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Bebel Gilberto desafia a própria sina
Filha de João Gilberto e Miúcha, cantora radicada em Nova York se prepara para fazer shows no Brasil no fim do ano
"Momento" tem músicas de sua autoria, além de composições de Chico Buarque, de Cole Porter e
do produtor carioca Kassin
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Se há uma cantora que pode
ser considerada uma síntese da
música brasileira atual, ela é
Bebel Gilberto. Primeiro, porque o que há de mais original
em sua música é a tão em voga
fusão de gêneros e estilos. E,
depois, porque ela catalisa uma
produção com ares cosmopolitas que, ao mesmo tempo, se
mantém bastante brasileira.
Longe da popularidade de
Marisa Monte ou Maria Rita, a
cantora firmou carreira no exterior sem perder a brasilidade.
"Tenho aquela sina: será que
a Bebel é uma artista internacional ou brasileira?" E o que
você se considera? "Claro que
sou brasileira!", responde, quase com indignação.
Vivendo há 15 anos em Nova
York, a filha de João Gilberto e
Miúcha acredita que só conseguiu achar seu próprio caminho fora do Brasil.
"Não teria criado o som que
estou desenvolvendo agora se
não fosse o que aprendi aqui.
Foram várias influências, é ligar o rádio, ir numa loja de discos, a shows. Virou um som de
brasileira que se desenvolveu
fora do Brasil, no bom sentido,
claro", disse, em entrevista, por
telefone, de Nova York.
A cantora de 41 anos lançou
em abril, no exterior, "Momento", seu terceiro álbum, que
chega aqui no dia 15.
O disco começou a ser produzido em 2005. "Estávamos ensaiando e o Masa Shimizu, um
japonês que toca comigo há um
tempão e que virou "o" brasileiro da banda, começou a tocar a
introdução de "Momento". Passamos a tarde inteira escrevendo a música'", conta.
Há ainda regravações, como
"Night and Day", de Cole Porter, "Caçada", de Chico Buarque, e "Tranqüilo", que cantou
com a Orquestra Imperial.
Bebel se recupera de um acidente nas ruas de Nova York,
no qual quebrou a perna e rompeu três ligamentos, e, em agosto, recomeça a turnê de lançamento do CD, na Escandinávia.
No fim do ano, ela promete se
apresentar no Brasil.
Será uma rara oportunidade
de vê-la ao vivo -sua última
apresentação brasileira foi em
2005. Mas por que ela faz tão
poucos shows aqui? "Não foram tão poucos", desconversa.
"Só que tenho minha realidade, né? Músicos que são baseados fora do Brasil, que ganham
em dólar, e não tenho a disponibilidade de estar sempre aí",
explica Bebel. "Agora sou a cantora brasileira que mais vende
discos fora do Brasil. E por quê?
Não é porque minha música é
incrível. Ralo para caramba, faço três turnês por ano no mesmo país. Aqui fica mais viável."
Fora essas dificuldades, ela
sente um certo receio da platéia
brasileira. "Medo do público a
gente tem sempre. No Brasil é
diferente, parece que está todo
mundo com uma lente enorme,
esperando o que eu vou dizer.
Às vezes, fico meio grilada."
E há também o peso das origens. "Pesa para sempre. Não
tem jeito. Mas tem que se orgulhar, pensar "que sorte ter uma
família incrível, estar num
meio tão bacana"."
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