Harold Bloom um ótimo apoio: no livro "Shakespeare: A Invenção do Humano", o crítico norte-americano diz que "Macbeth", de 1606, é a primeira peça expressionista da história. Mas, nem por isso, a opção do diretor é óbvia.
"Tenho [em vídeo] sete versões da ópera. Nenhuma é expressionista", diz ele, dono de uma das mais famosas videotecas do país.
Outra originalidade da nova versão: pela primeira vez no Brasil "Macbeth" será feita na íntegra, com duração de três horas -além dos 20 minutos de intervalo. A idéia foi do diretor musical Silvio Barbato, que regerá a orquestra do Municipal. Os quatro atos foram condensados em dois, mas todas as árias estão mantidas.
"Normalmente, os encenadores cortam alguns pedaços para reduzir o tempo. Mas eu acho interessante fazer na íntegra uma ópera que é tão difícil de ver no Brasil", opina Britto.
A ópera chegou ao Brasil em 1852, apenas quatro anos depois de ser composta, trazida por uma companhia italiana. É uma ópera difícil e, na visão de Britto, inferior a "Otelo" e a "Falstaff", outras adaptações que Verdi fez de obras de Shakespeare. "Verdi teve o mérito de enfrentar essa grande peça, mexer na sua estrutura, cortando 11 personagens, e ainda manter a história de Shakespeare."
"Macbeth nunca foi feliz. Quando se torna rei, já começa a ver o castigo em cima dele, por causa do que fez. Já Lady Macbeth não tem remorsos. Ao contrário, incentiva o marido sempre a matar", diz o diretor.
A búlgara Mariana Zvetkova, único nome estrangeiro do elenco, e Janette Dornellas atuam como Lady Macbeth. Rodrigo Esteves e Manuel Alvarez interpretam o personagem-título. A ópera terá sessões populares, como a do próximo domingo, Dia do Trabalho, quando todos os ingressos custarão R$ 1.


Macbeth
Quando: hoje, 3/5 e 5/5, às 20h; dom., às 11h; 8/5, às 17h
Onde: Teatro Municipal (pça. Floriano, s/nš, tel. 0/xx/21/2299-1717)

Quanto: R$ 1 a R$ 360


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