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DANÇA
Aclamado pelo público, o coreógrafo, que completou 50 anos de carreira, divide opiniões entre profissionais do meio
Béjart tem imagem ambígua entre seus pares
ROSITA BOISSEAU
DO "MONDE"
Aos 78 anos, com mais de 250
balés, Maurice Béjart goza de uma
posição de astro quase intocável
junto ao público, que assistiu em
Paris na semana passada espetáculos em celebração dos 50 anos
de sua carreira. Por outro lado, o
meio da dança contemporânea,
para cujo desenvolvimento ele
contribuiu com o Mudra, sua escola em Bruxelas, o cita pouco.
Enquanto a filiação a Merce
Cunningham é regularmente
mencionada, Béjart raramente
aparece como um modelo reivindicado. Popular demais, sem dúvida, menos inventor de gestos
que Cunningham, mais dedicado
a contar histórias e a trabalhar
com o espetacular, ele goza de
uma imagem ambígua. "Aos 20
anos eu o achava ultrapassado",
afirma a coreógrafa Mié Coquempot. "Dez anos depois, estou impressionada pela revolução que
ele provocou nos anos 50, por seu
projeto Mudra e por sua companhia, o Balé do Século 20, sua nova escola Rudra, em Lausanne, e
sua companhia."
A opinião de Coquempot reflete
amplamente os sentimentos dos
coreógrafos contemporâneos e
testemunha uma evolução das
mentalidades. "Eu quero ser chamado de ultrapassado se chegar
aos 80 anos depois de ter atravessado uma época, como ele", exclama o coreógrafo Abou Lagraa,
30. "Ele conseguiu fazer da dança
uma arte universal e a impôs como profissão estabelecida. Eu o
considero um exemplo para os jovens. Mesmo que o que ele encena
atualmente esteja ultrapassado,
seu espírito, sua filosofia, o descerramento das práticas que ele
instaurou continuam atuais."
Surpresa: a maioria dos coreógrafos conhecem pouco os espetáculos de Béjart. Poucos os assistiram, a não ser alguns em vídeo.
"Na França, há uma verdadeira
lacuna chamada Béjart", diz Marco Berrettini. "Parece-me que há
um enorme fosso entre sua contribuição, para mim superficial e
insignificante, e a imagem de que
goza. Vi algumas de suas peças, e
sua maneira simplista de tratar a
música é insuportável."
O caso "Mudra", por outro lado,
geralmente obtém unanimidade.
O coreógrafo Bernardo Montet,
que se beneficiou de seus cursos
pluridisciplinares em 1977-1978,
lembra-se de seu primeiro encontro com Béjart depois de uma audição: "Ele me atirou: "Você é
ruim, mas vou aceitá-lo assim
mesmo". Todos os seus cursos
eram de alto nível. Descobri, de
maneira magistral, a música contemporânea, e, pela primeira vez,
pessoas que vinham de todos os
países do mundo e nos permitiam
conhecer culturas diferentes."
Para Philippe Decouflé, reprovado na audição, a influência de
Maurice Béjart se mede pelo padrão de seus sonhos adolescentes.
Dono nos anos 70 do famoso disco de Pierre Henry, "Messe Pour
le Temps Présent", ele sonhava
olhando a foto da capa, com homens de jeans e coreografava
mentalmente passagens inteiras
desse trecho. "Quando vi o espetáculo alguns anos depois, com 16
anos, fiquei decepcionado. Era
menos moderno do que eu imaginara, mas ainda assim impressionante. Há muito Béjart deixou de
me interessar. Isso não impede
que tenha sido um estopim e, a
seu modo, um precursor."
Béjart precursor? O termo surge
com freqüência. Régine Chopinot
não hesita em evocar suas primeiras peças como "obras de vanguarda". Angelin Preljocaj, que
viu "A Sagração da Primavera"
(1959), em 2004, afirma: "Esse balé atravessou o tempo conservando sua vitalidade. Estou impressionado pelo fato de que hoje ele
faça parte do repertório de várias
companhias e tenha resistido".
Béjart popular? Uma banalidade, um clichê que paradoxalmente causa reflexão, no atual contexto de frieza do público. O sucesso
de Béjart dinamita os propósitos
convencionais sobre a democratização da arte e sua necessária facilidade de acesso. Preljocaj, que se
confessa obcecado pelo assunto,
pergunta: "Foi a necessidade de
estar em sintonia com um grande
público que o fez abandonar suas
pesquisas e conter sua ousadia?".
Tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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