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CRÍTICA/"4"
Álbum conquista pelos silêncios e pelas letras de vidro
DA SUCURSAL DO RIO
Não é difícil afirmar que "4", o
novo CD do Los Hermanos, é inferior a "Ventura", o excepcional
disco anterior. Mas a afirmação
requer dois cuidados.
O primeiro pode soar banal,
mas deve ser tomado. A cada audição, "4" melhora. É um CD que
deve ser mais e mais ouvido, para
que se percebam seus detalhes,
suas sutilezas, suas belezas. Se
"Ventura" era avassalador com
músicas como "Samba a Dois" e
"Cara Estranho", "4" conquista
pelas beiradas, pelo não dito tanto
quanto pelo que é dito nas letras.
O segundo cuidado é reconhecer que, se ao menos nas primeiras audições, "4" parece inferior a
"Ventura", não é porque os Hermanos tenham, digamos, piorado. O que fizeram foi aprofundar
um caminho iniciado no segundo
CD, "Bloco do Eu Sozinho", aquele em que deram uma banana para os marqueteiros e fãs que esperavam outras "Annas Júlias".
No novo disco, o Los Hermanos
é ainda mais um "bloco do eu sozinho". Não apresenta músicas
facilmente transformáveis em
hits, não agrada aos fãs que sonham com clones dos sucessos
anteriores, não transmitem mensagens sociopolíticas; tocam pouco rock mas também não fazem
novas apologias ao samba-só há
um samba no disco, o belíssimo
"Fez-se Mar" (Camelo).
No meio da convulsão moral do
país, eles aparecem com um disco
feito na serra (durante o verão)
em que falam de pequenas dores,
delicadezas, naturezas, abstrações. São apenas 12 músicas, todas com títulos curtos, escritos
em minúsculas, como sussurros
em meio à balbúrdia.
Camelo, especialmente, sussurra em suas composições. A exceção é "Horizonte Perdido", que
tem vocação para levantar platéias. Nas outras seis, o canto é
baixo, os arranjos são econômicos, as letras são de vidro.
Exemplos: "Parece que o amor
chegou aí/ Eu não estava lá, mas
eu vi" ("Fez-se Mar"); "Pra nós
todo amor do mundo/ pra eles o
outro lado" ("Morena", uma boa
mistura de reggae com bossa nova); "Como se a alegria recolhesse
a mão/ Pra não me alcançar"
("Sapato Novo", uma canção triste à beça, pontuada pelo vibrafone
de Jota Moraes); "Manda avisar
que esse daqui/ Tem muito mais
amor pra dar" ("É de Lágrima",
jóia singela que fecha o CD).
As cinco composições de Amarante refletem seu temperamento
mais agitado, sua propensão para
ocupar os silêncios mas também
têm um travo melancólico. "Se é
pra eu te verentão deixa eudormir", diz ele, com grafia peculiar,
em "Os Pássaros", uma bela e estranha canção de amor em que os
teclados de Bruno Medina traçam
um vôo onírico, quase evocando
sons progressivos, quase King
Crimson.
É de Amarante "O Vento", a
música que está tocando nas rádios, um dos momentos "rock"
do CD. Ela abre uma espécie de lado B do disco, sucedendo aos dez
segundos de silêncio sobre os
quais a banda prefere não teorizar. "Horizonte Distante" e "Condicional" (Amarante), que vêm a
seguir, completam o bloco mais
movimentado.
O resto do disco é quase silêncio, se for perdoável o quase-clichê shakespeariano. O jeito é ouvir cada vez mais esses silêncios.
Eles ficam cada vez mais bonitos.
(LFV)
4
Los Hermanos
Gravadora: Sony BMG
Quanto: R$ 29, em média
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