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"Prêt-à-Porter" de Antunes Filho se amplia em livro
Espetáculos da série do diretor no CPT ganham outras dimensões em ensaios de textos e imagens
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde 1998, exatos 20 anos depois da histórica montagem de
sua adaptação de "Macunaíma", a
obra de Mário de Andrade, o diretor Antunes Filho enveredou por
uma costura que causou muito
estranhamento e dá o que falar até
hoje. "Por que algumas pessoas
ainda tratam o "Prêt-à-Porter" como exercício de alunos? Já virou
evento, espetáculo, e lota há cinco
anos", diz Antunes, 74.
O projeto paralelo às últimas
tragédias que montou ("Fragmentos Troianos" e "Medéia")
trouxe à luz o que o encenador define como "o primado do ator".
São exercícios criados no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), em
São Paulo, nos quais o intérprete
toma para si as funções de autor e
diretor.
Essa tentativa de ampliar as potencialidades do ator-criador estão espraiadas nos cinco espetáculos da série que inspiram o livro
"Prêt-à-Porter 1, 2, 3, 4, 5...", organizado pelo produtor Ricardo
Muniz Fernandes.
Não espere tratativas sobre os
"PP", como são chamados internamente no grupo. Não há retrospecto dos espetáculos, tampouco
os diálogos escritos.
"A idéia do livro é estabelecer
um processo aberto a vários pontos de vista, como o próprio "PP"
fez ao ir além do teatro, incluindo
questões éticas, dando mais liberdade ao ator", diz Fernandes, 45.
Em caprichada edição, formato
29 cm x 29 cm, o livro reúne 15 ensaios de textos e imagens. Os filósofos e professores da USP Olgária Matos e Renato Janine Ribeiro
discorrem, por exemplo, sobre o
trauma das guerras e a representação teatral que invade a política
e o poder.
A dramaturga Marici Salomão,
o psicoterapeuta junguiano Roberto Cirani e a psicanalista Vera
Lucia Felicio lançam perspectivas
a partir de suas áreas de atuação.
Há ainda ensaios dos fotógrafos
Emídio Luisi, Lenise Pinheiro
(colaboradora da Folha) e Paquito, entre outros.
Antunes Filho é artista influenciado pela geração de estrangeiros
que chegou ao Brasil nos anos 40,
50 e 60 (Adolfo Celi, Ruggero Jacobbi, Ziembinski, entre outros),
na qual o diretor tomava as rédeas
do espetáculo. Daí a surpresa
quando do lançamento dos "PP".
No início, em 1998, até as denominações oscilavam. Movimentos, performances, exercícios.
Hoje, Antunes trata-os como espetáculos, ponto. O encenador
diz recuar de seu papel para a condição de coordenador, a quem as
duplas de atores submetem as cenas prontas.
As melhores são agrupadas em
três e cumprem temporadas no
palco improvisado no hall do Sesc
Consolação.
Há uma sessão por semana, em
horário alternativo (atualmente,
às 19h de sábado), luz em geral,
cenários e objetos ínfimos.
Os atores respondem a perguntas do público ao final (até o "PP-3", eles expunham também a "gênese" de cada uma das histórias
apresentadas em intervalos; agora, vão direto aos personagens,
sem mediações).
No início de maio, os atores do
CPT fizeram em Cuba a pré-estréia de "Prêt-à-Porter 6", o novo
espetáculo que deve estrear no dia
2 de julho, na programação do
Fórum Cultural Mundial, em São
Paulo, quando também será lançado o livro (preço a definir).
O elenco voltou com o Prêmio
El Gallo de La Habana, entregue
pela Casa de las Américas, "pelo
compromisso com a investigação
dirigida ao estudo do homem
brasileiro".
Essa recepção deixa Antunes
ainda mais entusiasmado com o
que ele acredita ser a dimensão
social do projeto. "É a lei da inclusão também para o "Prêt-à-Porter", inclusão nas artes cênicas que
são praticadas num país emergente como o nosso. Trabalhamos somente com o necessário,
com a essencialidade do ator", diz
o diretor.
As cenas de "PP-6" são "A Casa
da Laurinha" (por Juliana Galdhino e Simone Feliciano, sobre dona de bordel que prepara vestido
de noiva para sua protegida); "Senhorita Helena" (por Arieta Corrêa e Carlos Morelli, sobre seqüestro de uma jovem rica por um
empregado da fazenda na qual
cresceram juntos); e "Estrela da
Manhã" (por Emerson Danesi e
Kaio Pezzutti, sobre cirurgião
plástico que recebe um paciente
que deseja implantar seios de silicone).
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