|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O LUGAR DO SONHO
Retrospectiva moralizante exige compaixão
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"O lugar do sonho" é mostra ilusionista. Reúne 24
peças dos últimos dez anos de Rosana Palazyan no Centro Cultural
Banco do Brasil.
O ilusionismo é técnica moralizante. O artista declara-se baseado em fatos ao criar sua obra, aumentando a crença do público na
verossimilhança da narrativa artificial. Interpretações parciais são
apresentadas como realidade.
As etiquetas identificatórias da
exposição fazem reiterada referência à base real das cenas figuradas sobre tecido, barrado e brinquedos: "Bélgica, 1996", "Imagens
de Jornais", "Entrevista com Adolescentes Internados em Instituições por Infringirem as Leis".
No saguão do edifício, o visitante encontra um confessionário de
madeira lavrada. Entra sozinho
no compartimento central, senta-se e lá é fechado por um guia da
instalação. Dentro, ouve gravações de depoimentos sobre medo
ligado à morte de familiares através das janelas confessionais.
Predominam imagens que editam episódios histórias de violência e morte. O tema da infância é
recorrente, seja no tosco bordado
sobre lençol de bebê com babados
"Mãe e Filho" (1996), ou em
"L.C.P. (Falecido)" (1998).
A galeria do segundo andar
abriga três conjuntos heterogêneos. As cenas tridimensionais
em miniatura de "Uma História
que Você Nunca Esqueceu?"
(2004) concentram a tensão num
dos incidentes descritos no bordamento da barra circundante. A
instalação "àpara Valéria, Luciana, Patrícia, Maia, Mônicaà"
(2000/04) inclui dezesseis pingentes pontiagudos e coloridos, com
nomes femininos e dizeres, produzidos por adolescentes detidas.
Nos seis retratos a lápis intercalados com espelhos, jovens mascarados sobrepõem-se a frases como: "é assim que eu vou ficar com
o tempo que vou passar aqui, vou
ficando velho".
Porém algumas soluções plásticas independem das citações.
"Um Pedido para Estrela Cadente" (2000/04) ocupa sala escura
com balões de gás encostados ao
teto e desenhados com tinta fluorescente. Brilham sob luz negra,
tal como o chão de pedriscos
brancos sobre o qual caminhamos. Podem ser lidos puxando-se
para baixo os cordões amarrados
nas pontas.
A compaixão é requisitada a cada passo para o envolvimento
com a bem montada retrospectiva. Mas na saída nos aguarda a
volta à Praça da Sé.
O Lugar do Sonho
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r.
Álvares Penteado, 112, centro, SP, tel. 0/
xx/11/3113-3600)
Quando: ter./dom., 10h/21h; até 7/9
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Artes plásticas: Bienal Naïfs encerra inscrições amanhã Próximo Texto: DVD entrega ao acaso a ordem do filme Índice
|