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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO
Brasil se revela por inteiro nos bastidores do festival
Diretores captam um país entre as marcas da província e as antenas da metrópole
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A última noite do Festival
de Música Popular Brasileira
de 1967 foi um desses raros
momentos que condensam e
catalisam as forças vivas de
toda uma cultura.
Estavam ali não apenas artistas extraordinários em seu
apogeu criativo, mas um caldeirão de elementos díspares
numa rara e irrepetível sinergia: o berimbau e a guitarra
elétrica, a poesia de vanguarda e o ti-ti-ti das revistas de
fofoca, as marcas da província e as antenas da metrópole, o pop e a roça.
Diante desse evento singular, a virtude maior dos diretores Renato Terra e Ricardo
Calil foi a de preservar uma
certa modéstia e um escrupuloso respeito a todos os protagonistas e coadjuvantes da
noite memorável.
O documentário busca
transportar o espectador de
hoje àquele ambiente sem intervir esteticamente, sem interpor interpretações políticas ou sociológicas, sem, em
suma, "perfumar a flor", como diria o poeta João Cabral
de Melo Neto.
Todos os depoentes são
testemunhas presenciais e
todos têm o que dizer. Por vezes ligeiramente contraditórios entre si, esses depoimentos ajudam a iluminar o
acontecimento por vários ângulos e a construir os seus
sentidos.
PROVÍNCIA X MUNDO
Mas o ponto mais forte do
filme são as cenas de bastidores do festival, as entrevistas
antes e depois das apresentações, em que transparece,
nas perguntas dos repórteres
e nas respostas dos artistas
Gilberto Gil, Caetano Veloso,
Mutantes, um alegre descompasso entre uma televisão familiar, provinciana,
herdeira do rádio, e uma música revolucionária, sintonizada com o mundo.
Tudo ali diz muito sobre
uma época: as roupas, os
penteados, a gíria, o humor.
O país se revela inteiro em cada fotograma.
Lamentou-se já a ausência
de uma fala da cantora Marília Medalha, intérprete da
vencedora "Ponteio". Outros
testemunhos poderiam ser
enriquecedores: de Nana
Caymmi, Hermeto Pascoal,
Rita Lee. A lista seria interminável, e o filme também.
Material não falta para outros documentários, para extras de DVD ou para uma série de TV, que talvez seja o
destino mais adequado para
esse tipo de documentário
mais jornalístico do que propriamente cinematográfico.
Mas o filme "Uma Noite
em 67", por sua força compacta e seu caráter de celebração, vai bem, muito bem
na tela grande.
UMA NOITE EM 67
DIREÇÃO Ricardo Calil e
Renato Terra
ONDE estreia amanhã no Frei
Caneca Unibanco Arteplex, Espaço
Unibanco Augusta e circuito
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO bom
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