São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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Os eleitos


Livros "Art Today" e "Blink." elencam o melhor da jovem produção contemporânea e inclui artistas brasileiros


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem brasileiro eleito entre o que há de melhor na produção de arte contemporânea. Duas publicações internacionais, lançadas agora em junho, buscam elaborar um amplo panorama das artes visuais no início do milênio: "Art Today", da editora alemã Taschen, que apresenta 137 artistas plásticos, e "Blink.", da inglesa Phaidon Press, que reúne cem fotógrafos.
Em ambas, estão presentes artistas brasileiros. Na primeira, Vik Muniz, Ernesto Neto e Rivane Neuenschwander; na segunda, Muniz novamente, Cássio Vasconcelos e Eustáquio Neves.
"Não descobrimos artistas, selecionamos aqueles que de fato já entraram para o mundo das artes e têm certa presença em mostras, publicações e galerias; desse ponto de vista, esses são os brasileiros com maior visibilidade", afirma Uta Grosenick -que, junto com o galerista Burkhard Riemschneider, é editora de "Art Today", por e-mail, à Folha.
Artistas brasileiros vêm, cada vez mais, ocupando espaços internacionais, seja em mostras organizadas por museus, em galerias internacionais ou em publicações. Os livros, portanto, apenas refletem a forte e constante inserção de brasileiros no cenário internacional.
Em 1999, a Taschen lançou "Art at the Turn at the Millennium", um catatau também com 137 artistas, cujas carreiras deslancharam nos anos 80 e 90, com maior circulação no mundo das artes, na véspera no novo milênio. Rapidamente o livro tornou-se uma referência em arte contemporânea, mas brasileiros não chegaram a ser convocados.
"Art Today" retrata uma geração posterior, apesar de cerca de 40 artistas participarem dos dois livros. "É porque eles desenvolveram novos trabalhos ou ainda têm grande influência sobre novos artistas", diz Grosenick. É o caso do alemão Wolfgang Tillmans, da suíça Pipiloti Rist e da holandesa Rineke Dijkstra.
A grande maioria de "Art Today" continua sendo originária da Europa e dos EUA, apesar de Grosenick ressaltar a internacionalização como tendência do novo livro. "A concentração de artistas europeus e norte-americanos ainda é um fato. Mas naturalmente existe uma grande diferença na forma como certos países apóiam seus artistas e suas instituições de arte. Esta é a chave em como eles se tornam conhecidos no exterior", diz a editora.
E, sem dúvida, é o mercado que determina a presença dos artistas no livro, o que não é, em si, negativo para Grosenick: "O mercado é parte da cena artística e vice-versa. Seria ingênuo pensar que o mercado não tem influência na produção; por outro lado, as pessoas que são "o mercado" tornam possível muita coisa em arte que sem eles jamais se realizaria e ainda seria apenas um sonho".
Assim como "Art at the Turn...", "Art Today" revela-se como importante introdução para o mundo da arte contemporânea. Os 137 selecionados marcam presença constante em mostras internacionais e vários são conhecidos por aqui graças à participação na 25ª Bienal de São Paulo, caso dos consagrados Jeff Koons, Shirin Neshat e Andreas Gursky. Há também outros, muitos, aliás, cuja presença ainda é limitada ou nenhuma, como Damien Hirst, Tom Friedman ou Janes & Dinos Chapman. Lançado em inglês e em alemão, o livro ganha em outubro versão em português.
Já "Blink." é uma publicação nem tanto centrada no mercado. O livro funciona como uma exposição impressa, da mesma forma como outras duas publicações da editora: "Cream" (1998) e "Fresh Cream" (2000). Em ambas, dedicadas aos chamados "novíssimos", já constavam brasileiros, como Neuenschwander, Neto e Rosângela Rennó, no primeiro, e Adriana Varejão, Laura Lima e Fernanda Gomes, no segundo.
A estrutura de "Blink." segue os "Cream": dez curadores internacionais foram incumbidos de selecionar dez artistas, nesse caso, fotógrafos. Além de textos dos dez curadores, o livro traz dez textos de especialistas. Um deles é a reprodução de uma entrevista de Vik Muniz realizada por Charles Stainback para o catálogo da mostra "Seeing Is Believing".
"Blink." reúne diversas facetas da fotografia contemporânea. Há desde trabalhos com grande influência da moda, como Jean-Pierre Khazem (aquele das máscaras da Diesel), até artistas festejados nos circuitos de bienais, como o italiano Massimo Vitali.
O fotógrafo Marcelo Brodsky foi o responsável pela seleção de dois dos brasileiros no livro: Cássio Vasconcelos e Eustáquio Neves, este já presente em outro livro da Phaidon, "Different", publicado no ano passado, uma investigação da identidade negra. Já Muniz foi selecionado pela norte-americana Wendy Watriss.
Há mais a caminho. Em setembro está previsto o lançamento de "Vitamin P", também da Phaidon, sobre pintura contemporânea. Já foram confirmadas as presenças de Beatriz Milhazes e Adriana Varejão. Listas de eleitos sempre são polêmicas, mas essas não se pode ignorar.



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