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Chico revela mágoa com fama de "velho"
Em depoimentos para o documentário "Uma Noite em 67", ícones da MPB revivem as marcas deixadas pelo festival
Edu Lobo liga Tropicália
a "roupas diferentes";
Gil diz ter sido levado ao movimento por
insistência de Caetano
DE SÃO PAULO
De imediato, o maior impacto do documentário
"Uma Noite em 67" está nas
imagens de acervo da TV Record -as sequências completas de Chico, Caetano, Gil,
Mutantes, Roberto, Sérgio,
Edu e Marília defendendo
suas canções.
Mas, colocadas em contraponto ao material histórico,
são as entrevistas feitas especialmente para o filme -recentes, portanto- as responsáveis pelas grandes revelações sobre os personagens.
"O tropicalismo foi a fase
agônica da minha vida musical", conta Gil. Para fazer todos os rompimentos -musicais e até pessoais- necessários à criação do movimento
precisou que Caetano o puxasse pelas mãos, ele diz.
Edu Lobo, por sua vez, deixa claro que, 43 anos depois,
não mudou muito o modo como entende o tropicalismo.
Para ele, toda a revolução liderada por Caetano e Gil a
partir daquela noite "girou
mais em torno da atitude no
palco e das roupas diferentes
do que da música".
As tais roupas que Edu cita, usadas sobretudo pelos
Mutantes e pelos Beat Boys
-as bandas de rock que
acompanharam Gil e Caetano em seus números-, foram introduzidas nos festivais a partir daquele ano.
Era praxe, até ali, que artistas se apresentassem na
TV vestindo smoking.
Revendo sua aparição naquela noite -de smoking-,
Chico Buarque diz que, então, não sabia que aquelas
mudanças nos figurinos
aconteceriam. Ou melhor:
sabia, mas tinha esquecido.
Entre risadas, conta que
estava sob efeito de álcool
quando Caetano lhe falara,
tempos antes da primeira eliminatória, sobre a ideia das
roupas. Por isso, não chegou
a registrar a informação.
Mas o clima da entrevista
sai da anedota quando o autor de "Roda Viva" revela ter
se sentido "muito sozinho"
naquele período.
Pelo contraste com a estética pop tropicalista, percebeu estar imediatamente
identificado como "o velho",
"o conservador" -tanto em
música quanto em atitude.
"É duro ser chamado de
velho, ainda mais quando
você tem 23 anos", afirma
Chico no filme.
Provocado pelos diretores,
Caetano concorda. "Era natural que ele se sentisse assim." Até aquela noite, Chico
mantinha o posto de unanimidade nacional e nunca havia encontrado qualquer restrição. Foi a primeira vez.
Na manhã do dia seguinte,
nenhum deles seria o mesmo. Nem ele, nem o Brasil.
(APS E MP)
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