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LIVROS/LANÇAMENTOS
"A CABEÇA"
Sem lançar contos desde 1979, autor mineiro encerra lacuna com lançamento de volume na segunda, em SP
Luiz Vilela equilibra perverso e sarcástico
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os conhecedores da obra de
Luiz Vilela certamente sabem que
o diálogo é uma marca constante
da obra do escritor mineiro.
O que talvez não saibam é que o
autor de "A Cabeça" -volume de
contos que será lançado em São
Paulo na próxima segunda- recebe "de nariz torcido" o que por
vezes lhe é atribuído como elogio:
a espontaneidade das falas.
"Espontâneo dá idéia de que eu
simplesmente escuto e reproduzo
aquilo", diz Vilela, 59. Comentando que essa é tarefa para gravador, Vilela grifa: muitas vezes,
custa muito trabalho ao autor
"parecer espontâneo".
Se o diálogo sempre esteve presente na obra de Vilela, centrada
que ela é no registro do dia-a-dia,
em "A Cabeça", pela primeira vez,
ele é onipresente. Nenhum dos
contos escapa à estrutura calcada
na fala, e a chave da questão está
no tema central de Vilela: o contato humano e seus confrontos.
O livro não é uma seleção; está
nele a produção completa do autor no gênero, ao longo dos últimos anos. Alguns dos escritos figuraram antes em jornais e revistas; outros são inéditos.
Comum a eles é o fato de se
equilibrarem sobre um fio entre o
perverso e o sarcástico, para abordar o tema preferido de Luiz Vilela: o contato humano.
Mais do que o contato, trata-se
aqui de confrontos do cotidiano,
registrados em instantâneos: todos os contos são, também situações de um só fôlego, sem saltos
no tempo, assinalando a tensão
de momentos estanques.
Frequentemente, os personagens são só dois, travando embates de mesquinhezas. Porém, insiste o autor, a pequeneza é aparente: reside somente na superfície dessas situações.
"As pessoas tendem a ver muito
o aspecto da realidade circundante, e isso é, naturalmente, um aspecto da minha obra. Mas é preciso ir mais fundo."
Vilela pertence ao rol de autores
que crê que o extraordinário está
no cotidiano -mas "o ouro", diz,
citando o grego Heráclito, está
nas profundezas; é preciso cavar
para encontrá-lo".
"Se minha literatura tem algum
ouro, também é preciso descer
para entendê-la bem."
O tão falado tom do registro é
que, na opinião do escritor, confunde o leitor. "O diálogo muitas
vezes serve para esconder, e não
para mostrar", indica.
O que esconde, então, a pré-adolescente febril de "Susy", caminhando entre a ingenuidade e a
sedução do vizinho adulto? E o
que revela a conversa inesperada
das "Freiras em Férias"?
Ou o que supor a partir do nervosismo de um marido, diante da
iminente visita de uma amiga da
mulher, com suas "sete pragas"
-crianças vindas de São Paulo
para ver galinha ciscar no interior- em "Catástrofe"?
"Não sei. Essa é a resposta que
não satisfaz ninguém, mas é isso
aí. A pessoa tem de aprender a
conviver com a ambiguidade,
com a sombra", rebate Vilela. Por
trás da simplicidade das superfícies, Vilela espera, se escondem
enigmas renovados a cada leitura.
A CABEÇA - De: Luiz Vilela. Editora:
Cosac & Naify (tel. 0/xx/11/3218-1444).
136 págs. R$ 18. Lançamento: segunda,
dia 1º/7, às 20h. Onde: Bar Balcão (r. Dr.
Melo Alves, 150; sp, tel. 0/ xx/ 11/3063-6091). Quanto: entrada franca.
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