|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMIDA
Os eleitos
O dinamarquês Noma, o espanhol El Bulli e o inglês Fat Duck lideram a lista dos 50 melhores do mundo; Alex Atala é o único brasileiro no ranking
LUIZA FECAROTTA
DA REPORTAGEM LOCAL
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Palco de grandes recepções
da realeza, o suntuoso Guildhall, em Londres, foi nesta segunda cenário do "Oscar da
gastronomia", a premiação dos
50 melhores restaurantes do
mundo, eleitos em votação da
revista britânica "Restaurant".
Os três primeiros colocados
se repetem em relação ao ano
passado, mas agora em outras
posições. Quem subiu ao topo
foi o jovem René Redzepi, 33,
do Noma, instalado em um antigo galpão em Copenhague, na
Dinamarca. Agora o primeiro
do mundo, ele já havia trabalhado com o chef catalão Ferran Adrià, que este ano desceu
um degrau, para a segunda posição, após quatro anos no topo.
Em terceiro, vem Heston
Blumenthal, do inglês Fat
Duck, que outrora já foi considerado o melhor do mundo, na
mesma premiação -realizada
por um júri de 800 especialistas
de 26 regiões do mundo.
A escolha do Noma para encabeçar a lista confirma a ascensão não só da cozinha escandinava, mas do empenho
em valorizar ingredientes locais. No amplo salão de decoração marcada por linhas retas,
madeira clara, metal e luz natural (uma obsessão nórdica) são
servidos peixes, moluscos e
crustáceos do Atlântico Norte
-mas também pratos à base de
carneiro e boi almiscarado, parecido com um bisão. Tudo preparado, prega a casa, "de forma
pura, simples e inovadora" para
oferecer ao visitante "uma forma avançada de cozinha".
O Noma se vangloria de recorrer apenas aos ingredientes
obsessivamente escandinavos,
do bacalhau ao peixe-galo, dos
mariscos gigantes aos caranguejos de baixa profundidade,
frequentemente combinados a
cereais e legumes locais.
Por 995 coroas dinamarquesas (cerca de R$ 310), experimenta-se o menu de sete pratos
(para combiná-lo com vinho, o
preço quase dobra).
No início do ano, Ferran
Adrià declarou publicamente,
no Madrid Fusión, que vai fechar seu restaurante El Bulli
em 2012 para se dedicar a uma
fundação de pesquisas. O chef
que revolucionou a gastronomia contemporânea com a
criação de técnicas também foi
eleito pela "Restaurant" como
chef da década, um prêmio especial, que teve sua primeira
edição neste ano.
Já pensou como ficará a disputa até 2012 por uma mesa no
El Bulli, que tem milhares de
pessoas na fila de espera?
Isso não é problema para a
chef e consultora Barbara Ker,
que, no fim de 2009, pegou um
carro de Barcelona e seguiu até
o restaurante, na enseada de
Cala Montojoi, na Costa Brava
espanhola. "Não é nada esnobe,
parece uma casa de campo,
com cortina florida e móveis de
madeira." Também relembra
as mesas espaçadas e as louças
desenvolvidas para cada prato.
A cozinha é o oposto: clean,
moderna. "Tem um monte de
cara trabalhando, ninguém
abre o bico." E foi ali que o chef
Felipe Ribenboim, do Dois, esteve durante duas temporadas.
"O espaço da cozinha é maior
que o salão, e há um contraste."
Experiência sensorial
Ainda no trem, em direção a
Londres, Rosa Moraes, diretora
de gastronomia da rede Laureate Brasil, relatou à Folha o
almoço que havia acabado de
ter no Fat Duck, em Bray. Num
clima despretensioso, ocupa
uma casa com teto baixo, madeira e imperfeições à mostra.
Ficou intrigada com a mesa
vazia. Sem talheres, pratos,
pães. Depois entendeu. Foi servida uma musse de limão com
chá verde, que, em contato rápido com nitrogênio, se solidifica e fica supergelada. Ao degustar, teve seu paladar limpo
para começar a experiência
que o chef Heston Blumenthal
ia lhe proporcionar -um menu
que envolvia pratos como gaspacho de repolho-roxo com
grãos de mostarda e geleia de
codorna com creme de crustáceos, borrifado com um spray
para enriquecer o prato com
aromas do campo.
Seu clássico ainda estava por
vir: o "sound of the sea" (sons
do mar). Uma concha enorme é
servida à mesa. Dentro, está
um iPod que o comensal coloca
no ouvido para ouvir o barulho
das ondas, das gaivotas, "como
se estivesse sentado na beira do
mar, sozinho". O prato é uma
versão do mar: espuma de algas, areia de tapioca e três tipos
de peixe. "Como se fosse a própria praia comestível, conta
Rosa, que já visitou 13 restaurantes dos 50 selecionados
-inclusive os três primeiros.
Texto Anterior: Música: Venda mundial de discos cai 7% Próximo Texto: Atala é o único brasileiro na lista dos melhores do mundo Índice
|