São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2008

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Crítica

Masur rege excelente Orquestra Acadêmica

Na Sala São Paulo, concerto marcou o encerramento do Festival de Campos

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

A ovação no final foi estupenda. Fazia justiça não só ao que se tinha ouvido -a "Nona Sinfonia" de Beethoven (1770-1827), tocada com energia pela Orquestra Acadêmica do Festival de Campos do Jordão-, mas às circunstâncias: o último dos 50 concertos do festival, regido pelo diretor da Orquestra Nacional da França, Kurt Masur. Ali se aplaudia não só a música, os músicos, o regente, mas a idéia por trás de tudo isso, e a juventude na frente.
Que a orquestra merecia muitos aplausos, ninguém duvida. Os bolsistas do festival formaram uma excelente orquestra, de padrão internacional. Vale lembrar que só se encontraram há um mês; e dói pensar que agora essa orquestra acabou. Fica a gravação ao vivo, a ser lançada em CD.
Na gravação, será fácil corrigir problemas de afinação; menos fácil acertar pequenos descompassos de conjunto. Nada disso comprometeu a vibração da Sala São Paulo lotada, no domingo encomendado de sol.
O palco mal acomodava a gigantesca fera da orquestra. Também as forças combinadas dos dois coros -Coro da Osesp e Coral Paulistano, sempre muito bons- acumulavam-se ao fundo, esperando o último movimento, toda a energia potencial pronta para virar explosão cinética.
A explosão já se antevê no recitativo dos violoncelos e contrabaixos. Ali a música, sem palavras, chega no limite da palavra, que afinal tem de nascer, como uma necessidade interna. Masur fez os meninos falarem música com eloquência natural. Depois coube ao barítono Stephen Bronk romper a barreira do verbo, abrindo outro espaço do espírito, que ele dividiu com o tenor Fernando Portari, a contralto Adriana Clis e a soprano Rosana Lamosa -um quarteto mágico do canto brasileiro.
Foi bonito ver o maestro Masur, do alto dos seus 81 anos de idade (e 53 de reger a "Nona Sinfonia"), conduzindo a orquestra com a mesma atitude que mantém com as maiores sinfônicas do mundo. Rege com o estômago, rege com o coração e rege com a cabeça. Em muitos pontos -os de maior agitação- fica quase parado, deixando a música seguir seu inapelável curso. A música confia e obedece.
Se valem os sinais externos, tudo indica que passou a crise da anunciada, depois revista, saída do maestro Minczuk como diretor artístico do festival. Tanto melhor: a última coisa que se quer é uma crise que comprometa essa música, esses músicos, a idéia por trás e a juventude por tudo.


Avaliação: ótimo


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