DA REPORTAGEM LOCAL

A Gallimard, uma das editoras mais prestigiadas do mundo, lançou há dois meses um livro feito dentro de uma penitenciária brasileira.
O livro é "Marginália", de Hosmany Ramos, publicado pela Série Noire (série negra), coleção que tem romances policiais de autores como Dashiel Hammett e Raymond Chandler.
Condenado em 1981 por homicídio, roubo, tráfico de drogas e contrabando, Ramos está detido no chamado Piranhão, presídio de segurança máxima em Taubaté (a 134 km de São Paulo).
Um dos presos mais famosos do país, o ex-assistente do cirurgião Ivo Pitanguy escreveu as 17 histórias de "Marginália" (na França saíram só 15) na cadeia, em 1988.
"Marginália propõe uma viagem ao fundo do niilismo contemporâneo", escreve no prefácio o prestigiado escritor-punk francês Maurice Dantec.
"Não sei por que milagre uma tal obra possa surgir, sobreviver e sair dessa cloaca, nos mostrando o verdadeiro dia, tão tragicamente humano", completa Dantec.
Em entrevista à Folha em abril deste ano, Hosmany dizia que um de seus sonhos era que fizessem um grande concurso literário em todas as prisões brasileiras.
E isso não está longe de acontecer. Esse é um dos projetos de Wagner Veneziani Costa, diretor-presidente da editora WB, que organiza o atual concurso na Casa de Detenção de São Paulo. "Vai depender só do resultado do primeiro livro", diz o editor.
(CEM)

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