São Paulo, quarta-feira, 29 de julho de 2009 |
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Mordernismo perdido
Vila operária modernista do arquiteto Gregori Warchavchik, no Rio, está ameaçada e ficou de fora dos planos municipais para revitalizar a zona portuária
SILAS MARTÍ ENVIADO ESPECIAL AO RIO Caiu em duplo esquecimento um prédio chave na arquitetura moderna brasileira. Varrida da história, a vila operária construída por Gregori Warchavchik na zona portuária do Rio, nos anos 30, está descaracterizada há mais de 20 anos e ficou de fora dos projetos de reforma que prometem revitalizar a região do cais do porto carioca. Esforços anunciados há pouco pela prefeitura alardeiam o restauro de casas do século 19 na região e de todo o complexo do morro da Conceição, vizinho de dois museus que devem ser construídos por lá até 2011. Mas, perto dali, a única obra de Warchavchik sobrevivente no Rio está ameaçada. Projetada pelo arquiteto que fez a Casa Modernista, em São Paulo, a vila operária no Rio é uma espécie de elo perdido da história da arquitetura brasileira. Marca a transição do primeiro modernismo feito no país, sob forte influência do racionalismo da Bauhaus, às curvas que vieram depois, com Le Corbusier e Oscar Niemeyer. Também é um exemplo de um racionalismo retórico, que marcou a tentativa de ser moderno num país ainda sem industrialização. Embora as esquadrias, a laje e o acabamento pareçam sair de uma linha de montagem, são feitos à mão, imitação da indústria ausente. "É aqui que se dá o clique, a passagem para o moderno brasileiro", resume o curador Paulo Herkenhoff, que visitou a vila com a reportagem. Desde que começou a prestar consultoria para a futura Pinacoteca do Rio, que deve ser instalada num prédio próximo dali, Herkenhoff tem sugerido à prefeitura a inclusão da vila operária nos planos de restauro do porto. Mesmo tombado pelo patrimônio municipal há 23 anos, o complexo, hoje ainda ocupado por moradores, está descaracterizado. Teve as telhas, os revestimentos do teto e das fachadas trocados. Também foram ocupadas as áreas deixadas livres no projeto original. "Essa é a maior descaracterização, a ocupação dos espaços que eram coletivos", diz Otavio Leonídio, arquiteto e professor da PUC-Rio. "Era para ser um espaço vazio, que ventila, ilumina os andares de baixo." É um conjunto de casas mínimas: quatro cômodos que se distribuem em torno de um pequeno quadrado, tendo de um lado cozinha e banheiro e, do outro, sala e quartos. "É a casa proletária", resume Leonídio. Lúcio Costa Embora tenha entrado para a história como obra de Warchavchik, o projeto foi assinado por Lúcio Costa, arquiteto que desenhou o plano urbano de Brasília. Não há dúvida que a vila tem os traços de Warchavchik, mas, como eram sócios à época, Costa pode ter assinado a planta como formalidade. "Isso é mais Warchavchik do que Lúcio Costa", afirma Herkenhoff. "Não consigo imaginar o Costa virando moderno e fazendo esse tipo de projeto." É um dado que abre outro debate. Costa esteve à frente do Iphan por mais de 30 anos, mas nunca tombou a vila de Warchavchik nem as outras duas casas que o arquiteto construiu no Rio, hoje demolidas. "Ele rejeitava esse racionalismo duro, de caráter alemão, funcionalista", diz Leonídio. "Costa chamava isso de modernismo estilizado, ele foi muito duro com o Warchavchik." Acabaram preservados os projetos da vertente francesa, de Le Corbuiser e Niemeyer. "A história da arquitetura escolheu um campo e ficou nele", diz Herkenhoff. "A vila está no gongo para salvar, no ponto." Texto Anterior: Resumo das novelas Próximo Texto: Outro lado: Conjunto não é uma prioridade para prefeitura Índice |
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