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SHOW
Produtor, DJ e músico jamaicano de 66 anos se apresenta no Brasil pela primeira vez, no festival Dub Mamute, em SP
"Scratch" Perry exibe cérebro eletrônico
CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL
Para muitos, o jamaicano Lee
"Scratch" Perry, 66, permanece
um gênio sagrado da música, capaz de produzir até hoje maravilhas do gênero que ajudou a criar,
o dub. Para outros, Perry é apenas
um fantoche, lesado por décadas
de consumo pesado de drogas
-uma das lendas diz que na dieta
lisérgica do músico valia até beber
limpador de cabeçotes.
Cabe a você tirar suas conclusões. Pela primeira vez no Brasil,
Perry se apresenta amanhã, sábado e domingo, no Sesc Pompéia,
como estrela do Dub Mamute, ao lado de Mad Professor.
Antes de construir nome como
artista, Perry foi produtor de Bob
Marley & The Wailers. Daí veio
outro título, também polêmico, o
de "pai do reggae". Sua influência
ultrapassou a alçada de Jah, o
Deus rasta, e Perry chegou a produzir faixas para o Clash.
Dezenas de histórias absurdas
fazem parte da mitologia de
Perry. Em entrevista exclusiva à
Folha, ele confirmou algumas,
desconversou sobre outras e disse
que, depois de seus shows, o Brasil vai se transformar em outra nação: "Depois de mim, o país vai se
chamar "Scratchzil'".
Folha - Esta é sua primeira visita
ao Brasil...
Lee "Scratch" Perry - Conhecer
Lee "Scratch" vai ser algo muito
excitante para o povo brasileiro.
As pessoas vão ver um ET de carne e osso no palco, já viu um ET?
Folha - Não. E como é o show, você toca discos ou canta?
Perry - Vai ser mágico, só posso
dizer isso sobre o show.
Folha - Como você ganhou o apelido de "Scratch"?
Perry - É mais do que um apelido. É parte da minha verdade. Conheço o scratch [técnica de manipulação de vinis que produz sons
"arranhados]" desde o começo. O
scratch é formado por sete letras
que representam os sete dias da
semana. Estou indo ao Brasil para
mostrar isso. Depois de mim, o
país vai se chamar "Scratchzil".
Folha - Muitos dizem que o [produtor jamaicano] King Tubby inventou o dub. O que você acha?
Perry - Não sei quem é esse tal de
Tubby [os dois chegaram a gravar
juntos]. Nunca ouvir falar nesse
homem. Não gosto de ladrões
nem de mentirosos. Quem é ladrão ou mentiroso eu digo que
não conheço... Entendeu?
Folha - Sim. O dub começou como
um reggae sem vocais, com ênfase
no baixo e nos efeitos. Ainda é isso?
Perry - O dub é o que eu consigo
fazer com três músicos no palco.
É o que eu vou mostrar aí. O dub
são as batidas do meu coração. O
meu cérebro é o baixo. Isso é dub.
Eu faço o original. O que fazem
hoje na Jamaica é falso. Não tenho
o mesmo sangue dos jamaicanos,
tenho sangue de anjo. É diferente.
Folha - Por que ir morar na Suíça?
Perry - Porque estava ficando
dependente dos meus amigos jamaicanos. Tão viciado nos produtores e nos DJs de lá que já não
sabia mais quem eu era musicalmente. Cansei das mentiras deles.
Por que ficar lá se estava morrendo? Sou alérgico a energia ruim.
Folha - Há um boato que diz que
você tocou fogo no seu estúdio porque o diabo estava ali. É verdade?
Perry - Sim. E não fiz outro porque não quero ajudar a Jamaica.
Eles já me roubaram o suficiente.
Folha - Você é muito ressentido
com o seu país, não?
Perry - É porque eles roubaram
minhas fitas e não sabiam apreciar minha música. Quando comecei a fazer punk reggae, ninguém achou bom na Jamaica.
Quando mostrei esse gênero no
Reino Unido, me acharam Deus.
Nem existia Bob Marley quando
eu apareci. Eu escrevi "Jah Live"
[hit creditado a Marley]. Se ele a
tivesse escrito realmente, Jah não
o teria deixado morrer. Jah vai
voltar, vai voltar.
Folha - Dub é música feita para as
pistas. O que você acha da música
eletrônica feita hoje?
Perry - Adoro música eletrônica.
Meu cérebro é um Yamaha, então
só posso gostar. Os DJs todos querem me conhecer, por causa do
meu cérebro.
Folha - É verdade que você enterrava suas fitas na terra para pegar
energia positiva?
Perry - Claro que sim. Se você dá
para a terra o que é bom, ela te devolve o que é bom. Como você
acha que me tornei produtor?
Adoro fazer experimentações.
DUB MAMUTE. Onde: teatro do Sesc
Pompéia (r. Clélia, 93, Lapa, tel. 0/xx/11/
3871-7700). Quanto: de R$ 10
(estudantes e comerciários) a R$ 20.
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