São Paulo, quinta, 29 de maio de 1997.



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Dr. Dave enfrenta baratas voadoras gigantes

DAVID DREW ZINGG
em Sampa

"Os vegetarianos têm olhos evasivos, malignos, e costumam rir de maneira fria, calculista. Eles beliscam criancinhas, roubam selos postais, bebem água e deixam suas barbas crescer." (J.B. Morton)

Sente-se aqui do meu lado, Joãozinho. Não tenha medo. Você e o dr. Dave vão ter uma conversinha sobre tudo que você sempre quis saber sobre verduras e legumes, mas tinha medo de perguntar ao papai e à mamãe.
Vamos começar por um assunto que sempre despertou sua curiosidade, mas você era burro demais para indagar a seus superiores sobre seus segredos ocultos -os tomates radioativos. Por causa das coisas que ouve o tempo todo na Globo, você deve estar mal informado e provavelmente morre de medo da radiação.
Fique frio, cara! Tome consciência de que o mundo sem um pouco de radiação prejudicial ao cérebro também seria um mundo sem a TV Globo.
Penso nos tomates radioativos o tempo todo. Quando vou à feira de rua mais perto de minha casa, na sexta, sempre penso que estou ouvindo aqueles enormes tomates japoneses emitindo seus avisos atômicos.
Fico me perguntando: "Já que Fernandinho Henriquinho todo dia faz promessas que sabe que não vai poder cumprir, por que ele não promete dar um medidor Geiger de graça a cada brasileiro?".
Seria ótimo e nos ajudaria a não comprar aqueles enormes tomates assassinos radioativos cultivados -é claro- em Angra dos Reis.
Ronáldio
"Me diga, dr. Dave", você pergunta, "o que é a radiação, afinal?".
Bem, Joãozinho, tudo que existe no mundo, incluindo "Prestígio" e "Diamante Negro", é composto de átomos. Sabemos disso porque temos uma lista chamada Tabela Periódica, em que os átomos recebem nomes cômicos tais como itérbio, ítrio, gadolínio, túlio e ronáldio.
Alguns dos átomos, como o "jôsoarésio", por exemplo, são um pouco grandes demais para seu próprio bem. Eles se expandem a ponto de não caberem mais dentro da calça jeans do tamanho antigo e de parecerem ridículos quando vão à praia. Os outros átomos riem deles pelas costas ("Olha aí, cara, aquela baleia encalhada logo ali. Se perdesse alguns neurônios, não iam nem lhe fazer falta!").
Quando um átomo percebe que engordou demais (estado conhecido como estágio de massa crítica), ele resolve se dividir. Ele aparece num programa de TV e tenta lançar uma reação em cadeia, declarando que perdeu um monte de peso com o famoso Plano de Perda de Peso Atômico -"e você nem precisa abrir mão da pizza".
Juntamente com suas aparições na TV, o átomo também libera pedacinhos de radiação -fragmentos nucleares e fótons velhos e gastos com nomes que lembram irmandades gregas: alfa, gama e Frank Zappa. Eles saem voando em direções aleatórias até se chocarem com um corpo sólido, como, por exemplo, uma semente de tomate.
O que acontece quando a radiação atinge uma semente de tomate?
Essa é uma pergunta boa, muito boa mesmo. É exatamente o tipo de pergunta que, desde que seja você quem a faça, pode lhe conseguir um emprego como o primeiro cientista brazuca na agência espacial Nasa, na distante Gringolândia.
Embrapa no espaço sideral
Lá na Nasa, em Houston, Texas, pessoas como você passam o dia todo sentadas fazendo perguntas como: "Por que ninguém se deu ao trabalho de olhar pelo telescópio espacial Hubble antes de a gente arrumá-lo, hein? Hein?", " Não seria legal ser um astronauta brasileiro e brincar de pegar a bola de Jello flutuante?", " Ei, Billy Bob, esse bicho ali do lado do seu pé não é uma daquelas baratas carnívoras?" ou " O que aconteceria se lançássemos algumas sementes de tomate radioativas?".
Auxiliados por uma doação generosa recebida do pessoal da Embrapa, em Brasília, os cientistas da Nasa estão pesquisando o intrigante problema das sementes de tomate que emitem sons de clique-claque.
Percebendo que Fernandinho Henriquinho ficava extremamente curioso para saber o que acontece quando sementes de tomate são expostas à radiação, a Nasa/Embrapa colocou em órbita um satélite do tamanho de um ônibus escolar, repleto de sementes.
Anos depois, as sementes foram recuperadas e enviadas a várias escolas nas Gringo e Bananalândias.
As escolas receberam ordens de mandar seus alunos plantar as sementes para verificar se dali surgiriam tomates adolescentes mutantes.
A Nasa e a Embrapa já estão obtendo resultados fascinantes. A radiação embaralhou as informações genéticas contidas em algumas das sementes a tal ponto que, em lugar de produzir frutos redondos e vermelhos, elas geraram coisas mutantes que lembram berinjelas com rugas de preocupação, que lembram, vagamente, Madre Teresa.
Segundo a "Folha de Amapá", a maioria das sementes foi comida por macacos que habitam o topo das árvores da Floresta Amazônica e por gigantescas baratas da selva, quando não foi destruída por índios em manifestações de protesto. Outras sementes morreram sem terem chance de se defender porque o professor (que foi imediatamente promovido a ministro da Educação) não percebeu que era preciso regá-las.
Baratas apavorantes
Provavelmente o mais assustador resultado de todos foi relatado por uma professora de Cuiabá, que contou que baratas gigantescas arrombaram sua estufa e comeram seus tomates terrestres, mas não os tomates que haviam viajado no espaço.
Ricardão Requião pediu a formação imediata de uma CPI conjunta do Senado, Nasa e Embrapa, para responder às seguintes perguntas intrigantes:
- As baratas usaram luvas quando arrombaram a estufa?
- Existe alguma ligação entre as baratas e o governador do Amazonas?
- O que aconteceria se as baratas fossem enviadas ao espaço?
Na semana que vem, a Folha vai trazer uma revelação exclusiva: baratas radioativas tumultuam CPI do Senado.


Tradução de Clara Allain




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