São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

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Mostra usa acervo da Pinacoteca de SP para dialogar com obras de museu holandês

Modernismo em três versões

Tuca Vieira/Folha Imagem
Funcionário monta obra "Obglob", de Kenny Scarf, em "Encontros com o Modernismo", que é aberta hoje na Estação Pinacoteca



Exposição, que apresenta 95 trabalhos, abarca principalmente o período da década de 40 até hoje


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Após o acervo da Tate Gallery, de Londres, em 2003, e do Centro Pompidou, de Paris, há dois anos, ambos exibidos na Oca, é aberta, hoje, em SP, uma seleção de obras do Stedelijk, o mais importante museu de arte moderna e contemporânea da Holanda, sem o colonialismo visto nas primeiras.
"Encontros com o Modernismo" chega sem a centralidade da produção européia e norte-americana existentes nas mostras anteriores e insere a produção nacional em meio a uma história que também tem sua versão tropical. "Não teria sentido apresentar uma mostra de arte moderna aqui sem recorrer ao contexto brasileiro", diz o curador Maarten Bertheux, que, com Ivo Mesquita, revirou o acervo da Pinacoteca, que acolhe a mostra, para selecionar os brasileiros.
Revirar não é um termo exagerado. O acervo da Pinacoteca, assim como o de todos os museus da cidade, tem muitas lacunas em suas coleções, dificultando criar um bom panorama da produção nacional. "A mostra revela que há lacunas no acervo que precisam ser preenchidas, mas o importante é a possibilidade de apresentar uma história da arte inclusiva", diz Mesquita. Só duas obras escolhidas não pertencem ao acervo: uma de Hélio Oiticica (1937-1980) e duas de Leonilson (1957-1993) que, boa nova, passam a ficar em comodato com a Pinacoteca.
A exposição, que ocorre na Estação Pinacoteca, a nova filial do museu, tem como primeira imagem duas telas, uma do brasileiro Flávio de Carvalho e outra do futurista e cubista italiano Gino Sverini, ambos de certa forma marginais no circuito modernista, o que já aponta para outro rumo da mostra: uma seleção sem obviedades. "Espero que o público veja que há uma tradição mais aberta do que a que curadores costumam exibir", explica Bertheux.
Segundo o curador holandês, "a idéia da exposição está vinculada à coleção do Stedelijk, formada, basicamente, por obras dos anos 40 até hoje; entretanto, há grupos fortes na coleção, como as obras abstracionistas, por conta de Mondrian, as expressionistas, que representam uma ação política de aquisição contra a arte degenerada [termo cunhado por Hitler contra a arte moderna], e o minimalismo e conceitualismo".
Com isso, a mostra apresenta três módulos, em três possíveis versões do modernismo: "Abstracionismo", "Expressionismo" e "Invenções Conceituais", esta última abarcando não só a vanguarda conceitual de Marcel Duchamp, do início do século 20, mas também a produção recente, chamada de pós-moderna. Aliás, a curadoria prefere não adotar tal denominação, considerando o que se chama de pós-modernismo "uma tentativa de correção das visões prevalecentes do modernismo", uma proposta um tanto polêmica.
Por questão financeira, o módulo com mais obras é "Invenções Conceituais". O alto preço do seguro dos trabalhos, segundo Bertheux, tornou imperativa a redução de obras das primeiras décadas do século 20, de valor muito mais alto. Entretanto com isso ganha destaque a produção contemporânea internacional que, com exceção das bienais de São Paulo, tem pouca visibilidade no país. Assim, artistas vivos de renome como Bruce Nauman, Jeff Koons, Douglas Gordon, Cindy Sherman ou Nan June Paik fazem um forte perfil atual.
Mas há muitos clássicos também e em diálogos surpreendentes com a produção nacional. A segunda sala, por exemplo, apresenta um dos quadrados concêntricos de Frank Stella, da década de 60, ao lado de uma escultura de Willys de Castro (1926-1988), dos anos 80, revelando uma aproximação construtiva inusitada.
A montagem, aliás, busca produzir vários diálogos, a partir de elementos da construção dos trabalhos. "Uma das tarefas do curador é partir da fisicalidade das obras para apontar novos elementos da arte moderna. Ao reunir dois trabalhos, um deve tornar o outro melhor", diz Bertheux.
Nesse sentido, e aqui a arte brasileira realmente ganha um novo patamar, há muitas e boas aproximações, como a tela de Tomie Ohtake ao lado de outra do holandês Willen de Kooning (1904-1997), ou a escultura de Jeff Koons ao lado das obras de Leonilson.
Após São Paulo, a mostra segue para o Museu de Arte Moderna do Rio, onde será exibida a partir do acervo da coleção da instituição carioca, mais completa que a da Pinacoteca, graças ao colecionador Gilberto Chateaubriand, o que promete mais surpresas. Mesmo assim, as que estão aqui já são uma nova marca entre as mostras internacionais no país.

ENCONTROS COM O MODERNISMO. Mostra com 75 obras do museu Stedelijk, de Amsterdã, e 20 trabalhos do acervo da Pinacoteca. Curadoria: Ivo Mesquita e Maarten Bertheux. Quando: abertura hoje, às 19h30, para convidados; de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 3/10. Onde: Estação Pinacoteca (lgo. Gen. Osório, 66, SP, tel. 0/xx/11/222-8968). Quanto: R$ 4 (sáb., grátis). Patrocinador: banco Real -ABN Amro Bank.


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