São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

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FERNANDO BONASSI

Anatomopatologia do juiz ladrão


O juiz ladrão é fruto da mesma concepção que atinge os outros pobres mortais O JUIZ ladrão é fruto da mesma concepção que atinge os outros pobres mortais.


São desejos humanos demais os de seus pais, de forma que feito com ardor, é esperado com amor e recebido no calor de um acontecimento que seria de festejar, não fossem para lamentar os desdobramentos que terá tal "ser pequeno", ao crescer e prosperar.
É impossível saber-lhe o defeito, já que por efeito de seu descaramento, o juiz ladrão mama, obra e cresce com a mesma feição e falsa aparência de inocência das faces das crianças normais.
Não são. São animais cheios de manha e desde cedo o juiz ladrão vê-se como uma espécie de exceção, choramingando e chantageando a própria família pela obtenção recursos especiais.
Afeiçoado a esses cuidados imorais, o juiz ladrão se acostuma rapidamente às deformações e masturbações das brincadeiras de menino, concedendo-se benefícios subliminares exclusivos que só os egoístas e tarados mais furtivos são capazes de querer aproveitar consigo mesmos por baixo dos panos, batinas e togas.
Quando em voga a fase de alfabetização, o juiz ladrão ficará atento aos requisitos dos ritos escolares, entregando as faltas protocolares dos coitados dos amigos de plantão pelo simples prazer de vê-los castigados no recreio.
Em meio a seus devaneios papais o juiz ladrão terá se especializado em condenações morais e tormentos físicos, em cujas provas a disciplina de estudar prefere evitar, mandando prender ou cooptar os resultados para poder passar de ano.
Estudando se aprende de tudo, principalmente roubar dos burros com as entrelinhas das leis dos inteligentes, com as quais, aliás, os poderosos mais diligentes sempre se acertaram com o juiz ladrão, para julgar-lhes e lavar-lhes as mãos daquilo que eles são.
Saber é poder! Nem é necessário ser historiador americano ou filósofo francês pra reconhecer que estão entre os mais notórios revolucionários republicanos os decanos mais mundanos da malandragem monarquista. Aliás, a sensação anarquista de sacanagem geral é muito legal para a imagem do juiz ladrão, já que escrevem as regras de conduta dos meios de comunicação que os devem esquecer, comprar ou evitar.
O juiz ladrão é amigo íntimo do burocrata vira-casaca (aquele incendiário que clama por dissolução quando quer emprego no balcão do governo adversário); é parente próximo dos que escrevem e se esquecem; dos que estupram, mas não matam e dos que dizem que vão ousar vencer e acabam por parar para gozar sua vontade de ficar.
O negócio é conservar! E o juiz ladrão conhece muito bem o mal desse conservadorismo todo. Afinal, o que é de todos, pode pertencer a uns poucos, é ou não é?!
Parece até que é direito, não fosse injusto e feio feito fuzilamento de criança...
Aliás, que espécie de esperança inspira um juiz ladrão?
O juiz ladrão é uma moléstia contagiosa! A honra horrorosa da mãe do juiz ladrão, por exemplo, jamais será recompensada a contento, podendo requerer a seu tempo uma decisão judicial fraternal, para plástica estética, carro oficial e lugar no programa de carnaval de proteção à testemunha num paraíso fiscal.
Assim, o juiz ladrão poderá ser afastado da função usufruindo de pensão vitalícia, caso essa sua velha honra desonrada e apodrecida não seja comprovada e atestada em cartórios incompetentes, cujos dirigentes hereditários ele conhece, faz de otários, nomeou ou presenteou com talonários e tabeliões, em regime de conivência e concordata.
A concordata será assassinada de acordo com as circunstâncias vitais e materiais dos mais fracos que tiverem alguma coisa pra perder, já que o juiz ladrão tem uma necessidade a sufocar e um poder a exercer. Um poder de matar, pra não dizer de doer ou coisa pior...
O melhor juiz ladrão, pode até ser a favor da pena de morte, desde que outro cidadão assuma a bronca no lugar dele.
O maior juiz ladrão há de sujar a mão com os sete pecados básicos da constituição: é morna, é gorda, cartorial, senhorial, patrimonial, ambígua e intelectual em demasia num país de crentes iletrados sem poesia.
O juiz ladrão não perde um dia por esperar. Aliás, ganha! E fará questão de utilizar a lentidão do foro privilegiado já que seu projeto de defesa é satisfeito pela morosidade dos pleitos das varas e instâncias mais baixas.
As demais altas autoridades poderiam até se indignar, não fornecessem as mesmas imunidades a criminosos parlamentares mais antigos e tarimbados nesses processos carimbados e amontoados em paralisia.
A razia do juiz ladrão, ao menos, deixa uma lição funesta e honesta sobre a pretensão humana do direito, do juízo e da razão.
Cada cabeça uma sentença, meu irmão.


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