São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

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Acervo de Smetak ganha restauro

Músico e artista plástico que influenciou tropicalistas terá exibidas suas "plásticas sonoras" no MAM-BA, a partir de agosto

Suíço-brasileiro foi figura importante na cena cultural baiana nos anos 50 e 60; projeto também cataloga e digitaliza objetos e fotos

Divulgação
"A Vina" usa materiais como metal, madeira e cordão de nylon


MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma parte importante da música de vanguarda brasileira do século 20 começa a ser recuperada com o projeto "Smetak - Imprevisto", que está restaurando e deixando em condições de serem tocadas 80 "plásticas sonoras" do músico, compositor e artista plástico Anton Walter Smetak (1913-1984).
As "plásticas sonoras" são peças que misturam as funções de instrumento musical e de escultura, com as quais o suíço-brasileiro tocava composições sonoras de vanguarda em sua época de atuação.
As 80 peças serão expostas a partir de agosto no Museu de Arte Moderna da Bahia. A mostra também vai possibilitar ao público ouvir e tocar alguns dos inusuais instrumentos.
Smetak foi figura fundamental na cena cultural baiana e brasileira nas décadas de 50 e 60. Chamado pelo compositor Hans-Joachim Koellreuter (1915-2005) para dar aula na UFBA (Universidade Federal da Bahia), suas experimentações influenciaram desde os tropicalistas Gilberto Gil, Caetano Veloso (que o cita em "Épico", faixa de "Araçá Azul") e Rogério Duarte até nomes contemporâneos como Lívio Tragtenberg e Marco Antônio Guimarães, do grupo Uakti.
"Smetak-Imprevisto" foi um dos 81 projetos escolhidos em cinco editais do projeto Natura Musical, que, por ano, investe cerca de R$ 1 milhão nos programas selecionados. O edital deste ano, o sexto, vai até julho.
Os instrumentos-esculturas estão divididos em dois acervos principais: um da biblioteca da Escola de Música da UFBA; o o outro, de uma das filhas do músico, Bárbara Smetak.
"A biblioteca havia feito uma restauração de parte das peças anos atrás, mas elas já não tinham condições de serem tocadas. Já o acervo de Bárbara foi o que precisou de mais cuidados, estava sem acondicionamento adequado", diz Jasmim Pinho, coordenadora do projeto.

Instrumentos perdidos
De acordo com Pinho, uma das principais dificuldades de manutenção foi a precariedade do material usado pelo próprio Smetak. "Ele tinha usava como base elementos cotidianos na confecção dos instrumentos. Alguma pessoa desavisada, ao ver um instrumento, poderia achar que era arame velho, sucata", conta ela. "Por isso, dez plásticas sonoras estão perdidas, devem ter sido destruídas. Havia uma grande flauta, de 22 metros, que sumiu, além de peças de barro, entre outras."
Além de deixar os instrumentos em condições perfeitas de uso e exibição, o projeto faz a catalogação de 110 objetos e a digitalização de cerca de 350 fotos, que serão disponibilizadas até agosto na internet.
Em meio ao acervo, foram descobertos um filme em 8 mm chamado "Simquenão", partituras e 29 livros, entre teoria musical, escritos pessoais e poesia -o músico havia publicado apenas dois. Parte desse material também vai se tornar acessível no site.
"Smetak era multidisciplinar muito antes do termo ser comum e fazia experimentos que têm paralelo com a música eletrônica", avalia Pinho.


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