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"Gota d'Água" carioca chega a São Paulo com reforço musical
"Partido Alto" e "O que Será (À Flor da Pele)" foram incluídas na trilha do espetáculo
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1975, na montagem original de "Gota d'Água", eram
quatro as canções a embalar a
tragédia de Joana (Bibi Ferreira), Medéia brasileira abandonada pelo marido (Jasão) e à
beira de uma vingança de que
ninguém na simplória Vila do
Meio-Dia se esqueceria.
A partir de amanhã, "Bem
Querer", "Basta Um Dia", "Flor
da Idade" e a canção que dá nome ao espetáculo ganham a
companhia de "O que Será (À
Flor da Pele)" e "Partido Alto",
na leitura do diretor João Fonseca para o musical de Chico
Buarque e Paulo Pontes.
"Apenas criei uma estrutura
mais próxima à do musical que
estamos acostumados a ver hoje em dia. Não houve traição à
idéia original. Só coloquei música onde já havia sugestão", diz
Fonseca. "Sei que é uma ousadia, mas foi algo pensado e pesquisado. Um enxerto é uma coisa muito perigosa, pode causar
rejeição. Mas as [novas] canções são do mesmo período [da
concepção de "Gota d'Água'], do
mesmo Chico, têm as mesmas
sonoridade e teatralidade."
O espetáculo estreou no Rio,
em outubro de 2007, e recebeu
duas indicações ao Prêmio
Shell (melhor ator, para Thelmo Fernandes -que faz Creonte, dono do conjunto habitacional em que se passa a trama-, e
música, para Roberto Burguel).
Se a porção musical cresceu
em relação à original, o oposto
se deu com o elenco e a duração
das cenas: personagens foram
condensados (restaram 10 das
15 figuras centrais), e a história
agora chega ao fim uma hora
antes (eram três horas e meia).
A atriz Izabella Bicalho, que
encarna a mulher trocada por
uma mais jovem, idealizou o
projeto há três anos. "Sempre
fui apaixonada por tragédia
grega, mas esbarrava na minha
missão de artista, que é ter alcance popular grande. Eram
coisas díspares. Até que me
lembrei de "Gota d'Água"."
Primeira feminista
E por que a saga de Medéia/
Joana segue atual? "Porque é
sobre amor, desilusão, abandono. E isso são coisas com que as
pessoas sempre vão se identificar. Ela é um símbolo de luta,
perseverança, conquista. Está
muito à frente de seu tempo",
sugere Bicalho. "É a primeira
feminista", arrisca Fonseca.
"E há também um viés político, que continua atual, infelizmente. A peça trata da eterna
opressão do pobre pelo rico.
Creonte é um explorador e Joana, uma espécie de guerrilheira; apesar de sua atitude extremada [matar os filhos e a si
mesma para castigar Jasão] e
de ser movida por vingança, é
admirada e benquista pelo público. Não a condenamos, pois
ela é incorruptível, não se vende, algo raríssimo hoje em dia",
completa ele.
Depois de "Gota...", Fonseca
dirige "O Santo e a Porca", de
Ariano Suassuna, no Rio. Já Bicalho será a mãe da personagem-título de "Capitu", microssérie de Luiz Fernando
Carvalho para a Globo.
GOTA D'ÁGUA
Quando: estréia amanhã, às 20h30;
sex. e sáb, às 20h30; dom., às 18h;
até 22/6
Onde: teatro do Sesc Vila Mariana
(r. Pelotas, 141, 0/xx/11/5080-3000); classificação 14 anos
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
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