São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2010

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Chico revela mágoa com fama de "velho"

Em depoimentos para o documentário "Uma Noite em 67", ícones da MPB revivem as marcas deixadas pelo festival

Edu Lobo liga Tropicália a "roupas diferentes"; Gil diz ter sido levado ao movimento por insistência de Caetano

DE SÃO PAULO

De imediato, o maior impacto do documentário "Uma Noite em 67" está nas imagens de acervo da TV Record -as sequências completas de Chico, Caetano, Gil, Mutantes, Roberto, Sérgio, Edu e Marília defendendo suas canções.
Mas, colocadas em contraponto ao material histórico, são as entrevistas feitas especialmente para o filme -recentes, portanto- as responsáveis pelas grandes revelações sobre os personagens.
"O tropicalismo foi a fase agônica da minha vida musical", conta Gil. Para fazer todos os rompimentos -musicais e até pessoais- necessários à criação do movimento precisou que Caetano o puxasse pelas mãos, ele diz.
Edu Lobo, por sua vez, deixa claro que, 43 anos depois, não mudou muito o modo como entende o tropicalismo. Para ele, toda a revolução liderada por Caetano e Gil a partir daquela noite "girou mais em torno da atitude no palco e das roupas diferentes do que da música".
As tais roupas que Edu cita, usadas sobretudo pelos Mutantes e pelos Beat Boys -as bandas de rock que acompanharam Gil e Caetano em seus números-, foram introduzidas nos festivais a partir daquele ano.
Era praxe, até ali, que artistas se apresentassem na TV vestindo smoking.
Revendo sua aparição naquela noite -de smoking-, Chico Buarque diz que, então, não sabia que aquelas mudanças nos figurinos aconteceriam. Ou melhor: sabia, mas tinha esquecido.
Entre risadas, conta que estava sob efeito de álcool quando Caetano lhe falara, tempos antes da primeira eliminatória, sobre a ideia das roupas. Por isso, não chegou a registrar a informação.
Mas o clima da entrevista sai da anedota quando o autor de "Roda Viva" revela ter se sentido "muito sozinho" naquele período.
Pelo contraste com a estética pop tropicalista, percebeu estar imediatamente identificado como "o velho", "o conservador" -tanto em música quanto em atitude.
"É duro ser chamado de velho, ainda mais quando você tem 23 anos", afirma Chico no filme.
Provocado pelos diretores, Caetano concorda. "Era natural que ele se sentisse assim." Até aquela noite, Chico mantinha o posto de unanimidade nacional e nunca havia encontrado qualquer restrição. Foi a primeira vez.
Na manhã do dia seguinte, nenhum deles seria o mesmo. Nem ele, nem o Brasil. (APS E MP)


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