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Cinema/estréias - Crítica/"Fora do Jogo"
Filme expõe repressão à mulher no Irã
Jafar Panahi usa a paixão pelo futebol para mostrar incômodos de uma sociedade que proíbe a presença feminina em estádios
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
As dificuldades impostas
pela censura para "O
Círculo" (2000) e "Ouro Carmim" (2003), que exploram aspectos incômodos da sociedade iraniana, não parecem
ter intimidado o cineasta Jafar
Panahi, vítima de restrições para sair do país.
"Fora do Jogo" (2006), seu
quinto longa, volta a cutucar a
onça governamental com vara
curta, ainda que seu tema de
fundo, a paixão pelo futebol, sugira algo menos politizado. O
problema é que, no Irã, mulheres são proibidas de ir aos estádios. Até os anos 80, não podiam nem ver os jogos pela TV.
Estamos de volta, portanto,
ao eixo de "O Círculo" - a
opressão contra as mulheres,
cidadãs de segunda categoria
no Irã, encarada ao mesmo
tempo como um problema de
ordem religiosa e como prática
de um Estado autoritário. Panahi faz algo mais efetivo que
discursar contra isso: mantém
o espectador o tempo todo ao
lado das mulheres nos filmes.
Ao estabelecer ali o ponto de
vista narrativo, ele reitera a
idéia de mobilidade restrita vivida por elas e da paisagem
masculina (confundida, muitas
vezes, com paisagem policial)
como algo amedrontador, ao
menos para quem não se contenta com a definição de papéis
atribuída aos gêneros em uma
república islâmica tutelada por
um "conselho de guardiães".
Aqui, a jornada começa, em
registro semidocumental, num
ônibus que leva torcedores para a partida decisiva na campanha da seleção iraniana durante as eliminatórias asiáticas para a Copa do Mundo de 2006,
contra Bahrein, no estádio Azadi, em Teerã, com capacidade
para mais de 100 mil pessoas
(ou, no caso, 100 mil homens).
Um pai, sabendo que a filha
adolescente tentará ir ao jogo, a
procura desesperadamente.
Naquele ambiente típico de
qualquer país onde o futebol
seja popular, revela-se um rosto feminino disfarçado. Mal
disfarçado, diga-se: como os périplos dessa e de outras torcedoras vão demonstrar, sua presença nos estádios é conhecida
(os cambistas, por exemplo, as
exploram com preços superiores aos praticados com homens), mas ainda cerceada.
O título internacional, "Offside" (impedimento ou fora de
jogo), se refere a uma situação,
na partida, de ataque irregular.
No gramado do Azadi, enquanto as moças tentam chegar à arquibancada, um impedimento
ameaça interferir no placar. E,
como um jogador que o árbitro
considere impedido, elas são
pegas em flagrante onde, pelas
regras, não poderiam estar.
A repressão não se iguala à de
"O Círculo": é um tanto esculhambada (coisa do futebol?) e
também atinge homens. Econômico nas elipses de tempo, o
filme tem a duração de uma
partida, o que reforça a sensação de frustração dos excluídos,
mas talvez desperte em alguns
o desejo de ver um compacto só
com os melhores momentos.
FORA DO JOGO
Produção: Irã, 2006
Direção: Jafar Panahi
Com: Sima Mobaraki-Sahi, Ayda Sadeqi e Mahnaz Zabihi
Quando: a partir de hoje no Cine Bombril e na Reserva Cultural
Avaliação: regular
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