São Paulo, quarta-feira, 29 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O "novo" Dylan


Cantor e compositor norte-americano lança disco medíocre, mas acaba colhendo elogios deslumbrados pela obra


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

PARECE IMPLICÂNCIA minha. Mas Bob Dylan lançou disco, o 33º de estúdio. Por causa disso, na segunda-feira passada ele ganhou novamente a capa da Ilustrada, em reportagem extensa e (bem) favorável.
Um dos maiores artistas vivos da música pop, Bob Dylan merece respeito, não condescendência. Se anunciar a aposentadoria, ou quando morrer, merecerá todo o espaço do mundo, mas, até lá, seus discos devem ser avaliados pelo que são, não por quem ele é.
"Together through Life", o disco, foi tratado pela Ilustrada, mas não só por ela, com um deslumbramento que provavelmente faria até o próprio Dylan corar.
O disco seria uma volta de Dylan aos anos 1950, ou coisa do tipo. Traduzindo para o bom senso: "Together through Life" é um disco medíocre, que já nasce envelhecido e datado, muito inferior até à recente trilogia de Dylan ("Modern Times", "Love and Theft", "Time Out of Mind").
Há apenas uma faixa realmente decente: "Beyond Here Lies Nothin'", a primeira do disco, que foi colocada para download gratuito no final de março. Nas outras nove músicas, o que temos é um Bob Dylan anêmico, muito distante daquele compositor urgente e atuante dos anos 1960/ 1970. As letras, neste último disco, estão claudicantes, colocadas em músicas de melodias falhas; são nove faixas que parecem sobras de gravações, rascunhos, músicas incompletas.
Mas nada disso importa. O que importa, para a Ilustrada, para o "Times", para a "Blender", para a "Uncut", para a "Mojo" e para algumas outras publicações, é que "Together through Life" é um disco de Dylan; por isso, deve ser enaltecido e elogiado sem qualquer pudor.

 


Escrevi neste espaço, tempos atrás, sobre como o Brasil é um país que cultiva suas vacas sagradas. Em 2009, vemos que nada mudou. Caetano Veloso lançou "Zzzzzzzzzzzz zzz", disco capenga, bobo, feito de composições que cairiam bem para um calouro de ciências sociais da PUC, e mesmo assim colheu elogios e confetes.
Chico Buarque publicou novo livro, "Leite Derramado", e foi chamado de "novo Machado de Assis". Enquanto isso, há gente nova e interessante publicando, gravando, compondo, filmando que não recebe um décimo dessa atenção porque seu "pedigree" ainda não está estabelecido.
Mas, vamos lá: Bob Dylan está melhor do que nunca; Caetano é um gênio e Chico Buarque se mostra um estilista das letras.
 


Para terminar por cima: está no ar o Deepbeep (www.deepbeep.com.br), espaço dedicado a entrevistas e sets de eletrônica.

thiago.ney@grupofolha.com.br


Texto Anterior: CDs
Próximo Texto: Mulheres roubam a cena em Nova Orleans
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.